Mostrar mensagens com a etiqueta Verbo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Verbo. Mostrar todas as mensagens

12.5.11

Verbo «comparar»

Um estranho caso

      Ora vejamos outra frase que sai facilmente, diariamente, da pena dos jornalistas económicos: «Este valor do HSBC compara com as despesas operacionais totais de 37,7 mil milhões de dólares (26,2 mil milhões de euros) no ano passado.» Não haverá confusão com outro verbo intransitivo, como, sei lá, «contrastar»? E não seria melhor escrever que «este valor do HSBC assemelha-se ao das despesas operacionais, etc.»? Ora andai; dizei de vossa justiça.

[Post 4773]

30.4.11

«Seco/secado»

Não valia a pena

      Falava-se de uma semente, e depois dizia-se isto: «É salgada e secada ao sol.» Quatro cabeças, duas sentenças, com a maioria a afirmar que a frase citada está correcta. Que deva ser «salgada» não há dúvida, pois é verbo com um só particípio. Já o verbo «secar» tem dois particípios, secado e seco. Ora, como com os auxiliares ter e haver se utiliza a forma regular (em –ado ou –ido), e com os verbos ser e estar se usa, regra geral, a forma irregular, mais curta, correcto seria «seca», por se subentender ali a forma verbal «é»: «É salgada e [é] seca ao sol.» No dicionário de Morais lê-se, em abono desta interpretação: «Carvão, s. m. Matéria disposta para se acender, e conservar o fogo, ou sejam pedaços de madeira queimada, e apagada; ou a que se tira de minas sulfúreas, dita carvão de pedra; ou de uma espécie de terra pingue feita em talhadinhas, ou tijolinhos, e seca ao sol, a que os estrangeiros chamam turba, os Castelhanos; tourbe os Franceses.»
      A forma «secada» há-de estar ali por atracção: como o outro particípio tem a forma (única, como já vimos) regular, «salgada», este assume-a.


[Post 4734]

22.4.11

Verbo «encher»

Seis cestos cheios de enchidos

      «No século XVII, em Inglaterra, os termómetros eram cheios com brandy em vez de mercúrio.» (Sabia, caro Fernando Ferreira?) Bem, a dúvida está em saber se é «cheios» ou «enchidos». O verbo encher, como muito bem lembrou F. V. Peixoto da Fonseca, só tem um particípio passado — «enchido». «Cheio» é adjectivo. Não sei se é fácil encontrar uma gramática actual que corrobore a afirmação.
      «— Há quem diga que ele não está na cova absolutamente. Que o caixão foi enchido de pedras. Que algum dia ele voltar [sic] de novo» (Ulisses, James Joyce. Tradução de António Houaiss. Lisboa: Difel — Difusão Editorial, 2.ª ed., 1983, p. 114).

[Post 4715]


18.4.11

Verbo «sobressair»

Sem o filtro...

      Até os jornalistas já mordem nos heróis dos tempos modernos: «No filme que promove as novas chuteiras Mercurial Vapor Superfly, o jogador do Real Madrid [Cristiano Ronaldo] ao auto-elogiar-se comete um erro gramatical quando diz: “Este jogador sobressai-se muito”. E também na velha tradição de o bom jogador falar na 3.ª pessoa do singular...» («O protagonista», Paula Brito, «Notícias TV»/Diário de Notícias, 15.04.2011, p. 75).
      Mas é verdade: o verbo sobressair é erroneamente empregado como pronominal. A culpa também é do Dicionário Houaiss, que o regista como pronominal. É como diz Sacconi: o verbo «sobressair» não é pronominal desde o século XII...


Actualização no mesmo dia


      A pronominalização deste verbo pode ser resultado de cruzamento com outros com o mesmo significado, como salientar-se ou destacar-se.


[Post 4701]

7.4.11

Acometer/cometer

Livra!

      Uma das perguntas da entrevista era esta: «Que competências lhe estão acometidas na empresa x? Como chegou aí?» Cometer e acometer, devemos começar por dizer, são parcialmente sinónimos. Parcialmente, atenção. Entre os sentidos vários do verbo cometer (fazer, praticar, perpetrar; acometer, atacar; afrontar; tentar, empreender, intentar), encontramos o de confiar, entregar, encarregar, aqui empregado. Acometer é assaltar, atacar, investir; empreender; invadir moralmente. Um exemplo na obra de Rui Barbosa: «Nunca até então se cometera a um professor de línguas, profano em coisas jurídicas, a redacção de um código civil» (Réplica, n.º 2).


