13.5.11

Informação



Caros leitores, mudei-me para aqui.



Depois da última paragem do Blogger e da perda de centenas de posts, não havia outra solução. Este blogue será mantido, continuarei a aceitar comentários, mas não será actualizado. Com sorte (e alguma cunha no SAPO), todos os posts e comentários serão transferidos para o Linguagista.



Léxico: «milagrar»

Da taumaturgia

      «Sylvie Testud interpreta uma rapariga tolhida pela esclerose múltipla que vai em excursão a Lourdes para fugir ao isolamento, mais do que por uma questão de fé ou esperando ser curada. Mas é ela que acaba por ser milagrada» («O curioso caso do milagre inesperado», Eurico de Barros, Diário de Notícias, 12.05.2011, p. 47).
      Milagrar é fazer, operar milagres, mas tenho dúvidas. «Milagrar, v. i. Pop. Fazer milagres: “Quanto pode Santo António se lhe dá p’ra milagrar!” Cf. Romanc. Ger. Port., II, 535. — “Que por todo o mundo andavas, noite e dia, a milagrar.” Ib. 532» (Brotéria, 12, 1931).


[Post 4775]

12.5.11

Linguagem

Menos descontracção

      «Portanto, sempre que temos um verbo no modo infinitivo, temos sempre de descontrair, ou não contrair, melhor dizendo, as preposições com artigo» (Jogo da Língua, Sandra Duarte Tavares, Antena 1, 3.05.2011). (É o que faço, mas Vasco Botelho de Amaral tinha, já aqui o escrevi, outra opinião.) Para descontrair, senhora linguagista, recomendo-lhe um miorrelaxante de acção central.

[Post 4774]

Verbo «comparar»

Um estranho caso

      Ora vejamos outra frase que sai facilmente, diariamente, da pena dos jornalistas económicos: «Este valor do HSBC compara com as despesas operacionais totais de 37,7 mil milhões de dólares (26,2 mil milhões de euros) no ano passado.» Não haverá confusão com outro verbo intransitivo, como, sei lá, «contrastar»? E não seria melhor escrever que «este valor do HSBC assemelha-se ao das despesas operacionais, etc.»? Ora andai; dizei de vossa justiça.

[Post 4773]

«Pentelho/pintelho»

Só para poetas

      «[…] e os jornalistas, em vez de discutirem como é que, quais são as medidas no sistema de justiça, como é que vão reforçar o poder dos directores da escola, como é que vão reforçar o ensino técnico-profissional, que é, vai ser uma revolução no programa, etc., em vez de andarem a discutir as grandes questões que podem mudar Portugal, andam a discutir — passo a expressão — pintelhos» (Eduardo Catroga, Negócios da Semana, Sic Notícias, 11.05.2011).
      Anda mal citado por aí — foi mesmo «pintelhos» que o coordenador do programa eleitoral do PSD disse. Grande admiração, reticências. Deviam pensar que só poetas e romancistas podiam usar a palavra: Jorge de Sena, Casimiro de Brito, Augusto Abelaira. «Desço a mão, cuidadosamente, quase um a um, afasto-lhe com os dedos os pintelhos até encontrar a abertura do sexo» (Sem Tecto entre Ruínas, Augusto Abelaira. Lisboa: Livraria Bertrand, 1979, p. 65).
      É verdade que a variante mais comum é «pentelho», e mesmo a única registada nos dicionários, mas não é por isso que se deve citar mal. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que regista «cona» e «caralho», por exemplo, esqueceu-se de pentelho/pintelho.

 [Post 4772]

11.5.11

Ortografia: «Simiídeos»

Só isto

      Estou aqui a ler que certos animais «estão muito afastados dos simídeos e dos humanos». Não, não. Ao i do primeiro elemento junta-se o i do controverso (ver aqui) sufixo –ídeo. Logo, Simiídeos. Não temos menos de cem vocábulos, de uso científico, com estes dois ii. Acridiídeo... zifiídeo. Contem-nos e depois digam qualquer coisa.


[Post 4771]

«Miocénico»? «Mioceno»?

Sem nostalgias, mas...

      E a propósito de evolução. Tudo evolui. Dantes, ao que me parece, as eras, as épocas e os períodos geológicos eram sempre referidas pelos nomes Paleoceno, Eoceno, Oligoceno, Mioceno, Plioceno, etc. Agora parece que já não é assim. «Os primatas mais antigos, de pequeno porte, lémures e tarseiros, começaram a aparecer no Paleocénico, etc.» Acompanharão os dicionários esta mudança? Vejamos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, o tal que está em todas as casas. «Paleocénico» não regista, por exemplo. E depois: «Eocénico  ⇒ Eoceno». «Cretácico ⇒ cretáceo». «Miocénico ⇒ Mioceno». Por enquanto, ainda com remissão.
      E esta «evolução» trouxe-me outra à mente: «mamaliano». Para distinguir adjectivo e substantivo, dizem os defensores.

