29.9.06

Plural de lugar-tenente

Realmente…

«But I did not have a fearsome mace in my hands, and two of my lieutenants pinning Vassos to the wall.» Traduzir de forma incontroversa? Só para espanhol. «Pero yo no tenía una maza terrorífica en las manos ni a dos de mis lugartenientes incrustando a Vassos en la pared.» Para português: o tradutor A, munido do Dicionário da Academia, afiança que é: «Mas não tinha uma maça nas minhas mãos, nem dois dos meus lugar-tenentes a bloquear Vassos contra a parede.» O tradutor B, com o Dicionário Aurélio nas mãos, fá-lo aproximadamente da mesma forma, e sobretudo faz fé no plural do vocábulo «lugar-tenente» que vê registado neste dicionário: lugar-tenentes. A maioria dos dicionários e prontuários guarda um silêncio prudente (ou displicente) sobre a questão, pelo que do tradutor C ao tradutor X tudo é feito com muita fé nesse silêncio e alguma no revisor. Chega o tradutor Z, possuidor do Dicionário Houaiss, e escreve: «Mas não tinha uma clava nas minhas mãos nem dois dos meus lugares-tenentes a cravar Vassos contra a parede.» Quem tem razão? Atendendo à etimologia — locum tenens —, diria que é quem opta pelo plural «lugar-tenente». Todavia, face às regras, de resto também controversas, do plural dos nomes compostos, parece ser «lugares-tenentes», pois que estamos perante dois substantivos e claramente não se trata de uma excepção (como os casos em que a segunda palavra denota uma ideia de fim, função ou semelhança, de que já aqui falei), e aí temos o plural de lugar-comum: lugares-comuns. Em que é que estes lugares, de resto pouco amenos, diferem entre si? Por fim: na verdade, há uma forma incontroversa de traduzirmos lieutenants, que é locotenentes. Só com ela podemos enfrentar a simplicidade do espanhol.

28.9.06

Léxico: murco

Bons genes


      Os mancebos romanos que não queriam cumprir o serviço militar obrigatório — algo mais longo do que alguma vez foi em Portugal, mesmo em tempos da guerra colonial —, e não seriam poucos, decepavam o dedo polegar. Para estes mancebos, que não seriam, aposto, vistos com bons olhos pelos demais cidadãos nem considerados heróis, havia uma designação: murcos. Termo que, por extensão de sentido, passou a designar qualquer cobarde. Curiosamente, é a este comportamento que se deve também a origem do nosso termo poltrão (e do francês poltron, com o mesmo significado, tal como do italiano poltrone), hoje em dia pouco usado, que provém de pollice trunco (pólex truncado, ou, num português mais moderno, polegar truncado, cortado). Não é impossível que o nosso morcão tenha aqui o seu étimo, mas disso falarei noutro dia.

27.9.06

Ortografia: bel-prazer

Belo serviço…

Esta noite sonhei que toda a gente sabia escrever correctamente a palavra «bel-prazer». Sonhos… A verdade é que, já acordado, me contentava se todos os tradutores a soubessem escrever. Modesto, nem me importo que eles não saibam que «bel» é a forma apocopada de «belo» — mas que ainda assim o escrevam e saibam que é uma palavra composta. Escreverem uma vida inteira «a seu belo prazer» não abona nada a favor da sua cultura. E assim, sem tir-te nem guar-te, o que era sonho poderá tornar-se realidade.

26.9.06

Género de sentinela


Alerta!


      Desta vez não se trata das legendas de qualquer filme, matéria inesgotável, mas tão-somente do título. Não tinha, quem o traduziu, pensar-se-ia, muito por onde errar. E, no entanto, errou. O vocábulo «sentinela» não é um nome comum de dois, como, por exemplo, artista (o artista/a artista; o jornalista/a jornalista; o jurista/a jurista; o turista/a turista…), mas sim sobrecomum, como a criança, o cônjuge, o indivíduo, a testemunha, etc. Logo, correctamente seria «A Sentinela», pois é do género feminino. Se, por algum preconceito inominável, o responsável pela tradução queria um sinónimo do género masculino, tinha esculca. É um erro muito comum, em especial nas traduções.

25.9.06

Tradução: «stepping-stone»

Imagem: http://www.amblesideprimary.com/

De um lado para o outro



      A leitora Isabel Martins pergunta-me como traduzir a palavra inglesa «stepping-stone» (A stone to raise the feet above the surface of water or mud in walking). Nada mais simples: alpondras. Ou pondras: pedras colocadas de margem a margem numa ribeira, riacho ou lameiro, para dar passagem a pé enxuto. As alpondras estão sempre num vau, isto é, num trecho pouco fundo da corrente. Camilo nas Novelas do Minho: «Ao repontar da manhã, atravessámos o Vizela por umas alpondras sobre as quais se encurvam hoje os arcos da Ponte Nova» («Gracejos que matam», prefácio e fixação de texto de J. Cândido Martins, Edições Caixotim, 1.ª ed., 2006, p. 51).

Actualização em 2.5.2010


      Por vezes, vê-se em traduções: «E embora no mundo da carne tivesse falhado, no mundo das mentes voei, talvez não como um pássaro voa, mas como um homem a avançar rapidamente por cima de uma infinidade de alpondras, cada nova pedra fornecendo uma plataforma da qual saltar para muitas outras» (O Fim do Senhor Y, Scarlett Thomas. Tradução de Inês Castro e revisão de Duarte Camacho. Lisboa: Círculo de Leitores, 2008, p. 144).



22.9.06

Farmacopeia antiga

Rua Marechal Saldanha, 1, 1249-069 Lisboa

Na botica



      Ainda não tive oportunidade de visitar o Museu da Farmácia, o que é pena, pois sempre tive um grande fascínio por aqueles boiões de vidro coalhado (alguns da Real Fábrica de Coina, sei agora) e de porcelana branca e azul, almofarizes, etc. Tanto mais que lhe foi atribuído o prémio de Melhor Museu Português 1996\97\98 e Melhor Projecto Farmacêutico 99. Entretanto, aqui ficam alguns termos da farmacopeia antiga.


Diacímino m. Velha droga citada nas farmacopeias e cuja base eram os cominhos.
Diagrídio m. Nome que se dava à escamónea nas antigas farmacopeias.
Duela f. Peso antigo das farmácias, equivalente a um terço da onça.
Egozeron m. Farinha de alforvas, nos velhos livros de Farmácia.
Encardia f. Segundo as velhas farmacopeias, era determinada pedra em que se via uma figura de coração e que tinha aplicação terapêutica.
Forsina f. Designação dada na Farmácia antiga ao excremento das pombas.
Galen f. Na antiga Farmácia chamava-se assim à carne de raposa, seca.
Gali m. Farm. Ant. Antiga designação do anil.
Gecazum m. Nome dado nos velhos livros de terapêutica à rã.
Lirino adj. Ant. Dizia-se de certo unguento feito com folhas de lírio.
Orviatão m. Farm. Ant. Medicamento eficaz para todas as espécies de dores de barriga.
Petálio m. Na farmacopeia antiga, unguento de folhas de nardo.
Rasina f. Ant. Pez que se reduzia a pó e se empregava em Farmácia.

21.9.06

Constar

Não me consta

A revista VIP decidiu auscultar «O último suspiro dos Beatles» (texto de José Carlos Cruz, VIP n.º 479, 20.09.2006). «O mais multifacetado músico [George Harrison] da banda (consta-se que tocava mais de 20 instrumentos) assinou apenas uma música neste álbum: Here Comes The Sun, composta num lindo dia de sol, como confessou o músico.» Há-de ser tudo verdade, mas o certo é que o verbo constar não é reflexivo, nem eu tenho a culpa disso. É em vão que consultamos a melhor obra no género — o Dicionário de Verbos e Regimes, de Francisco Fernandes — em busca da forma reflexiva deste verbo. Há-de ser confusão.

Ratisbona

Coisa de brichotes

Qual Regensburg, qual quê! Leia-se Vasco Graça Moura: «Quem se tenha dado ao trabalho de ler o texto da intervenção do Papa Bento XVI na Universidade de Ratisbona, sabe que as suas palavras, no tocante ao ponto que recentemente se tornou tão controverso, foram as seguintes: […]» («O terrorismo do alvoroço hipócrita», Diário de Notícias, 20.09.2006, p. 8). Se há vocábulo correspondente em português, não temos de usar os topónimos na sua ortografia e pronúncia estrangeiras. No caso, «Ratisbona» vem do francês «Ratisbone», é bem verdade, mas está conforme com a nossa língua.

20.9.06

Café-concerto

Alto e pára o baile!

