6.1.11

Colchetes

Quem escreveu?


      «Antes dele, o snooker [bilhar] era um jogo sombrio, disputado debaixo de muito fumo e álcool, em clubes nocturnos de qualidade duvidosa» («O polémico ‘Furacão’ que se tornou estrela de ‘snooker’», Rui Marques Simões, Diário de Notícias, 26.07.2010, p. 41).
      Os colchetes são de Rui Marques Simões? Sim? Então foram indevidamente utilizados. E, por outro lado, a explicação não devia dizer que o snooker é uma variedade de bilhar? E o sinuca é uma variedade de snooker, como se lê no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, ou uma variedade de bilhar? Sinuca, como aportuguesamento de snooker, faz lembrar chulipa, aportuguesamento de sleeper, e chumeco, aportuguesamento de shoemaker.

[Post 4281]

5 comentários:

Anónimo disse...

A julgar pela minha rasa pesquisa, eu diria que o termo genérico é mesmo "bilhar"; e que "sinuca" seria uma variedade do jogo de mesa. Se tomarmos o Inglês como referência, veremos que são três os termos usados para designar os jogos: "billiards", "pool", "snooker".
A definição do dicionário Merriam-Webster em linha para "billiards" é esta: "any of several games played on an oblong table by driving small balls against one another or into pockets with a cue; specifically : a game in which one scores by causing a cue ball to hit in succession two object balls — compare pool (origin: Middle French 'billard' billiard cue, billiards, from 'bille' wooden stick, log; First Known Use: 1580)".
Já das definições de "pool", ali referido, duas particularmente nos interessam: "a : a game played on an English billiard table in which each of the players stakes a sum and the winner takes all b : any of various games of billiards played on an oblong table having 6 pockets with usually 15 object balls." Esta primeira claramente derivada da noção de que "pool" também é um simples montante; no caso, de apostas.
E por fim, a definição de "snooker", que diz assim: "a variation of pool played with 15 red balls and 6 variously colored balls (origin unknown; First Known Use: 1889)". A bem dizer, confesso que nunca vi tal jogo com 15 bolas vermelhas e outras coloridas, a despeito de aportuguesarmos o termo para "sinuca". Parece que o fazemos para designar o "pool" ou mesmo qualquer jogo genérico de bilhar (que parece ser qualquer jogo sobre uma mesa, com caçapas, bolas e varas, independentemente das regras adotadas). A datação de "pool" é intermediária, mas pelo óbvio sentido derivado do termo, nem conta para fins de determinar antiguidade.

Anónimo disse...

Eu diria que sinuca é propriamente um abrasileiramento de snooker. Os brasileiros em geral, por força de hábitos prosódicos, têm alguma dificuldade em reproduzir certas sequências consonânticas do inglês, tendendo a dissolvê-las por meio da inserção de uma vogal. Daí os abrasileiramentos do género de esnobe, estresse, estafe e outros que tais. Não é incomum ouvir-se essa prosódia quando um brasileiro fala em inglês, pronunciando por exemplo estríti em vez de street. Um aportuguesamento de snooker no Portugal atual daria porventura senúquer ou snúquer, nunca sinuca.

Nos velhos tempos em que eu jogava bilhar com alguma assiduidade, havia apenas o snooker (com 15 bolas vermelhas, 7 numeradas, e 1 branca), o bilhar livre e o bilhar às três tabelas. Mais tarde, apareceu em Portugal uma modalidade de bilhar a que se chamou nessa altura bilhar/snooker americano, com duas séries de bolas todas numeradas, vulgo as grandes e as pequenas conforme a respetiva numeração, e que era jogado numa mesa de bilhar de dimensões reduzidas relativamente à mesa do snooker tradicional. Atualmente, não sei qual seja a nomenclatura usada entre os bilharistas.

- Alberto Sousa

Anónimo disse...

Bastante pertinente o comentário do Alberto Sousa. Efectivamente, hoje em dia, em Portugal, há a tendância de chamar "snooker" a tudo menos ao verdadeiro snooker. Basta vermos as transmissões dos jogos de "snooker" no Eurosport para nos apercebermos que nem a mesa, nem as bolas, nem as regras são iguais ao que vulgarmente se chama "snooker" cá.

Anónimo disse...

Diga-se porém que sempre foi próprio do aportuguesamento de palavras como «stress» e «snob» o acrescento do «e» inicial, e os Brasileiros, dizendo «estresse» e «esnobe», só estão a seguir o pendor e génio do idioma, ao invés de nós, que nestas e noutras muitas o afrontamos.
Hoje praticamente nos rendemos aos exotismos, mormente às ingresias, que figuram intocáveis e tais quais nos nossos dicionários como empréstimos, o que demonstra (se preciso fosse) à saciedade (e à sociedade) que já carecemos de defesas, digamos, orgânicas e de força para os absorver, transformar e adaptar à índole da língua.
— Montexto

Bic Laranja disse...

Muito pertinente o último comentário de Montexto. Dele ocorre-me a pergunta: e com o ingrazéu "sinuca", não estão os brasileiros a enveredar já também pelo exótico?
Cumpts.