O autor de Os Burros ensina
«Mais tarde, em França, passaram a ser designados por libertinos os chamados livre-pensadores, e sobretudo aqueles que defendiam o fim do regime monárquico e que ditaram o fim da monarquia com a Revolução Francesa» (Lugares Comuns, Mafalda Lopes da Costa, Antena 1, 2.05.2011).
Vê-se e ouve-se muito por aí. Nome composto de adjectivo + substantivo: pluralizam ambos.
Livres-pensadores. Oh, diabo!, ainda alguém virá dizer-me que «livre» é advérbio, e por isso não pluraliza.
Livre-pensador é
quem pensa livremente, logo será «livre-pensadores». Solto, sem hífen, ainda era mais fácil tirar esta conclusão:
livre seria, sintacticamente, complemento circunstancial de modo. Há aqui, porém, pseudocircunstância, como afirma José R.
Macambira (
A Estrutura Morfo-Sintática do Português: Aplicação do Estruturalismo Lingüistico. Fortaleza: Imprensa Universitária da
Universidade Federal do Ceará, 1974, p. 304). Mas não, é adjectivo. Livre porque, em matéria religiosa, tem o poder de decidir por si próprio, porque pensa apenas segundo a razão, sem subordinação dogmática. Porque é que os dicionários, mormente os disponíveis em linha, não registam o plural dos vocábulos? Sr.ª Eng.ª Helena Figueira, é o próximo passo?
«O homem sisudo não pode olhar sem indignação para essa interminável coorte dos que neste século se dizem livres pensadores, quando contempla o soberbo, e ultrajante gesto, ou amargo sorriso com que eles olham para o homem de bem, que fiel a seus princípios, e consequente em sua crença, e conduta, respeita sua Religião, e a reconhece divina em sua fonte, e sua origem» (Sermão contra o Filosofismo do Século XIX, José Agostinho de Macedo, Lisboa: Impressão Régia, 1811, pp. 7-8 [actualização ortográfica minha]).
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