«O chá dançante regressa hoje ao Café Concerto do Teatro Municipal da Guarda» («Guarda. Danças tradicionais agitam chá dançante», Diário de Notícias, 20.09.06, p. 34). É para maiores de 50 anos, pelo que vou ter de esperar ainda uns bons anos. Deo gratias! Por infausto acaso, para o jornalista (ou será para nós, leitores pagantes?), tanto «chá-dançante» como «café-concerto» se escrevem como acabei de fazer, com hífen. São palavras compostas. A única diferença é que o plural da primeira é «chás-dançantes» e o da segunda, «cafés-concerto», isto porque o segundo elemento («concerto») denota uma ideia de fim, determinando o primeiro. Outros exemplos semelhantes a «café-concerto»:
  • carro-patrulha/carros-patrulha;
  • contrato-programa/contratos-programa;
  • data-limite/datas-limite;
  • escola-modelo/escolas-modelo;
  • Estado-nação/Estados-nação;
  • Estado-vassalo/Estados-vassalo;
  • máquina-ferramenta/máquinas-ferramenta;
  • navio-patrulha/navios-patrulha;
  • palavra-chave/palavras-chave

Regência do verbo precisar

Está certo no Brasil

«Não precisa correr para garantir chegada a Castro Verde a horas de visitar o Tesouro da Basílica Real, sendo que Beja (a menos de 30 quilómetros pelo IP2) pode ser o local ideal para pernoitar» («À descoberta de tesouros alentejanos», Roberto Dores, Diário de Notícias, 20.09.2006, p. 34). O verbo precisar, pelo menos em Portugal, é regido da preposição de: «preciso de comer», «preciso de bons dicionários», etc. No Brasil, é comum e tida como correcta a forma não preposicionada. Como o Diário de Notícias se publica somente em Portugal, deve ater-se — e dar formação aos seus jornalistas que aborde estes aspectos — às normas vigentes.

Uso do hífen

Diferenças

«Quatro mortos, nenhum dos quais americano, são o saldo negro no já de si sinistro quadro do Médio-Oriente» («A semana que passa…», Expresso, 16.09.2006, p. 6). Esta fúria hifenizadora influenciou outras publicações, mas não, pelo menos no que diz respeito a esta locução, o rival («Este semanário não oferece brindes nem faz promoções») Sol: «A diplomacia regressou ao Médio Oriente pela força» («Obrigados a negociar», Carlos Ferreira Madeira, Sol, 16.09.2006, p. 32).

19.9.06

Extra/extras

Concordem

      «Ministro proíbe gastos extras às direcções dos hospitais» (Público, 20.08.2006, p. 26). «3000 vagas extra geram polémica e levam sindicatos a pedir repetição de concursos» (Pedro Sousa Tavares, Diário de Notícias, 17.09.2006, p. 19). Já aqui tinha referido este erro relativamente comum. Ora, como adjectivo que é, «extra» tem de concordar com o substantivo que qualifica: «3000 vagas extras». Se tiverem dúvidas, façam como acabaram por fazer no corpo desta última notícia: «3000 vagas adicionais».

18.9.06

Erros

Nada de novo debaixo do Sol

Pelo menos no que respeita ao aspecto que aqui interessa, a língua. Erros ortográficos («precaridade», «contra-proposta», «bem disposto», «TV’s», «dona-de-casa»,«transsexual», «contra-golpes», «tromba de água», «horário-nobre», «semi-públicos», etc.), falta de critério («1 500 escolas», «2.749 vítimas»; «Pennsylvania», «Pensilvânia»), critério errado («SIC estreia novela ousada», «Um pouco de Portugal na NBC», «TVI à frente em Setembro»)… Contudo, em termos sintácticos não há nada de especial a assinalar. No que já li, nunca falta clareza nem lógica na exposição das ideias, o que é dizer muito. Em suma, e apesar do que fica acima, o semanário Sol é citável, o que não se pode dizer de todos os jornais.

15.9.06

Concordância

Quem vive

Segundo o Diário de Notícias, «22 mil é o número aproximado de habitantes que vive na Alta de Lisboa. O projecto para o Alto do Lumiar espera alojar 65 mil pessoas até 2015» («Projecto Alta de Lisboa ainda não atingiu objectivo de integração social», Filipe Feio, 5.09.2006, p. 30). Não parece que venha a ser nenhum paraíso, mas para o caso o que me interessa é se o verbo «viver» fica no singular ou no plural. Serão os números que lá vivem ou os habitantes? O relativo «que», na verdade, refere-se a «habitantes», pelo que o verbo «viver» deverá estar no plural. A oração relativa é um complemento frásico de «habitantes», o que exige que se pluralize o verbo.

14.9.06

Asiatismos. Índia e Ceilão.