[Post 4666]


25.3.11

«Dignar(-se)»

Resta indignarmo-nos

      Nas «Cartas à Directora» do Público de hoje, podemos ler uma resposta do Centro de Estudos do Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Minho («na qualidade de representante dos alunos de Relações Internacionais desta instituição») a um artigo de 13 do corrente de Maria Filomena Mónica. Eis um excerto dessa carta: «A segunda pergunta é, no mínimo, irónica. E nós respondemos-lhe com outra pergunta: será que a doutora Maria Filomena Mónica se deu ao trabalho de olhar para o conteúdo e para o plano curricular das licenciaturas em Relações Internacionais? Quanto à qualidade dos docentes nem dignamos essa pergunta com uma resposta, por considerarmos que é demasiado desrespeitosa, ainda para mais vinda de alguém que também é docente.»
      Tiveram quase duas semanas para escrever a resposta, mas saiu isto. Nem dignar nem dignificar. Dignar-se é um verbo pronominal, regular, da 1.ª conjugação. Há verbos que guardam a forma reflexa facultativa, como ir-se ou ir, rir-se ou rir, sorrir-se ou sorrir, mas não este. Dignar-se, à semelhança de muitos outros, como abster-se, arrepender-se, ater-se, atrever-se, esforçar-se, queixar-se, etc., trazem preso a si, como disse o gramático Rocha Lima, um pronome reflexivo fossilizado. São, como alguns autores os classificam, verbos pronominais essenciais, por oposição a verbos pronominais acidentais. Terão já reparado que a forma pronominal é utilizada na maior parte dos verbos que indicam sentimentos.
      Esta é também a oportunidade para dizer que antigamente a gutural g não era articulada neste verbo e em vozes como benigno, maligno, etc. (E, por vezes, surgiu mesmo uma variante sem essa consoante, como «malino», ainda hoje usada e dicionarizada.)
      Já agora, as perguntas de Maria Filomena Mónica eram estas: «Os promotores da manifestação de ontem são todos licenciados em Relações Internacionais. Isto habilita-os a quê? Alguém se deu ao trabalho de olhar o conteúdo destes cursos? Os docentes que os regem sabem do que falam? Duvido» («Os mitras, os boys e os betos», Público, 13.03.2011, p. 3).

[Post 4609]


24.3.11

«Pago/pagado»

Sua Excelência o Gosto

      Tem muita razão no que escreve, caro M. L., mas veja o que já Vasco Botelho de Amaral escreveu sobre o assunto: «Devemos fugir às extravagâncias da expressão, ainda que tenhamos por nós a licença da veneranda Gramática.
      Esta ensina que pagado é um particípio regular com legítimo emprego, principalmente com os verbos ter e haver. No entanto, a linguagem tem os maiores imprevistos. E assim é que se está a assistir à preferência por antigas formas participiais, como pago, tinto, escrito, etc., e ao desprezo das regulares, como pagado, tingido, escrevido, etc.
      Tenho aqui a Lírica, de Camões. Abro-a, à pág. 40 (ed. de 1932), e leio: “Um amor tão mal pagado.”
      Hoje, porém, o nosso gosto o que levaria a dizer seria — um amor tão mal pago.
      É que Sua Excelência o Gosto é muito despótico, e, por isso mesmo, inconstante, contraditório.
      E as línguas obedecem-lhe cegamente, no que ele tem de bom e no que tem de mau.
      Camões gostou do pagado. Mas nós agora não gostamos; preferimos pago.
      Não vai nisso nenhum mal ao Mundo nem à língua» (Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português (Porto: Editorial Domingos Barreira, 1947, p. 292).


[Post 4607]

19.3.11

Dize, faze, traze...

Então, gramatize-se!

