17.2.11

Como se escreve nos jornais

Caça à baleia

      No âmbito da moratória à caça à baleia, decidida na década de 1980 pela Comissão Baleeira Internacional (CBI), o Japão beneficia de uma excepção. Lê-se num artigo da edição de hoje do Diário de Notícias: «Outro meio de contornar a moratória é a declaração de objecção, que o Japão também professa» («Baleeiro japonês regressa a casa», Filomena Naves, Diário de Notícias, 17.02.2011, p. 32).
      As declarações fazem-se ou professam-se? Uma das primeiras acepções de professar, reconhecer ou confessar publicamente, não se adequa ao contexto. Nem nenhuma das outras cinco ou seis que, como verbo transitivo, professar tem. Podia alguém porfiar em que a acepção exercer, praticar se aplica com propriedade. Não me parece. Redacção alternativa, que recomendo mesmo a jornalistas professos: «Outro meio de contornar a moratória é a declaração de objecção, a que o Japão também recorreu.»
      (Relacionado com baleias, neste blogue, ver: 1, 2, 3, 4, 5.)


[Post 4448]

7 comentários:

Anónimo disse...

Certo. É sempre a moderna confusão e aproximação remota.
Ainda que neste caso não me parecesse de todo mal que se dissesse por ex: «a declaração de objecção, de que o Japão também faz uso», ou «exercita», no sentido de que também se exercita o poder, a autoridade, a paciência, «os seus direitos» (cf., por uma vez, Dic. da Acad. das Ciênc. de Lx).
- Montexto

Paulo Araujo disse...

O Japão beneficia-se, não ficaria melhor?

Anónimo disse...

Estou com o Paulo. Também vejo muito "deparar com" e "como você chama"? Para mim, todos são pronominais.

Anónimo disse...

Que raio terá que ver «deparar com» e «como você chama» e os «pronominais» com a construção da frase «a declaração de objecção, que o Japão também professa»?
- Mont.

Paulo Araujo disse...

Nada tem a ver, apenas chamou-me à atenção o que me pareceu ser uma outra impropriedade no texto; sem intenção de criticar.

Anónimo disse...

Meu caro Montexto, releia meu comento com mais cuidado: estava a falar do "beneficia-se" trazido à baila pelo Paulo Araujo, e foi nessa esteira que trouxe outros exemplos. Nada tem a ver com o "professar" criticado pelo Helder.

Anónimo disse...

Pois bem, então ocorre-me o seguinte, sem prejuízo de melhor consulta:
• da correcção de «beneficiar de», em princípio, não duvidaria. «Gozar das vantagens; tirar benefício. = usufruir. Os presos beneficiaram da amnistia presidencial», lê-se no Dic. da Acad. das Ciênc. de Lx, 2001. Claro que, só por aqui, ficaria sujeito a caução...
• «Deparar com» e «deparar-se com», suposto que não as recomende, estão registadas também naquele dicionário, e «deparar», transitivo, ex: «caminhando pela rua, deparou o amigo», no Aulete Dig.
Mas a regência original é «deparar-se a»; utilizando o mesmo ex.: «caminhando pela rua, deparou-se-lhe o amigo».
Esta construção também consta dos citados dicionários, e o caso está estudado, se não me falha a memória, por Botelho de Amaral. A regência «deparar com» virá de confusão ou contaminação de «encontrar com»...
• «Como você chama», no sentido de «como você se chama», ou «como se chama você», ainda bem que nunca ouvi; é de condenar liminarmente, sem apelo nem agravo.
— Montexto