Abcari m. Sistema tributário para bebidas espirituosas, adoptado na Índia Portuguesa (Tratado anglo-português de 1878).
Achou m. (do hindustani). Espécie de madeira da Índia; o m. q. achourou.
Adar m. (do guzerate-sânscrito adhara). Local destinado a viveiro ou sementeira de bate ou arroz em Damão.
Adigar m. (do tâmul-malaio adhigari). Aquele que possui autoridade.│Chefe de aldeia, no Sul da Índia.
Adoleia f. Medida de capacidade para secos, usada na Índia, e que, segundo as províncias, varia de 1,78 a 2,98 litros.
Adoli m. (do hindustani adholi). Planta do Malabar, cujas folhas rasuradas e fervidas em azeite dão um linimento empregado para facilitar o parto.
Adolim m. (do marata adholi). Medida de capacidade, equivalente a duas ceiras, ao norte de Goa.
Advó adj. Diz-se dos brâmanes inferiores, que têm na testa um traço no sentido horizontal.
Agarbate m. (do marata agarbatti). Pivete de águila, cânfora e outras substâncias resinosas, usado em festividades por indígenas na Índia.
Albetoça m. Barco indiano, com coberta.
Alcide m. Escaravelho da Índia.
Amerita f. (do sânscrito amrta). Ambrósio da imortalidade, na mitologia bramânica.
Aná m. (do hindustani ana). Moeda indiana pertencente ao sistema monetário muçulmano e equivalente à décima sexta parte da rupia.
Apsará f. (do sânscrito apsara). Deusa de categoria inferior, na mitologia indiana.
Aptaguir m. Grande sombreiro, espécie de pálio, usado nas procissões indianas.
Apuame m. (do cingalês appuhami). Tratamento honorífico de funcionários superiores do Ceilão.
Ará m. (do bengali adha). Em Damão, medida usada para secos, igual a duas mãos.
Arache m. (do cingalês arachchi). Em Ceilão, capitão de exército indígena.
Aracinape f. Espécie de laranja da Índia.
Arado m. (do hindustânico harátar). Em Damão, nome de certa medida agrária.
Aramo m. (do marata arama). Em Damão, horta, jardim.
Arana f. O terceiro estado na prática da ioga.
Arapatão m. Ervilha da Índia.
Argala f. Espécie de cegonha da Índia.
Ária adj. 2 gén. (do sânscrito arya). Relativo ou pertencente aos Árias.
Ária m. Indivíduo de alguma das três primeiras classes dos Hindus.
Aricá m. Moeda de cobre que corria em Damão.
Azaveres m. Nome do aloés em algumas partes das Índias Orientais.
Bador m. O m. q. bádur.
Bádur m. Chefe indígena dependente do Estado da ex-Índia Portuguesa.
Bagançal m. Lojas, armazéns de fazenda, na ex-Índia Portuguesa.
Bageri m. (do hindustani). Legume indiano.
Bagibabo m. (do sânscrito bhaji + árabe bha). Direitos sobre o mel, a cera, os tabacos, etc., nas alfândegas da Índia.
Baguiá m. Em Ceilão, partidário, sectário.
Baicuri m. Enfeites que os Hindus trazem nos cotovelos.
Balchão m. (do mal. balachan). Na Índia, acepipe de camarão, de especiarias picantes, etc.
Bandar m. (do cingalês bandara). Título de príncipe ou de filho de nobre, no Ceilão.
Bandarim m. (do marata bhandari). Homem que se encarrega de extrair a sura às palmeiras; o m. q. sudra.
Bandim m. Na Índia, porção ou quinhão de terreno de várzeas que cabe em distribuição a cada cultivador.
Bando m. O valado da várzea, na ex-Índia Portuguesa.│Escaravelho, na ex-Índia Portuguesa.
Barchim m. Azagaia indiana.
Bárico adj. Diz-se, na ex-Índia Portuguesa, do coco doce.│Idem de certa jaca.
Barute m. Medida indiana para pesar pimenta.
Basim m. Na antiga Índia Portuguesa, prato.
Batagrama f. Nome primitivo da extinta província de Bicholim, antiga Índia Portuguesa.
Bataló m. Hindu poluído por comer com pessoas de outra casta ou comer coisas proibidas.
Batelas f. Casta da antiga Índia Portuguesa.
Bati m. Alambique indiano.
Batiá f. (do marata bhathziá). Negociante indiano, estabelecido na África Oriental.
Bavá m. Indiano, geralmente da casta dos suaras, que vive insulado da família e se entrega a penitências.
Bebinca f. Nome de duas variedades de doces, na ex-Índia Portuguesa.
Belada m. (do tâmul belalar). Indivíduo pertencente à casta agrícola, no Sul da Índia.
Belichaparo m. Designação do sacerdote possesso, na antiga Índia Portuguesa.
Bendara ou bendará m. Governador de estado, na Índia.
Bendó m. Nome que na antiga Índia Portuguesa dão ao quiabo, planta hortense.
Bengaçal f. Casa de residência na Índia.
Berbaia f. (do cingalês beravaya). Tocador de bombo ou de atabales, na ilha de Ceilão.
Bibi f. (do hindustânico bibi). Senhora ou princesa muçulmana, no Oriente.
Bibió m. Tigre de grande corpulência do Indostão.
Bonchrone m. Pastagem em lugar inculto, na ex-Índia Portuguesa.
Bondara f. Na Índia, certa árvore litrácea.
Bongui 2 gén. Na ex-Índia Portuguesa, indivíduo de casta inferior.
Bonvoro m. Nome que dão na ex-Índia Portuguesa a certo insecto que ataca as árvores.
Bor m. Nome que dão na ex-Índia Portuguesa a uma espécie de açofeifeira.
Boto m. Sacerdote indiano.
Bouço m. Associação forçada dos arrendatários das casanas, nas comunidades indianas.
Brigalim m. (do marata varghandi). Pano em que se envolvem os hindus da cintura para baixo.
Calachurro m. Punhal cingalês.
Caladari m. Pano de algodão, com listas pretas e vermelhas, procedente da Índia.
Calaim m. Estanho indiano, mais fino que o europeu.
Calajar m. Árvore indiana.
Calanja f. Peso de cerca de quatro quilos, que se usava antigamente em Ceilão.
Camol m. Planta ninfeácea da Índia, o m. q. camalássana.
Canaca ou canácar m. Artífice da antiga Índia Portuguesa.
Canaiate m. (do malaiala kanayatti). Feiticeiro, na costa do Malabar.
Cancanã f. Bracelete que as bailarinas indianas trazem nos pulsos.
Carcuno m. Espécie de feitor ou escrivão, na ex-Índia Portuguesa.
Caruca f. Imposto que antigamente pagavam os criadores de gado na Índia.
Carucha m. Indiano sem casta, descendente de vaixias excomungados.
Carvi ou carviz m. Ant. Pescador, em Goa.
Cascariate m. Foro que antigamente se pagava por casas e hortas em Baçaim.
Cassana f. Foro de terras da Índia.
Castur m. (do sânscrito kasturi). O m. q. almíscar, na Índia.
Cataba f. Aposta que no Guzerate se costuma fazer sobre o resultado de alguma demanda.
Catamarã m. (do tâmul kattumaran). Espécie de jangada em uso nas costas de Coromândel.
Catandur m. Espécie de arganaz, na Índia, ou talvez mais parecido com a fuinha e que assalta as capoeiras, fazendo destroço nas galinhas.
Catapanel m. (do cingalês katapanay). Pequena embarcação vulgar em Ceilão.
Catém m. Título de propriedade em Goa.
Cati m. Espécie de podão usado na antiga Índia Portuguesa para aparar a espata das palmeiras.│Imposto pago pelos cultivadores de palmeiras.
Catona f. Árvore indiana, o m. q. ambaló.
Catre m. (do malaiala kattil). Na Índia, espécie de machila de lona, suspensa de um varal. O m. q. cátel e cátele.
Catur m. Pequena embarcação a remo e vela, outrora em uso na Índia.
Cauló m. Marinheiro subalterno, na antiga Índia Portuguesa.
Cauri, cauril ou caurim m. (do hindustani kauri). Molusco gastrópode.│Pequena concha que serve de moeda em alguns portos do Oriente.
Caxa f. (do dravídico kasn, do sânscrito kasra, peso de prata ou ouro). Moeda de pequeno valor, na Índia e noutras partes do Oriente.
Caxão m. Casa aduaneira em que pesavam as mercadorias na alfândega de Ormuz e em outras.
Caxe f. (do dravídico kasu, do sânscrito karsa). Moeda oriental, o m. q. caxa e caixa.
Cazembe m. Comandante de ensaca, ou seja, chefe de um agrupamento ou companhia de cipaios.
Cer m. (do hindustani cer). Certo peso e medida indiana.
Chacra f. (do sânscrito chakra). Arma indiana de arremesso, constituída por uma roda de aço, furada, com a parte exterior muito afiada.
Chale m. (do marata tçal). Palmar onde habitam oficiais mecânicos.
Chaliá m. (do cingalês sakkiliye). Indivíduo de uma raça que, em Ceilão, se ocupa na preparação de canela e em transportar palanquins.
Chalinque m. Embarcação pequena da Índia.
Chambeli m. Árvore da antiga Índia Portuguesa, de dimensões gigantescas; também se chama chamiló e chambil.
Chamuça f. (do hindi samosā). Especialidade de origem indiana constituída por fritos de forma triangular recheados, cuja massa tem o nome de pakora, com uma mistura condimentada de feijão ou grão, batata ou carne, ervas aromáticas e vegetais.
Chanambo m. Diz-se, na antiga Índia Portuguesa, de cal feita de cascas de ostras.
Chandarrus m. Goma copal da Índia.
Chande m. O m. q. chale, no Guzerate.
Charona f. Na Índia insular, bandeja com pé, especialmente para o bétele.
Chaudarim m. (do marata chaudhari). Na antiga Índia Portuguesa, lavrador de palmeiras ou extraidor de sura.
Chego m. Curioso peso indiano, engenhosamente variável, que se usava apenas no comércio das pérolas e que diminuía consoante aumentava o da pérola.
Cheteni, chetini m. (do concani chetni). Acepipe ácido e picante, usado na Índia e na Inglaterra.
Chindim m. Madeixa de cabelo que os gentios da antiga Índia Portuguesa deixavam crescer no alto da cabeça.
Chipó m. Género de árvores da antiga Índia Portuguesa.
Chirata f. Crânio, caveira, na antiga Índia Portuguesa.
Chiripos m. (do tâmil cherippu). Tamancos.
Chitinis m. (do marata chitnis). Secretário do governo, nos Estados maratas.
Chitpavanas m. pl. Casta brâmane de Goa.