      «— João! Vê se consegues arranjar carne — um bom pedaço dela — e traze-ma cá!» (A Aventura no Circo, Enid Blyton. Tradução de Vítor Alves. Lisboa: Editora Meridiano, Limitada, 1969, p. 188).
      «Se o uso natural insiste no diz, guardem os gramáticos o dize para a ênfase ou para o... artificialismo. Gramatize-se definitivamente o “diz lá isso”, e não se esqueçam os filólogos de que já no latim a forma dic era vivedoira ao par de dice. O precedente exemplo do latim mostra ser caturrice anacrónica o rigor de só admitir o janota do dize. E quanto ao faz, ao lado de faze, e traz, ao par de traze, requeiro a mesma hospitalidade. O latim também aqui nos ensina a ser razoáveis (fac, face, trac, trace)» (Vasco Botelho de Amaral, Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português. Porto: Editorial Domingos Barreira, 1947, p. 366)


[Post 4585]

7.3.11

«Responder» na voz passiva

Anómalo? Raro? Errado?

      Ribeiro e Castro, ex-eurodeputado, sobre a exclusão do português do sistema comum de registo de patentes: «[…] isso é um direito fundamental de cidadania, como nós sabemos, o direito de nos dirigirmos às instituições da União Europeia e aos seus organismos na nossa própria língua, em qualquer uma das línguas oficiais da União e de sermos respondidos pelos órgãos da administração europeia e pelas instituições europeias também na mesma língua. A nossa ou qualquer das línguas oficiais da União que nós tenhamos usado. Eu tenho o direito de me corresponder em português e ser respondido em português, mas se quiser corresponder-me em finlandês, escrevo em finlandês e sou respondido em finlandês» (Páginas de Português, emissão de ontem).
      O verbo responder admite a construção na voz passiva? Para mim, é novidade.

[Post 4536]

6.3.11

Linguagem

Estágio na primária

      Alberto Gonçalves conseguiu ver a última emissão do programa Prós e Contras, e sobreviveu para nos contar alguns momentos: «Por regra, as criaturas em questão [os jovens convidados] comunicavam através de lugares-comuns do género “O futuro é nosso!”, ou de puros disparates, de que a insistência na palavra (?) “proactividade” era um dos mais irritantes. Não vi os infelizes que, na tese dos Deolinda, estudaram para ser escravos. Vi meninos estragados pelos pais e pelo ensino indigente a reclamar os privilégios que supõem beneficiar as gerações anteriores e que, a julgar pela retórica pedestre, estudaram pouco. Um deles evocou a queda de Mubarak. Outro proclamou solene: “Não ‘deiem’ estágios mal remunerados.” É improvável que lhes ‘deiem’ estágio algum» («Basta de realidade», Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 6.03.2011, p. 71).
      É também a tese de João Pereira Coutinho: esta geração quer a vida que os pais e os avós tiveram, a mesma segurança e certeza. Não há-de é haver divergência sobre a ignorância com que falam e escrevem. «Deiem» existe — mas em catalão: deia, deies, deia, dèiem, dèieu, deien. Logo, em catalão todos dirão, e bem, «dèiem», em português só os ignorantes. E não apenas dizem, senão que escrevem, é ver por essa Internet fora. Da evolução do latim para o português sim, a epêntese, o fenómeno fonético que consiste no acrescentamento de fonema ou sílaba no meio de palavra, foi crucial.

[Post 4527]


4.3.11

«Tratar-se de», mais uma vez

Gente fina, gramática grossa

      Isabel Alçada, ministra da Educação, sobre o chumbo da reforma curricular: «Vamos analisar todas, todas as possibilidades que estiverem ao nosso alcance, nós iremos insistir e reafirmar que se tratam de medidas benéficas, vamos esclarecer as pessoas sobre estas medidas e tomar as decisões que forem necessárias para que no próximo ano o currículo seja um currículo ajustado.»
      Ana Luísa Geraldes, directora do Centro de Estudos Judiciários (CEJ), sobre as duas demissões num mês: «Tratam-se de demissões completamente diferentes.»

[Post 4518]

25.1.11

«Já são meio-dia e meia»?

No relógio da praça


      A minha filha está aqui a ver um DVD com a história do Pinóquio. O velho Gepeto está a afeiçoar uma tábua para construir qualquer objecto e começa a estranhar a demora de Pinóquio. «Hum... Já são meio-dia e meia...» Ora, mas nós dizemos «deu meio-dia». Isto é, diz-se na província, com o relógio da praça a soar. Os mais avisados, escreveu Augusto Moreno, consideram que estas são orações impessoais.

