5.4.11

Invencionice lexical

Não precisamos!

      Como temos andado por aqui a comentar escritas herméticas de académicos e palavras inventadas (e algumas desnecessárias), fica bem citar um excerto da crónica de hoje de Vital Moreira no Público: «Por isso, só uma assumida norma de equilíbrio, contenção e self-restraint é que pode resguardar o Presidente da República de suscetivismos reativos ou de excessos emocionais nos seus juízos políticos. Por definição, o “poder moderador” tem de primar pela moderação. O mote da “magistratura ativa” que Cavaco Silva escolheu para este seu segundo mandato não pode subverter o perfil presidencial que a letra da Constituição e a prática constitucional de décadas consolidaram. Cavaco Silva devia escolher outros meios para se destacar na nossa história constitucional» («O poder moderador», Vital Moreira, Público, 5.04.2010, p. 37).
      «Susceptivismos»! (Esqueçam o AO90.) «Susceptibilidade» é demasiado vulgar, corriqueiro. Basta ver que alguns estudantes a usam.

[Post 4655]

6 comentários:

Anónimo disse...

Ainda melhor que «susceptibilidade», «melindre», como, se bem me lembro, já anotou Botelho de Amaral, cuido que ajuntando até que Luís de Sousa usou «vidrento» por «melindroso».
Mas é bem certo: Vital Moreira também não escolheu a qualidade da sua língua para «se destacar» na nossa história e oratória política.
— Montexto

Helder Guégués disse...

«O povo e os escritores dignos hão-de salvar das traições dos quinta-colunistas da linguagem e do estilo estrangeirado a independência da língua de Portugal» (Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Vasco Botelho de Amaral. Porto: Editorial Domingos Barreira, 1947, p. 21). Quando ainda havia povo, havia essa esperança.

Anónimo disse...

Exactamente. Já o disse aqui neste blogue, e quem me conhece bem sabe como estou sempre a repeti-lo: havia o latim, o povo e os clássicos; agora só há os clássicos, cuja leitura se torna assim praticamente imprescindível a quem queira falar e escrever a sua língua com um módico de asseio.
«Écoutez», aconselhava André Gide a Roger Martin du Gard, ambos galardoados com o Nobel, como vos lembrareis, «il faut que je vous dise a vous-même ce que je confiais à la Petite Dame ce matin: vous lisez beaucoup trop de choses modernes, sans valeur; vous devriez vous astreindre à lire chaque jour un grand auteur classique: Montaigne, Goethe, La Bruyère; n'importe lequel. Ça établi une distance avec le quotidien, le passager, ça élargit les points de vue. Je vous assure, vous en retireriez le plus grand profit. [...] Quand après avoir avalé la prose des journaux, je rouvre un Diderot, c’est ça qui me paraît actuel, c’est là que je cherche confirmation de ce qui vaut» (antologia da Folio dos «Cahiers de la Petite Dame», 2006, p. 466).
Ficou dito e bem dito, mas é necessário estar sempre a repetir porque a gente também está sempre a esquecer.
— Montexto

Bic Laranja disse...

Ah! Era de "susceptível"!... - A coisa é reactiva, de feito (faz urticária). A precisar redobradamente de contenção e... auto-contenção.
Cumpts.

Helder Guégués disse...

Autocontenção.

Bic Laranja disse...

Gosto do hífen.
Cumpts.