Chocrão m. (do tâmul chakkaram). Fanão de ouro baixo na antiga Índia Portuguesa.
Chódane m. Antiga medida de Coxim, para azeite e manteiga, equivalente a 6 canadas.
Chogo m. Espécie de roupão, às vezes de algodão branco, usado fora de casa, na antiga Índia Portuguesa, por indianos e muçulmanos.
Cholá m. Planta leguminosa de Diu.
Cholmém m. Calças na antiga Índia Portuguesa.
Conchar m. Lojista, vendedor de arroz, na antiga Índia Portuguesa.
Conchor m. (do marata kanchur). Nome de uma concha de Malaca.
Chondrador m. Meia-lua de ouro com que as mulheres indianas enfeitam a cabeça.
Choquém m. (do guzerate choki). Posto fiscal, em Damão.
Chorguém m. (do marata chagan). Direitos aduaneiros, pagos pelos donos de pastagens, na antiga Índia Portuguesa.
Choundó m. Espécie de feijão da Índia.
Choutiá m. Aquele que na Índia tem direito de chouto.
Chouto m. (do marata chauth). Contribuição da quarta parte do produto da terra, especialmente em Damão.
Chovolo m. (do marata cheval). Antiga moeda do Sul da Índia.
Cico m. Árvore da Índia, de madeira rosada.
Cidão m. Espécie de foro, em Goa.
Cipaios ou Sipaios m. pl. Soldados ao serviço dos Ingleses na Índia.
Cocivarado ou cochivarado m. Foro ou pensão por terras de lavouras, que pagam os que habitam nas faldas do Gate, na Índia, e nas Tanadarias de Goa.
Colvá m. (do marata kolvá). Queima de colmo e arbustos para adubar a terra, na antiga Índia Portuguesa.
Comati m. (do télugo komati). Mercador indiano.
Combói m. Imposto que as embarcações comboiadas pagavam à câmara de Goa.
Comil m. (do tâmil kovil). Na antiga Índia Portuguesa, templo, igreja.
Conchor m. (do marata kanchur). Nome de uma concha de Malaca.
Condi m. Vara graduada usada em medições, na antiga Índia Portuguesa.
Condó m. Pau graduado para proceder a medições, na antiga Índia Portuguesa.
Confecalamei m. Designação da erva-doce, na Índia.
Coolo m. Grande tuba direita usada nas Índias e que mede mais de metro e meio.
Corangarim m. Ant. Almirante ou general, em Arracão, na Índia.
Corbol m. Árvore da antiga Índia Portuguesa.
Corla f. (do cingalês kórale). Cada um dos distritos em que se divide o Ceilão.
Cotacoulão m. Antiga e pequena embarcação indiana.
Cotari m. (do marata katari). Espécie de punhal indiano.
Cote-barnim m. Certa remuneração que em algumas aldeias da Índia se dá ao escrivão pelo trabalho de suas contas anuais.
Corchingo m. Árvore da antiga Índia Portuguesa.
Coucés m. Medida itinerária da antiga Índia Portuguesa.
Crós m. (do marata kharos). Massa coagulada de nata ou flor de cacto, em forma de cilindro.
Cude m. Açafate, na ex-Índia Portuguesa.
Culachári m. Homem que, na Índia, ajuda os gancares com várias condições; colono cultivador.
Culcornim m. (do marata kulkarni). Escrivão de aldeia, na antiga Índia Portuguesa.│Casta subalterna da Índia.
Cule m. (do tâmil kuli). Trabalhador indiano ou chinês, assalariado nas ex-colónias portuguesas. O m. q. culi ou cúli.
Culita f. Legume indiano.
Cumará f. (do sânscrito kumará). Príncipe ou infante, entre os Indianos.
Cumbar m. Oleiro, na antiga Índia Portuguesa.
Cumerim m. Queima, corte de mato, na ex-Índia Portuguesa.
Curó m. Medida de capacidade para sólidos, usada na antiga Índia Portuguesa.
Dabá m. Vasilha de couro usada para conservar manteiga ou azeite, na antiga Índia Portuguesa.
Dabu m. (do guzerate dhabhu). Moeda de cobre, que corria em Damão.
Dabula f. Certa palmeira da Índia.
Daca f. Espécie de tamboril usado na Índia.
Daçarum m. Certa medida usada em Damão.
Dadubu m. Moeda de cobre de Goa, que valia 6 réis provinciais ou a décima parte da tanga.
Daia f. O m. q. parteira, na ex-Índia Portuguesa.
Daiji m. Herdeiro; parente por varonia na ex-Índia Portuguesa.
Daim m. Leite coalhado e azedo, de grande uso na ex-Índia Portuguesa.
Dal m. Cesto de cordas de bambu, usado na antiga Índia Portuguesa, para medir e transportar à cabeça cereais e objectos miúdos. O m. q. dali.
Dali m. Espécie de açafate de cordas de bambu, na ex-Índia Portuguesa.
Dálita m. (do hindi dalit(a), «oprimido», a partir da raiz do sânscrito dal). Membro da antiga classe dos intocáveis, na Índia. Gandhi chamou-lhes harijan (filhos de Deus). Também chamados avarrias (sem classe), panchamas (quinta classe) e chandalas (os piores da Terra). Representam actualmente 12,5 % da população indiana.
Damari m. (do hindustani damzi). Moeda de cobre indiana.
Damborá m. (do guzerate damará). Arvoreta da antiga Índia Portuguesa, de cuja madeira, muito resistente, se fazem eixos para carros.
Damo m. (do hindustani dam). Antiga moeda de cobre indiana.
Damorá f. Árvore das florestas de Nagar Aveli, antiga Índia Portuguesa, e de madeira muito usada na construção civil; também se chama daurá.
Dampaca f. (do guzerate dampak). Iguaria usada em Damão e em que entram pedaços guisados de galinha ou pato.
Dandó m. Na antiga Índia Portuguesa, pedaço de cacho, que fica na palmeira, quando é cortado.
Dangui m. Antigo funcionário aduaneiro que declarava os direitos a que estavam sujeitas as mercadorias na ex-Índia Portuguesa.
Darambô m. Árvore da antiga Índia Portuguesa, cuja madeira se emprega no fabrico de móveis.
Darameçalá f. (do sânscrito dharimoçalá). Albergaria ou estalagem indiana, em que se hospedam gratuitamente os viandantes.
Darbar m. O governo ou o poder executivo na Índia.
Dassas m. pl. Apodo depreciativo dado pelos invasores arianos da Índia aos naturais.
Dauma m. Espécie de melro da Índia.
Davadá m. (do marata davad). Fabricante de objectos de ferro na Índia; fundidor.
Davaló m. Certa moeda indiana.
Dedi f. Mulher que, entre as classes populares da Índia, acompanha a noiva a casa do noivo e lhe faz companhia nos primeiros dias após o casamento.
Dedó m. Padrinho e companheiro do noivo entre as classes populares da Índia.
Desmuca m. (do marata dexmulk). Administrador de concelho, na Índia.
Despanda m. Chefe de povoação na ex-Índia Portuguesa.│Escrivão de distrito entre os Maratas.
Deussum m. Prédio que nas Novas Conquistas, de Goa, pertencia um ídolo ou a um pagode.
Devadassi f. (do sânscrito devadassi). Bailadeira indiana ao serviço de algum pagode.
Devanágari m. (do sânscrito diva + nágari). Escrita do moderno sânscrito.
Dianjá m. Governador ou capitão em Bengala.
Diuli m. Candeeiro pequeno, na Índia.
Divali m. Festividade indiana, com iluminações, no Outono.
Divani m. Cobrador de impostos, na Índia.
Divão m. Tesouro público, na Índia. O m. q. divã.
Dolim m. Espécie de mochila, usada especialmente por mulheres, na Índia.
Dongri m. Tecido grosseiro de algodão da Índia.
Dora f. Espécie de sorgo ou de milho da Índia.
Doundo m. Árvore da antiga Índia Portuguesa.
Dramo m. Moeda de conta dos Estados da Índia, anterior à dominação portuguesa.
Ducandar m. Ant. Vendedor de géneros por miúdo nos ducães.
Ducão m. Ant. Loja onde se vendiam géneros por miúdo, na ex-Índia Portuguesa.
Ducará m. Antiga moeda de Damão, que valia a centésima parte da rupia.
Ducrá f. Designação indígena em Diu da moeda de Goa de 1 ½ réis, que ali corria.
Dudu m. Moeda de conta de que os indígenas de Goa se serviam.
Durei m. O m. q. amo ou senhor, no Sul da Índia.
Durial m. Pomar que produz duriões, na antiga Índia Portuguesa.
Edu m. Árvore da antiga Índia Portuguesa; o m. q. aldapana.
Elache m. Espécie de tecido de lã da Índia.
Façarola f. Antigo peso da Índia.
Faido m. Desus. Resto, sobejo, sobra, na antiga Índia Portuguesa.
Fadiá f. Pequena moeda de cobre, que corria em Damão, e que valia 6 réis.
Fanane ou fanão m. Antiga moeda indiana.
Fansegar m. Cada um dos membros de uma seita de assassinos da Índia.
Fará m. (do marata phara). Medida de capacidade para cereais, no Guzerate e no Concão.
Faraz m. Ant. Moço de estrebaria, na ex-Índia Portuguesa.│Hoje, indivíduo de casta ínfima de Goa.
Fari m. Ant. Espécie de incenso da ex-Índia Portuguesa.
Fonzadar m. Em algumas aldeias da antiga Índia Portuguesa, cobrador de impostos.
Formás m. Pensão certa e invariável, na antiga Índia Portuguesa.
Franques m. pl. Ant. Nome que, na Índia, consagrou os cristãos europeus, e depois os cristãos indígenas.
Fúgueo m. Na ex-Índia Portuguesa, espécie de bolo frito.
Fula f. Nome que, na antiga Índia Portuguesa, se dá à angélica e a outras plantas.
Gadara f. Música que acompanha a bailadeira, na Índia.
Gadi m. Na antiga Índia Portuguesa, estabelecimento em que se guardavam os direitos do sal, exportado de uma província para outra. Também se dava este nome aos próprios direitos.
Gairo m. Árvore mimósea da Índia, de vagens tenras e comestíveis.
Ganicará m. Moinho de azeite, na antiga Índia Portuguesa.
Ganim m. Moinho de azeite, em Damão.
Gamatão m. Aldeia povoada, em Ceilão.
Ganara m. Funcionário principal de aldeia, em Ceilão.
Ganda f. Espécie de rinoceronte, na antiga Índia Portuguesa.
Ganicará m. Moinho de azeite, na antiga Índia Portuguesa.
Gano m. Engenho de açúcar, na antiga Índia Portuguesa.
Gantó m. Espécie de pulseira indiana.
Gão m. Aldeia indiana, de que procede a palavra gancar.
Gará m. Habitação ou bairro pobre em Goa.
