23.3.11

Tradução: «mudroom»

Levantados da lama

      «Átrio e vestíbulo são nobilíssimos termos de arquitectura romana, mas deixaram de servir casas ricas. Estas agora não se contentam com menos do que ter um hall — que é a mesma coisa que átrio, e até pode ser menos, porque a expressão francesa les halles vem de idêntica origem e significa pouco mais ou menos o mesmo que a nossa Praça da Figueira. No entanto, o dono da casa que tem hall mostra-nos o hall com tanto orgulho, e aspira com tanta fôrça o h do hall, que até faz vento e a gente espirra e se constipa» («Esquisitices da nossa fala», in Língua e Má Língua. Lisboa: Livraria Bertrand, 1944, p. 214).
      Mais uma vez aqui foco esta questão, pois há sempre novos tradutores a chegar. Serve ainda de pretexto para referir que ontem vi a palavra «mudroom» traduzida por «vestíbulo». Grande coisa, dizem? É que já a vira traduzida, num livro brasileiro, por «sala de lama»...


[Post 4601]

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu acrescentaria só, primeiro, que as esquisitices não são tanto da nossa língua como da abdicação e psitacismo franduno dos seus falantes; segundo, que o revisor antibrasileiro deve andar a dormir: já não se pode contar com ninguém.
— Montexto

Afonso Loureiro disse...

As traduções brasileiras "de ouvido" originam muitos casos curiosos como, por exemplo, a tradução do livro Ulisses, de James Joyce, na sua edição brasileira mais afamada é de leitura e compreensão impossíveis, embora, admito, a abordagem fonética dos casos mais bicudos preserve a sonoridade do inglês (mesmo que à custa do significado).

E garanto que já vi traduzir "marquee" como marquise.

Anónimo disse...

Quanto ao Ulisses, dizem que a coisa já no próprio original é impossível, e retorcida adrede e por acinte, moto-próprio e alta recreação pessoal do autor e críticos da especialidade e ramo. Pelos modos, tão bem urdida foi a maranha, que os tais ainda agora estão a desenredá-la. Suspeita-se, porém, que fazem como Penélope, — a sabendas ou inscientemente, isso é que ainda se não liquidou.
Dizem — digo — porque eu já sabeis que não frequento os moderníssimos, e muito menos a fonte deles todos. Vivo com os antigos.
— Mont.