[Post 4360]

4.1.11

Formas verbais

Fonemas epentéticos


      Fiz uma pequena sondagem sobre o presente do conjuntivo dos verbos «crer» e «ler». Se se lembram, um leitor, Montexto, lançou aqui a provocação: «Guiai-vos também por conjugadores de verbos internéticos: todos os que encontrei juram a pés juntos e mui contestes que a 1.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo de verbos ler e crer é leiamos e creiamos. Lindo serviço! Podem assoar-se à parede.» Fui o único a responder desafiando-o a dizer que obras recentes acolhiam as formas verbais «leamos» e «creamos». Não é muito assisado, a meu ver, atribuirmos tudo à ignorância: quer queiramos quer não (e, renitentes, muitas vezes não queremos), a língua evolui. A sondagem, pois. O revisor antibrasileiro foi o único a puxar da gramática de José Maria Relvas (anda sempre com ela na pasta, como um electricista andará sempre munido de um busca-pólos) e a mostrar-me, ufano: «leamos». Uma excepção. Esta gramática é das que não acolhem, como as que foram publicadas mais tarde, as alternâncias das formas de imperativo da 2.ª pessoa do singular diz/dize, faz/faze, traz/traz, etc., mas apenas dize, faze, traze, etc. As mais recentes só registam as formas diz, faz, traz. Tudo ignorância?
      A intercalação de fonemas não etimológicos no interior de vocábulos, por acomodação articulatória, eufonia, analogia ou por outras razões, não é nada de novo, nem na nossa língua nem noutras.

[Post 4270]

2.1.11

Verbos

Olha, outra


      Olívia Santos, no noticiário das 7 da tarde de ontem na Antena 1, fez uma síntese da cerimónia de tomada de posse da nova presidente no Brasil, com excertos intercalados do discurso («Meus queridos brasileiros e brasileiras […]. A partir desse momento, sou a presidenta de todos os Brasileiros». O Jornal do Brasil transcreveu de forma infiel e normalizadora: «A partir deste momento, sou a presidente de todos os brasileiros»). E foi dizendo que a nova presidente «fez honras ao seu antecessor», «reconheceu até onde Lula levou o Brasil», «arrancou para a apresentação de um verdadeiro programa de governo», «num tom sempre determinado», e por aí fora. E depois: «Já quase no final, a força virou emoção, a voz embargou e Dilma chorou.» Salvo melhor opinião, o verbo embargar, na acepção em que foi usado (tornar-se a voz pouco clara), é pronominal e não transitivo directo. Logo, deveria ter dito «a voz embargou-se-lhe». Também podemos, isso sim, embargar a voz (ou o pranto), isto é, reprimi-la, contê-la. Na obra de Herculano Eurico, o Presbítero, lemos: «A ventura embargava-lhe a voz.» Neste exemplo, e noutros da mesma obra (a Lua embarga com o seu clarão pálido o cintilar das estrelas; o Agareno vê coriscar em alto o franquisque e logo o sente embargar-lhe o último grito na garganta; uma convulsão horrível de pavor embarga na garganta os sons articulados; alguém procura abrir os fortes cancelos que lhe embargam os passos, etc.), é transitivo directo.

[Post 4265]

30.12.10

«Tratar-se de», novamente

Do editor


      A propósito de apóstrofo: hoje mostraram-me a «Nota do Editor» ao livro Uma Dor Silenciosa, de Francisco Guerra (Lisboa: Livros d’Hoje, 2010. Revisão de Lídia Freitas). Eis um excerto da página 7: «Tratam-se de nomes dos presumíveis abusadores e de algumas das pessoas envolvidas na falada rede pedófila.» Ainda um dia será norma... Mais um excertozinho, tenham paciência: «Este livro traz-nos uma versão dos acontecimentos que levaram à origem do processo “Casa Pia”. Uma versão relatada por Francisco Guerra, considerado pela Polícia Judiciária e pelo Ministério Público, uma das principais testemunhas do processo» (idem, ibidem).