Garaveto m. Tranqueira num desfiladeiro, em Ceilão, para impedir o trânsito do inimigo.
Garbanada f. (do sânscrito gharbadana, dádiva do germe). Cerimónia religiosa hindu na qual se festeja o primeiro fluxo da mulher e a primeira junção dos cônjuges. Segundo os ritos sacramentais do hindu, o casamento da mulher deve realizar-se antes da puberdade.
Gargó m. Bilha de barro pequena usada no Sul da Índia como medida para líquidos.
Garpoti m. Numeração das casas, no Concão.│Encargo desta numeração.
Gate m. Na Índia, montanha, cordilheira em geral.
Gaudina f. Mulher de gaudó, na Índia.
Gaudó m. Indivíduo que pertence a uma das castas de Goa.
Gaugau m. Ant. Tavolagem, em Chaul, na Índia.
Gauncar m. Gerente ou administrador das comunidades de aldeia existentes na Índia, organização económico-social que estabeleceu a propriedade colectiva da terra, explorada em comum por famílias da mesma origem ou entre si aparentadas.
Gáurio adj. Diz-se dos idiomas derivados de antigos prácritos, e portanto aparentados com o sânscrito, e como este pertencentes à família árica, ou indo-europeia.
Gazena f. Moeda da Índia.
Giracal m. Uma das colheitas de arroz na Índia.
Giraita f. Campo de lavoura, na Índia
Godrim m. Desus. Colcha estofada da Índia.
Golcori m. Jóia que as indianas usam como adorno ao pescoço.
Goli m. Variedade de figueira, na ex-Índia Portuguesa.
Golmor m. Antiga moeda de ouro, na ex-Índia Inglesa.
Gonçalim m. Hortaliça, na ex-Índia Portuguesa.
Goni m. Tecido grosso de juta ou saco ou seirão do mesmo material, na ex-Índia Portuguesa.
Gopurá m. Torre piramidal, à entrada dos pagodes indianos.
Goral m. Espécie de antílope da Índia.
Gorca f. Espécie de brindoeiro, em Ceilão.
Gotingo m. Árvore da ex-Índia Portuguesa.
Gouli m. Na antiga Índia Portuguesa, indivíduo de casta pastoril.
Goulina f. Mulher de gouli.
Gouro m. Fortim indiano.
Guanguau m. Ant. Imposto que na ex-Índia Portuguesa pagavam as casas de jogo.
Gueche m. Espécie de adobe, na antiga Índia Portuguesa.
Gueredão m. (do sânscrito grantha, livro). O alfabeto devanagórico.│A língua sanscrítica.
Guinde m. (do marata). Espécie de jarro indiano para água.
Guirá m. (do marata ghirá). Demónio aquático, na mitologia da Índia.
Gujir m. Ant. Habitante do Guzarate.
Guna m. (do sânscrito guna, dote, virtude). Termo de gramática sânscrita.
Gunchelim m. Planta hortense de Diu.
Gundeira f. ou gundeiro m. Árvore da Índia, de cujo fruto se extrai óptima goma.
Gurabo m. Na Índia, embarcação de vela.
Gurcar m. Na Índia, chefe de fortim.
m. Associação ou confraria cristã na Índia.
Hurfangá f. Na Índia, espécie de mitra ou touca usada entre os asiáticos.
Ifol m. Arvoreta da ex-Índia Portuguesa.
Jacra f. Açúcar de coqueiro ou de cana, na Índia e na África Oriental.
Jacreiro m. Dono ou cultivador de jacra.
Jamadar m. Chefe de posto fiscal na antiga Índia Portuguesa.
Jambul m. Designação de uma árvore indiana de madeira avermelhada e flexível; o mesmo e melhor que jambol. Também se lhe chama jamboeiro-rosa.
Jamé m. Ant. Renda pública que em Damão se pagava em géneros.
Jamedar m. Na Índia inglesa, grande proprietário de terrenos.
Janavadim m. Moeda antiga da ex-Índia Portuguesa, o m. q. januadim.
Jangada ou jangade m. Entre os naires da Índia, aquele que empenha a sua fé, que se sacrifica, que dá a vida por pessoa ou coisa.
Jângal ou jângala m. (do hindustani jangal). Floresta, matagal, na ex-Índia Portuguesa.
Jati m. Membro das classes, seitas, corporações ou agrupamentos profissionais da orgânica social indiana, que tem de peculiar o preceito da endogamia, e relativo apartamento de convívio, sobretudo quanto à comensalidade.
Jau m. Na Índia, antiga medida itinerária de três léguas.
Jina m. Termo sânscrito que significa vencedor e é, na doutrina do Jainismo, a mais alta categoria celeste a que aspira chegar o asceta.
Jono m. Espécie de terreno foreiro entre os gancares da ex-Índia Portuguesa.
Jumprim m. Palhota ou cabana fora de uma casa, em Damão.
Langota f. Termo de Goa. O m. q. langotim.
Langotim m. Espécie de fralda com que os habitantes das classes ínfimas da Índia, sobretudo os do Sul, cobrem as partes pudendas; à guisa de tanga.
Lanha f. Coco tenro de palmeira, na ex-Índia Portuguesa.
Laque m. Vocábulo de origem sânscrita, de laksha, que representa a cifra de 100 000. Aplicou-se na Índia desde os tempos do domínio muçulmano, nos cômputos financeiros, para designar a soma de cem mil rupias. Cem laques de rupias representam um crore, soma pela qual contam as grandes fortunas indianas.
Larim f. Espécie de tanga usada na antiga região de Lara, na Índia.
Lascarim m. No tempo das conquistas portuguesas, termo para designar na Índia os combatentes arregimentados nas classes nativas ou auxiliares, e correspondendo ao depois soldado indígena ou cipaio.
Lasmó m. Direito aduaneiro, na ex-Índia Portuguesa; o m. q. lágima.
Launim m. (do marata lavni). Canção de amor, das bailadeiras indianas.
Lavanissi m. (do marata lavanis). Em Goa, verificador da alfândega.
Locondel m. Direitos de fundição de ferro, na Índia; fundição de ferro.
Lonim m. Na Índia, designação da manteiga fresca.
Machim m. Indivíduo de certa casta que se ocupa particularmente da pesca, na ex-Índia Portuguesa.
Macuá m. Pescador indiano.
Madã m. Espécie de altar provisório nos templos da Índia.
Madalém m. Instrumento músico de barro, na ex-Índia Portuguesa.
Magarim m. Bot. Espécie de jasmim da Índia.
Mandó m. Em certas festas da Índia, música monótona que as bailadeiras cantam, acompanhando-a com dança.
Marcá m. Antiga medida indiana para azeite e manteiga, equivalente a pouco mais de quatro litros.
Márgavas etn. m. pl. Classe de párias hindus, oriundos de pais nochados e mães aiogacás.
Mazur m. Ant. Na Índia, voto favorável.
Medol m. Bot. Árvore de Damão.
Meleçar m. P. us. Soldado de um corpo de tropa irregular, na ex-Índia Portuguesa.
Melique m. Ant. Governador ou régulo muçulmano na Índia.
Mencumbió m. Bot. Árvore da ex-Índia Portuguesa.
Mendão m. Farinha do bolbo da planta Droscina sativa Lin., na ex-Índia Portuguesa.
Menequi m. Bot. Planta da Índia, que se usa contra mordeduras de cobra.
Mexelim m. Tecido da Índia, listado, de seda e algodão.
Mocasso m. Terreno que doou a autoridade soberana, em recompensa de serviços públicos, e que se constituiu propriedade transmissível a herdeiros, na antiga Índia Portuguesa.
Mochanga f. Espécie de berimbau da Índia.
Moli m. Vestidura leve com que as bailadeiras indianas encobrem o seio.
Moroda f. Terra que, na ex-Índia Portuguesa, se destinava à cultura dos coqueiros.
Moruoni m. Zool. Ave canora da Índia.
Mossondi m. Em Goa, cemitério dos indígenas.
Moxara f. Ant. Tença, na ex-Índia Portuguesa.
Mundaçó m. Espécie de barrete usado na Índia.
Muni m. Nome genérico do homem pio e sábio, entre os Indianos. O m. q. mune.
Murá f. Medida antiga indiana. O m. q. mura.
Murale f. Mús. Flauta travessa de bambu, com seis orifícios, usada na Índia.
Nacadar m. (do marata nakadar). Em Damão, empregado aduaneiro.
Nache m. Certa dança, especialmente a dança das bailadeiras indianas.
Nachenim ou nachinim m. Planta cerealífera indiana.
Nagar m. Espécie de tambor da Índia.
Naique m. Termo de hierarquia indiana, que designa chefe, director ou capitão.
Naire m. (do malaiala nayarar). Indivíduo da casta dos naires, no Malabar, especialmente dedicada ao uso das armas.
Naiteas m. pl. Termo que designava, na costa do Concão, na Índia, os muçulmanos «mestiços», ou seja, produtos do cruzamento de árabes, persas e turcos com mulheres hindus.
Nalcornim m. Escrivão das comunidades agrícolas de Goa.
Namassins m. pl. Várzeas e terrenos de propriedades asiáticas que os Gancares em suas aldeias deram com obrigação de serviço aos pagodes e seus servidores, assim como aos escrivães e oficiais mecânicos.
Nanal m. Espécie de roseira da Índia.
Nanó m. Árvore da Índia, o m. q. benteca.
Nariela f. Azeite ou óleo de coco, na ex-Índia Portuguesa.
Nario m. Bot. Nome que se dá ao coco maduro, na ex-Índia Portuguesa.
Narlo m. Bot. Coco, já maduro, na Índia.
Natafe m. Espécie de terra oleosa de que se usa em algumas partes da Índia, como entre nós do carvão de pedra.
Navim m. Na ex-Índia Portuguesa, título de compra, feito por um notário.
Nelore adj. e m. Diz-se de uma variedade de gado da Índia, proveniente de Nelore.│Esse gado.
Nivator m. Espécie de faisão da Índia.
Nizam m. Título usado, no tempo dos sultões timúridas da Índia, pelo nababo governador do Decão.│Depois, designação ou título conferido a um chefe, governador ou simples administrador, nos regimes da Índia.
Nomoxim m. Oficial ou servidor dos templos ou das comunidades da antiga Índia Portuguesa.
Note m. No ex-Estado da Índia Portuguesa, argola que a mulher hindu não viúva traz pendurada na asa esquerda do nariz, com uma ou mais pedras preciosas.
Nula m. Braço de rio, no Indostão, correspondente ao igarapé brasileiro.
Ondó m. Reservatório de água, poço, na ex-Índia Portuguesa.
Orna f. Na Índia, caldo de legume tori.
Orobalão m. Homem nobre de Malaca.
Orzuna f. Bot. Certa árvore da ex-Índia Portuguesa.
