12.2.10

Intimidar/intimar

Fazer entrar no espírito


      Enquanto Mário Crespo estava no Grémio Literário no lançamento do seu livro A Última Crónica, a sua cadeira na Sic Notícias era ocupada pelo jornalista Miguel Ribeiro. Quando entrevistou João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, perguntou: «Acha que fazem bem os jornalistas não cederem a estas intimidações judiciais?» Referia-se, é claro, à providência cautelar interposta por Rui Pedro Soares, administrador da PT. Um jornalista confundir intimar com intimidar é lamentável. Intimar é tornar ciente com autoridade oficial; notificar. Intimidar é inspirar receio, medo ou temor a; amedrontar. Não há dúvida de que, com uma intimação, se consegue intimidar uma pessoa. Em latim, intĭmo,as,āvi,ātum,are é fazer algo penetrar. Só em sentido figurado é que significa fazer algo (uma ordem) penetrar no espírito de outrem; interpelar; notificar. É disso que estes jornalistas precisam: que alguém lhes faça penetrar na mente a diferença.

[Post 3132]

6 comentários:

Francisco disse...

«Acha que fazem bem os jornalistas não cederem a estas intimidações judiciais?»
Meu caro Helder, desculpe que lhe diga mas está a ser ingénuo. Estou convencidíssimo de que o jornalista não fez confusão nenhuma: ele queria mesmo dizer "intimidações judiciais". Na onda da petição "Todos pela liberdade", tudo o que hoje possa ser feito em nome da lei corre o risco de ser rotulado de "intimidação" aos jornalistas. Mesmo uma intimação judicial, perdão, uma intimidação judicial. Se tem dúvida, leia, por exemplo, o título principal da 1ª página do Público de hoje: "Primeira tentativa em 30 anos de censura prévia a um jornal falhou". Está a ver? Da "intimidação judicial" à "censura prévia" vai um passo, e muito curto. Já agora, que estamos a falar de "censura", compare a ilustração que ocupa toda a faixa esquerda da mesma 1ª página do mesmo Público com a ilustração que ocupa toda a capa do ípsilon. Nota alguma diferença?

Helder Guégués disse...

Não estou a ser ingénuo: os jornalistas são mesmo ignorantes. No campo do Direito então, podia mostrar-lhe um rol. A primeira é logo a confusão entre mandato e mandado. Intimidação e intimação não é uma confusão de ontem. E mais: na Edição da Noite, às 22, o mesmíssimo jornalista ia dizer o mesmo, mas corrigiu a tempo (ter-lhe-ão chamado a atenção pelo auricular?). Convencido?

Francisco disse...

Mais ou menos. Mas estranhei que tivesse deixar clara essa pérola de construção que é: "Acha que fazem bem os jornalistas não cederem..." A forma correcta seria, penso eu, "Acha que fazem bem os jornalistas em não ceder..."
E quanto ao Público, não achou nada estranho?

Helder Guégués disse...

Não é deixar passar, é não querer distrair os leitores com mais de um tema por post. Não, não é um limite mental, mas sempre assim fiz. Ainda não li o Público todo.

Venâncio disse...

Helder,

Que paciência tem que ser a sua, connosco, comentadores!

Helder Guégués disse...

Tem sido um tirocínio lento.