[Post 4252]

20.12.10

Verbo «morar»

Uso e desuso


      «O Google Earth permite-me ir espreitar a mangueira que ainda dá sombra àquela rua luandense que deixei de morar há 40 anos, e o Street View mostra-me, como só por mim não imaginaria, o que são os 40 centímetros de neve que a minha filha me disse cobrirem a sua cidade — uma e outra, essas invenções do Google têm gente dentro» («O Google Body e o meu voto», Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 20.12.2010, p. 52).
      Não quereria Ferreira Fernandes escrever «rua luandense em que deixei de morar»? Claro que não. Apesar de invulgar, esta construção do verbo morar como transitivo pode ler-se, por exemplo, em Herculano: «Doou D. João I, também, as casas que o mestre morava.» Todavia, é uma regência desusada actualmente.

[Post 4206]

15.12.10

Sobre «descontinuar»

Nem eles sabem


      «Em causa, ao que apurou o DN, estará o escoamento dos stocks de computadores que as operadoras das redes móveis ainda tinham disponíveis para estes escalões e a relutância das mesmas em avançar com novos portáteis antes de verem garantido o financiamento dos mesmos. A Vodafone confirmou mesmo ter descontinuado o e.escolas, mas para todos os alunos» («Operadoras deixam de dar portáteis para o e.escolas», Pedro Sousa Tavares, Diário de Notícias, 11.06.2010, p. 19).
      São sobretudo burocratas e certos empresários que usam o verbo descontinuar, claramente português, e de boa cepa. Contudo, vindo de quem vem, parece que deve mais à influência do inglês to discontinue, com as mesmas acepções. O que interessa é o resultado?

Actualização no mesmo dia

Vejam no portal do programa e.escolas o vídeo de apresentação. «Eu também acho», afirma José Sócrates, num tom grandiloquente, «que a sorte vem sempre quer da audácia, quer do esforço, mas quero desejar a todos aqueles que estão envolvidos e profundamente envolvidos neste programa a maior sorte do mundo. Porque os resultados deste programa são também convidativos a que hajam novos programas.» Para não haver dúvidas, está também transcrito.

[Post 4193]

8.12.10

Bíblia e tradução

Entre nós


      Também embirro (mas não digam a ninguém) com Revelation traduzido por... Revelação. Na nossa tradição, o último livro da Bíblia é o Apocalipse. É, bem sei, o mesmo, pois «apocalipse» é um termo grego que significa precisamente «revelação».
      Mera divagação, queria falar de outra questão. Lembram-se do que aqui disse sobre o verbo inverter? Vejam este título do Diário de Notícias: «Passos diz que vai demorar duas legislaturas para inverter os erros». Contudo, a afirmação de Pedro Passos Coelho que justificou o título é esta, reproduzida no mesmo artigo: «Corrigir os últimos anos de inconsciência vai demorar vários anos de dificuldades e até penúria» (Paula Carmo, Diário de Notícias, 29.11.2010, p. 9). Então, sendo assim, melhor teria sido titular: «Passos diz que vai demorar duas legislaturas para corrigir os erros». Isso de «inverter» os erros, próprios ou alheios, parece-me coisa impossível — e malissimamente escrita.

[Post 4172]

29.11.10

«Casar»

O povo e Camilo


      Então, digam-me lá: qual das duas frases acham que Camilo escreveu — a 1 ou a 2?
      1. «— Não case contra vontade de seu pai... Tenha pena dele, que está tão acabadinho...»;
      2. «— Não se case contra vontade de seu pai... Tenha pena dele, que está tão acabadinho...»
      Claro que quem tiver à mão o 1.º volume das Novelas do Minho de Camilo Castelo Branco, e pode ser a edição que tenho vindo a citar (com fixação do texto e nota preliminar pela Dr.ª Maria Helena Mira Mateus. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1971), saberá a resposta.

[Post 4141]

25.11.10

Particípios duplos

Lá acertam


      Às vezes, acertam: «Mais tarde, alguns manifestantes conseguiram subir ao telhado de um prédio adjacente, levando à intervenção da polícia, mas só ao final da tarde é que foram dispersos os manifestantes» («Estudantes atacam sede de conservadores», Abel Coelho de Morais, Diário de Notícias, 11.11.2010, p. 25). «O governo de Marrocos está a controlar o acesso de jornalistas ao país, tendoexpulsado do território diversos profissionais» («Jornalistas expulsos», S. P., Correio da Manhã, 13.11.2010, p. 43).

[Post 4125]