Ossoró m. Sala de recepção, na ex-Índia Portuguesa.
Otu m. Instrumento de música hindu, sem orifícios laterais, que serve para a dança das bailadeiras.
Ouçandé f. Bot. Planta hortense da ex-Índia Portuguesa.
Pacari m. Espécie de alpendre, na ex-Índia Portuguesa.
Padamini f. Mulher que perfuma os seus vestidos com a própria transpiração.
Padmini f. Mulher nobre, favorita (?), em certos Estados indianos.
Pagotém m. Espécie de turbante usado na Índia.
Paié m. Medida de capacidade, em Damão, equivalente a 3 póris das ilhas de Goa.
Páli m. (do sânscrito pali). Língua sagrada dos budistas do sul (Sri Lanka e Indochina). O m. q. pale.
Paló m. A colheita dos cocos, na ex-Índia Portuguesa.
Pancá m. Espécie de larga ventarola ou abano preso do tecto e movido à mão, destinado a agitar o ar e refrescar a atmosfera de um compartimento; usa-se vulgarmente nas salas ricas da Índia
Pândita m. (do sânscrito pandita, sábio). Título honorífico dado na Índia aos versados na ciência religiosa ou outras.
Panical m. Mestre de armas, instrutor ou treinador dos combatentes do Malabar, conhecido por naire, na Índia.
Panró m. Na ex-Índia Portuguesa, nome que se dá à cobra-capelo.
Paqueló m. Nome que os indígenas da ex-Índia Portuguesa davam aos soldados portugueses da Guarda Municipal.
Parganá m. e f. (do marata parganá). Na ex-Índia Portuguesa, comarca, parte de um distrito.
Parvu m. Ant. Escrivão indiano.
Passeivão m. Espécie de feitor na Índia.
Patagantim m. Chefe de povoação, na Índia; pate.
Pataia f. Ant. Celeiro ou tulha, na ex-Índia Portuguesa.
Patana f. Nome que na Índia se dava a cada um dos grupos das ilhas Maldivas, subordinado a uma ilha principal.
Patanes etn. m. pl. Indivíduos das tribos especiais, fronteiriças entre o Afeganistão e a Índia, convertidas ao islamismo desde os primeiros tempos deste.
Patavar adj. Desus. Feito de certo tecido de seda, fabricado nas Índias Orientais.
Pate m. Chefe de povoação na Índia.
Patel m. Chefe ou regedor, primeira autoridade nas aldeias da costa ocidental da Índia, em especial no território marata e do Guzerate.
Pendal m. Na ex-Índia Portuguesa, espécie de barraca alpendrada.
Pipal m. Bot. (hindi pipal, sânscrito pippala) Árvore moreácea, Ficus religiosa, L., também chamada árvore-dos-baneanes e árvore-de-buda.
Poló m. Tecido indiano, usado em ornatos de senhoras.
Poloto m. Term. da ex-Índia Portuguesa. Arrematação trienal da várzea, ou anual em Salsete.
Pone m. Antiga moeda da ex-Índia Portuguesa.
Pore ou pori m. Medida de capacidade asiática equivalente a 48 polegadas cúbicas.
Potecar m. Recebedor da aldeia, na Índia.
Potó m. Na Índia, conhecimento que o escrivão dá da venda ou arrendamento.
Pulá m. Homem de casta nobre, na Índia.
Puló m. (do malaio pulot). Na ex-Índia Portuguesa, diz-se de um arroz que vem de Java.
Puravás f. Túnica de algodão branco, ornada de rosas de ouro, e usada pelos brâmanes. Também se diz purava.
Rebelo m. Variedade de fruta-manga, na Índia.
Sade m. Moeda indiana.
Sadim m. Ant. Moeda indiana, que valia um vintém; o m. q. sadi.
Sado m. Pequeno barco de pesca da Índia.
Sadrá m. Grande árvore indiana com cuja casca os habitantes da Índia pintam redes e outros objectos e cujo tronco, reduzido a cinzas, serve para curtimento de peles.
Sadu m. Desus. Asceta mendicante da Índia.
Saibe m. (do hindustânico sahib). O m. q. saíbo.
Saíbo m. Título respeitoso na Índia.
Saide m. Bot. Nome de uma árvore indiana de fibras têxteis.
Salamim m. Ant. Direito de corretagem que se pagava em Diu.
Samori m. (do malaiala Samudri, rei do mar). Título do antigo rei de Calecute; o m. q. samorim.
Sanai m. Espécie de oboé hindu, com sete buracos laterais.
Sandará m. Certa árvore de Damão.
Sanedivão m. Ant. Multa que, na ex-Índia Portuguesa, pagavam os cobradores de rendas, quando prevaricavam.
Sapirão m. Recepção com choro das mulheres indianas na volta de um amigo.
Sardessai m. Donatário de território na ex-Índia Portuguesa.
Saró m. Instrumento de música, de cordas e arco, usado na Índia.
Satagana f. Bot. Planta da ex-Índia Portuguesa.
Sati f. Na Índia, qualificação da mulher perfeita, isto é, da viúva que leva o amor e a fidelidade conjugal até imolar-se na pira funerária de seu marido, para o acompanhar no outro mundo.
Saucar m. (do marata sauvar). Capitalista, banqueiro.
Saurim m. Espécie de pano antigo que vinha da Índia.
Savará m. Língua da província de madrasta e pertencente ao grupo decânico.
Sendi m. Rabicho dos Hindus.
Ser m. Peso usado em Calcutá, equivalente a cerca de duas libras.
Sigamó m. Carnaval ou período festivo dos gentios indianos.
Sindi m. Idioma falado no Norte do Punjabe, em Sinde, na Índia.
Sirifoles m. pl. Bot. Nome de uma planta indiana, também chamada marmeleira-da-índia.
Sirló m. Zool. Nome dado na ex-Índia Portuguesa a um réptil da ordem dos sáurios.
Sivom m. Bot. Árvore da ex-Índia Portuguesa.
Subdar m. Funcionário administrativo na Índia.
Sudra f. Casta inferior na Índia.│m. Indivíduo dessa casta e que geralmente se emprega nos trabalhos mais rudes.
Suropo m. Nome que na ex-Índia Portuguesa se dá à serpente boa.
Survina m. Instrumento músico hindu com duas cordas de tripa e braço sem escala; toca-se com uma palheta.
Tacarduma s. 2 gén. (do marata chakurdhuma). Grande festividade do Concão.
Tal m. Timbales em uso na Índia, com um prato de bronze e outro de aço.
Talapate m. Ant. Imposto que pagavam, na Índia, os boticários, ourives, etc.
Tambarane m. Pedra branca, espécie de amuleto, que os sacerdotes gentios da Índia trazem ao pescoço.
Tanadar m. Funcionário encarregado da arrecadação das rendas nas gaucarias.
Tando m. Na Índia, campo de capim rasteiro.
Tape m. Pequeno barrete de veludo em forma de fez, na Índia.
Tara f. (do sânscrito tara). Antiga moeda da Índia, que já circulava em Calecute quando ali chegaram os Portugueses; quinze taras valiam um fanão.
Tari m. (do hindustânico tari). Licor alcoólico, obtido com a fermentação do suco de várias palmeiras e de coco, e empregado antigamente em medicina como tónico.
Tarpa f. Na ex-Índia Portuguesa, instrumento popular, formado de três peças, uma de abóbora branca, outra de bambu e outra de folhas de palmeira-brava.
Tatagata f. Alma perfeita que, de acordo com o budismo, pode encarnar e descer à terra a fim de desprender deste mundo as almas que andam por ele.
Tendelim m. Na ex-Índia Portuguesa, fruto muito apreciado de uma trepadeira.
Tibel m. Bot. Nome vulgar de uma árvore de Damão; o m. q. pau-ferro.
Tical m. Antigo e pequeno peso indiano.
Tori m. Produto agrícola da Índia.
Toríbio m. Avelório de cristal procedente da Índia.
Tuia m. Homem de lavoura, entre os habitantes da antiga Índia Portuguesa.
Tumburuvina m. Espécie de guitarra da Índia que tem quatro cordas metálicas e cujo braço não tem escala.
Tumurá m. Instrumento de cordas dedilhadas da Índia.
Turcol m. Ant. Espécie de pagode ou mosteiro na Índia.
Turi m. Espécie de clarim usado na Índia durante o cerimonial da cremação. De recordar que a Índia só proibiu a cremação da viúva com o marido a 4 de Dezembro de 1829.
Tuxi m. (do marata thuxi). Jóia de ouro, em forma triangular, usada ao pescoço por indianas.
Ucá m. (do hindustani huka). Cachimbo indiano, grande, com um depósito de água por onde passa o fumo.
Vaixá m. (do sânscrito vaiçya). Agricultor; homem de baixa categoria, entre os Indianos.
Vaixnavas m. pl. Rel. Nome reservado na teogonia hinduísta da Índia aos sectários ou adoradores do deus Vixnu.
Vaixnavismo m. Rel. O m. q. visnuísmo.
Vançali f. Espécie de flauta indiana que tem de um lado sete furos e de outro apenas um.
Varli m. Term. de Damão. Nativo da região de Damão que se dedica à pastorícia ou à lavoura.
Vetiver m. (do tâmul vittiveru). Nome de uma planta da Índia, da família das Gramíneas.
Viló m. (do marata vilo). Pequena foice com que os Hindus ceifam o arroz.
Virama m. (do sânscrito virama, suspensão). Traço oblíquo que, no sânscrito, colocado sob uma consoante, no fim de uma frase ou de meia estância, indica que essa consoante não é seguida da vogal a.Virtal m. Aquele que pagava avença, na Índia.
Virte m. Relação dos virtais, na Índia.
Votona f. Pensão hereditária, na Índia.
Vrijá m. Um dos dialectos da Índia Central.
Xrâmane m. (do sânscrito çramane, asceta). Asceta mendicante entre os Hindus.│Asceta budista. O m. q. xrâmana.
Zagari m. (do marata zhagari). Ant. Espécie de pano de linho na Índia.
Zagu m. Designação de certa árvore da Índia.
Zamindar m. Proprietário rural na Índia antiga.│Modernamente, espécie de cobrador de impostos agrícolas.
Zamindaria f. Zona agrícola distribuída a um zamindar.
Zamori m. O m. q. zamorim.
Zamorim m. Título dos antigos soberanos de Calecute, na Índia; o m. q. samorim, forma preferível.
Zenana f. Na Índia, recinto destinado às mulheres, o qual equivale ao harém dos Árabes.
Zontró m. Aparelho que na Índia serva para a destilação da sura; é composto de duas peças de barro, que se comunicam por um tubo de bambu.
Zuarte m. (do marata sutādā ou sutādem). Pano azul ou preto de algodão.

13.9.06

Verbo haver e júri/jurado

DN em dia não

      «Em declarações ao DN, um membro do grupo de trabalho que está a seguir o processo admitiu, no entanto, que “haverão demolições, mas não será 80 por cento do bairro, como estava inicialmente previsto”» («Governo investe 61 milhões para recuperar Cova da Moura», Luís Batista Gonçalves, Diário de Notícias, 12.09.2006, p. 31). E já agora, demolem (atenção!, verbo defectivo) também — com a ajuda do jornalista e dos revisores — a gramática.
      «A antiga estrela de Marés Vivas, David Hasselhoff, tem dado que falar desde que regressou à TV como júri do programa America’s Got Talent» («Show-… Hoff», Diário de Notícias, 12.09.2006, p. 47). Nem o Diário de Notícias escapa a erros tão elementares. O título brincalhão, a lembrar o extinto O Independente, talvez fosse ainda mais conseguido sem reticências, «Show-Hoff», sem concessões nem paternalismos.

12.9.06

Partenon

Em que ficamos?



      «O museu de Heraklion, capital da ilha grega de Creta, vai emprestar as suas antiguidades minóicas, da Idade do Bronze, ao Museu Britânico, em Londres. Esta colaboração para uma exposição que durará até 2009 deverá reabrir o diálogo entre a Grécia e o Reino Unido para a restituição pelo British Museum do friso oriental do Parténon» («Grécia empresta peças ao Museu Britânico», Público, 11.09.2006, p. 26). Pode confundir esta hesitação: Museu Britânico/British Museum. Tenho recomendado, a quem me pergunta, a primeira forma, por ter sólida tradição entre nós. Claro que no excerto do Público é muito mais do que isso que está em causa: a falta de uniformidade não abona a favor de nenhum texto. Já quanto ao «Parténon» (do grego Παρθενών), prefiro escrever sem acento agudo, pois que se trata de uma palavra aguda ou oxítona terminada em n: Partenon. Em português, as palavras terminadas em n só são acentuadas graficamente se forem graves ou paroxítonas: íman, líquen… Claro que não ignoro que autoridades como Maria Helena da Rocha Pereira escrevem «Pártenon», mas a esse esteio não se pode apoiar o Público. «Ao mesmo tempo, solucionou-se uma incipiente crise económica, provocada pela baixa na procura de homens para o serviço naval, empregando-os nestes longos trabalhos (só o Pártenon levou quinze anos a construir» (Estudos de História da Cultura Clássica, Maria Helena da Rocha Pereira, Fundação Calouste Gulbenkian, 7.ª edição, 1993, p. 386). É também por esta última forma que o Diário de Notícias opta: «Um fragmento dos frisos do Pártenon, espalhados por vários museus do mundo e cuja devolução a Grécia há muito reclama, foi ontem recolocado nas ruínas daquele templo» («Friso do Pártenon regressa à Acrópole de Atenas», 6.09.2006, p. 39).

11.9.06

Aljubarrota: pronúncia

Ainda há esperança

Gostei muito de ver João Gobern, no programa A Canção da Minha Vida, na RTP1, no sábado, pronunciar correctamente o topónimo Aljubarrota: com o o fechado (/Aljubarrôta/), como se vê no Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves e no Novo Prontuário Ortográfico de José Manuel de Castro Pinto.

9.9.06

Léxico: estipe

Imagem: http://www.arch.cam.ac.uk/

Palmeiras não são árvores

De facto, caro Luís C. Silva, as palmeiras não são árvores. São, é verdade, o que de mais parecido existe na natureza com uma árvore, sem o ser. Ao contrário das árvores, as palmeiras não têm tronco, mas sim estipe ou estípite. Este estipe pode ser simples ou múltiplo, formando touceiras. Na maioria dos casos, o estipe apresenta anéis (e não casca, como as árvores), que são as cicatrizes ou fílulas deixadas pela base das folhas que vão caindo ou sendo arrancadas.

Linguagem jornalística

Acções e reacções

Já muito se escreveu sobre as formas de dizer que vão marcando cada época. Colocar uma questão, prontos, é assim, entre outros, são modismos e bordões da fala que quase todos usam e que empobrecem a comunicação. Entre os jornalistas, tem agora muita fortuna o verbo «reagir». Ainda ontem, na SIC, uma repórter perguntava ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa: «Como reage às notícias sobre a EPUL?» A repórter teve de repetir a pergunta, exactamente nos mesmos termos, porque da primeira vez o interpelado reagiu não reagindo. Da segunda, reagiu ignorando a pergunta. Quanto melhor não seria perguntar: «Que comentário lhe merecem as notícias sobre a EPUL?» «O que tem a dizer das notícias sobre a EPUL?»

Elemento neo-

Distracções

«A prisão dos suspeitos de terrorismo neo-nazi ocorre num contexto de crescimento das forças de extrema-direita na Flandres e de acções de violência ligadas a xenofobia» («Militantes neo-nazis preparam atentados terroristas», LN, Diário de Notícias, 8.09.2006, p. 17). A verdade é que o elemento neo- apenas se liga por hífen ao elemento seguinte quando este começa por vogal, h, r ou s: neo-helenístico, neo-realismo, neo-siríaco.

Uso do itálico

Nem pensar

«E entretanto aventam-se uma série de nomes para quem poderá vir a coadjuvar Brown na nova direcção do Labour» («Oposição a Blair vai pedir a sua demissão no congresso do Labour», Público, 20.08.2006, p. 22).
«E em Maio do ano passado foi o primeiro trabalhista a conseguir uma terceira vitória consecutiva para o Labour» («Blair não avança data mas sai no espaço de um ano», Susana Salvador, Diário de Notícias, 8.09.2006, p. 14).
As regras sobre o uso do itálico não prevêem que se grafe o nome das instituições — neste caso, um partido político — em itálico, independentemente de o nome ter tradução ou não.

8.9.06

Advérbio onde

É simples

«Fidalgo, oficial do Exército (onde chegou a general), escritor e secretário particular de el-rei durante o reinado de D. Carlos (1889-1908)» («A minha rua tem o nome de um deputado», Rui Ramos, Público, 26.08.2006, p. 11). Trata-se do conde de Arnoso, amigo de Eça de Queirós. E o erro, onde está? Pois está no «onde», advérbio de lugar que se deverá utilizar somente na referência a um local. Infelizmente, é um erro com raízes bem fundas e, o que é pior, cada vez mais tolerado.

7.9.06

Baluchistão, Balochistão ou Baluquistão?

É só escolher

«Quetta, capital da província paquistanesa do Baluchistão, foi ontem palco de incidentes violentos, entre elementos tribais e a polícia» («Agitação tribal afecta província do Baluchistão», Luís Naves, Diário de Notícias, 30.08.2006, p. 9).
«Um líder rebelde do Balochistão, morto pelas forças de segurança paquistanesas, foi ontem enterrado na sua terra natal, numa cerimónia apressada» («Funeral de líder rebelde no Balochistão sob vigilância», Público, 2.09.2006, p. 18).
A imprensa brasileira parece preferir a forma Baluquistão, mais rara entre nós, que balançamos entre Baluchistão e Balochistão. Não parece, contudo, haver razões para preferir uma forma a outra.


6.9.06

Uso da maiúscula

O país em grande

«A neve pode regressar ao Sul do País já amanhã», Diário de Notícias, 22.2.2006, última página.
«Nos últimos anos, esta zona do País tem registado um aumento constante da taxa de natalidade e, para estes números, muito têm contribuído os bebés filhos de imigrantes», 24 Horas, 24.2.2006, p. 13.
«A partir desta semana quatro pontos [sic] móveis de atendimento da Segurança Social vão percorrer todo o País», Focus, n.º 334, 8.3.2006, p. 8.
«Durante umas horas, cerca de 300 cidadãos portadores de deficiência, de todas as idades e provenientes de 20 instituições de todo o País, tiveram a oportunidade de testar uma gama variada de jogos da Idade Média», Correio da Manhã, 12.3.2006, p. 21.
«A ideia já está a ser “vendida” a várias autarquias do País (as interessadas já são quase 30) e resulta de uma parceria entre a Construtora de Crestins (especializada em obras na via pública) e a agência Imginew», Visão, n.º 678, 2 a 8 de Março de 2006.
«Especialmente quando uma nova geração estiver madura para dirigir o País, já que não é com esta que nos safamos», Sábado, n.º 96, 2 a 8 de Março de 2006, p. 87.
«Gulbenkian: um “país” dentro do País…», José Carlos Vasconcelos, JL, 5.07.2006, p. 3.

5.9.06

Lei de Tobler-Moussafia

A fala do povo

Como se sabe, as formas clíticas, na variedade europeia do português moderno, não podem ocupar posição inicial absoluta de frase, conforme o enunciado da Lei Tobler-Moussafia. Excepções, na verdade, apenas as encontraremos em frases feitas, pertencentes ao falar do povo. Ainda assim, é óbvio que começaram por ter um sujeito expresso a anteceder o pronome átono. T’arrenego e Me melem se… são os exemplos mais conhecidos. Com o tempo, estas frases feitas tornaram-se exclamações.

Senão e se não

Distingamos

O leitor Pedro Pereira pergunta-me se na frase que se segue, que leu no jornal Público, não se deveria ter usado senão em vez de se não. «Como por certo notará, os destaques da maioria, se não da totalidade, dos textos de opinião são excertos do texto ligeiramente reduzidos, já que o corpo de letra utilizado é maior.» A resposta é não. Ora, segundo as regras, estando o verbo subentendido, estamos perante uma conjunção condicional a introduzir uma oração na negativa. É como se se tivesse escrito: «Como por certo notará, os destaques da maioria, se não for da totalidade, dos textos de opinião […].»

Tradução

Vocações erradas

Um dos meus temas preferidos, os meus leitores já sabem isso, é a leviandade com que se faz alguma tradução em Portugal. É preciso ver que alguns textos não têm, por opção meramente economicista, suponho, revisão. Este exemplo chegou-me recentemente às mãos. Se por um lado demonstra cabalmente que os dicionários que temos não são os melhores, também deixa ver claramente que há muitos curiosos a ganhar a vida nesta área. Vejamos o que diz o original: «En esta simpática escena, el perrito faldero parece ser el único que presta atención a los músicos, mientras dos abates y un monje juegan una partida de naipes ignorando por completo al conjunto.» O pouco discernimento do tradutor deu isto: «Nesta simpática cena, o cão efeminado parece ser o único que presta atenção aos músicos, enquanto os dois abades e um frade jogam às cartas ignorando completamente o conjunto.» Ora, um perro faldero é, na definição do Diccionario de la Real Academia Española, «el que por ser pequeño puede estar en las faldas de las mujeres».


[Perrito faldero: cão de regaço; totó, fraldiqueiro.]

4.9.06

Alcatraz e albatroz

Nem mais

Agora que Zacarias Moussaoui está na prisão de Florence, Colorado, prisão de segurança máxima também conhecida por «Alcatraz das Rochosas», apetece-me falar das palavras «alcatraz» e «albatroz».
Alguns preferem «albatroz» a «alcatraz», mas fazem mal: a primeira deriva da segunda. «Albatroz» é uma corruptela inglesa do vocábulo português «alcatraz», que vem do árabe al-ġaţţās (mergulhador). Isto faz-me lembrar uma pessoa que conheço. Por vezes, vem contar-me, com ar de sabichão e como novidade, factos que eu lhe contara. De início chamei-lhe a atenção para o lapso, mas depois passei a ignorar. Vendo bem, até tem uma vantagem: a de refrescar-me a memória.

Galicismos

Preservativo

Recentemente, alguém me perguntava, e não estava a brincar, se «ainda existe essa coisa dos galicismos». Perguntei-lhe se conhecia o Movimento 560. Ah, sim, estou a ver, exclamou, você não me dá chance! Como é que adivinhou que esse é o galicismo que mais odeio!?
Vejamos uma citação do truculento frade José Agostinho de Macedo: «Os galicismos introduzidos na língua, e acrescidos por quem os pretendeu expungir, e que os maus mestres e tradutores do francês para cá nos acarretaram, desafiavam o riso aos homens sisudos, e que se não deixavam contaminar, tendo a devoção de lerem todos os dias, ao levantar da cama, uma ou duas páginas dos nossos bons livros portugueses, único preservativo contra a peste francesa.»
Eça de Queirós, por sua vez, num artigo intitulado «O Francesismo», de As Últimas Páginas, escreveu: «Há já longos anos que eu lancei a fórmula: — Portugal é um país traduzido do francês em vernáculo. A secura, a impaciência, com que ela foi acolhida, provou-me irrecusavelmente que a minha fórmula era subtil, exacta, e se colava à realidade como uma pelica. E para lhe manter a superioridade preciosa da exactidão, fui bem depressa forçado a alterá-la, de acordo com a observação e a experiência. E de novo a lancei assim aperfeiçoada: — Portugal é um país traduzido do francês em calão. E desta vez a minha fórmula foi acolhida com simpatia, com rebuliço, e rolou de mão em mão como uma moeda de ouro bem cunhada.»

1.9.06

Publicidade das autarquias


Gramática, 0, Estética, 1



      Já tinha visto na televisão, mas o facto de o leitor Hugo Santos me ter enviado uma mensagem a alertar para o facto determinou-me a dizer alguma coisa a este respeito. Trata-se da publicidade que a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo está nesta altura a fazer à Feira da Luz, cujo cartaz se vê em cima. Alguém decidiu que os hífenes é uma coisa fora de moda, que só atrapalha a caminhada quase — não fora os malditos hífenes — inexorável para o desenvolvimento local. Talvez seja, quem sabe, um estádio intermédio para um aglutinado: Montemoronovo. Francamente! Ainda se o nome fosse Porcalhota, ou Picha, ou Cachaporra, topónimos que existem ou existiram (excepto talvez o último, escolhido por efeitos retóricos), eu compreendia que quisessem mudar. Juízo!


Pontuação

Tudo na mesma

«Duas dirigentes da Associação Solidariedade Imigrante, foram ontem detidas e levadas para a esquadra da Brandoa para identificação» («Amadora nega que demolições na Aziganha [sic] se devam à CRIL», Alexandra Reis, Público, 31.08.2006, p. 49). Claro que não vou referir-me ao metagrama, até porque não acredito que escasseie pábulo para fazer estes textos que aqui vou publicando. A jornalista anda, vê-se, a ler Alexandre Herculano, que afirma no volume V dos Opúsculos: «Uma das cousas em que maiores incorrecções e incertezas aparecem no comum dos escritos, é a pontuação.» Herculano (que, a propósito, se lê /Hêrculano/, pois com e aberto é a cidade de que sempre se fala a par de Pompeia), um dos melhores cultores da língua portuguesa, em parte esquecido, ou lembrado pelas piores razões («Foi cá uma seca ter sido obrigado a ler Eurico o Presbítero», já ouvi um professor de Português desabafar), pontua esta frase de uma forma que, no português contemporâneo — e pena é que a esmagadora maioria de quem escreve ainda não o saiba —, é inadmissível. Refiro-me ao sujeito longo a ser separado por vírgula do seu predicado.