[Post 4770]

«Idêntico/semelhante»

Passo

      «“Sabíamos que o Tarbossaurus adulto era muito idêntico ao T. rex”, explicou por seu turno o coordenador do estudo Takanobu Tsuihiji, do Museu Nacional da Natureza, em Tóquio» («Tiranossauros adultos não competiam com jovens», Filomena Naves, Diário de Notícias, 10.05.2011, p. 32). Takanobu Tsuihiji disse: «We knew that adult Tarbosaurus were a lot like T. rex
      Já aqui o perguntei uma vez: a identidade tem graus? Se temos o vocábulo «semelhante», porque havemos de usar sem propriedade o vocábulo «idêntico»? Alguém imagina Camilo a escrever assim? (Risos) Talvez José Régio (aventa um): «Não se teria mostrado simplesmente incompreensivo, orgulhoso, estreito, agindo por força dum preconceito muito idêntico a tantos que lhe repugnavam?» (As Raízes do Futuro, José Régio. Porto:  Brasília Editora, 1982, p. 151).

[Post 4769]

10.5.11

Etimologia de «fóssil»

Talvez fodere

      «O vocábulo fóssil deriva do termo latino fodere, “desenterrar”, via fossile, que significa “desenterrado”» (O Dedo de Galileu, Peter Atkins. Tradução de Patrícia Marques da Fonseca e Jorge Lima. Revisão de Ana Isabel Silveira. Lisboa: Gradiva, 2007, p. 22). Julgava lembrar-me que effodere (ou refodere) é que é, em latim, desenterrar; fodere é apenas escavar; infodere é, pelo contrário, enterrar. Seja como for, não queria deixar de partilhar o conhecimento desta etimologia.


[Post 4768]

Sobre «corruptela»

A besta do ortógrafo

      «— Também a bésta, no II Concílio de Latrão» (O Homem do Turbante Verde, Mário de Carvalho. Lisboa: Editorial Caminho, 2011, p. 44). E lá vem, fatal, a nota a «bésta», assinada por MdC (o autor gostou da novíssima abreviatura do Banco de Portugal). Até eu sou favorável a acentos diferenciais, mas não exageremos, ou podemos ir demasiado longe. «O leitor reparou que o autor escreveu “bésta”, com aposição dum acento agudo. Quando era mais jovem, por timidez, em Os Alferes, deixou que lhe corrigissem o acento (dessa vez grave) que tinha colocado em “pègada” (assim) e que era imprescindível para que o vocábulo não se confundisse à primeira leitura com “pegada”, do verbo “pegar”. Desta vez, o autor quis mesmo desfazer a homofonia e a homografia, demarcando as heranças de “balista” e de “bestia”. Se a ortografia se ressentiu, pior para ela, e para os ortógrafos.
      Os autores costumam ter algumas prerrogativas de invenção vocabular, desvio semântico e liberdade sintáctica. Não lhes está vedado, até, inventar sinais de pontuação, como fez Sterne e aqueloutro escritor, de que não me recordo agora o nome, que criou o ponto de indignação.
      Fica aqui proclamado, no pequeno território deste conto, o direito de o escritor escolher a sua própria acentuação, como aquelas bandeiras que as nações colocam nas ilhotas, antes que se afundem.
      À semelhança do que aconteceu logo a seguir a 1911, alguns autores fazem questão de manter a ortografia prévia ao acordo destes dias. Eu não exijo tanto, até mais ver. Quero é o acento em “bésta”.»

[Post 4767]



Sobre «corruptela»

De Torres Vedras a pulmonia


      «“Catrefada” vem de “catrefa”, que por sua vez é uma corruptela, ou seja, uma derivação da palavra “caterva”» (Lugares Comuns, Mafalda Lopes da Costa, Antena 1, 10.05.2011).
      Corruptela, corruptela... Sim, «catrefa» é corruptela de «caterva», como «pulmonia», que se ouve um pouco por todo o País, é corruptela de «pneumonia». (E quando terá corruptela passado a designar a palavra que por abuso se escreve ou se pronuncia erradamente? Terá sido no século XIX?) Contudo, derivação aqui não designa o processo de formação de palavras, pelo que seria de evitar neste contexto linguístico. De resto, as corruptelas são assunto fascinante, e estão para a norma linguística como o organismo teratológico está para a conformação biológica normal. Mas há corruptelas e corruptelas, pois algumas nada têm que contrarie a norma num sentido sincrónico. Torres Vedras, por exemplo, é corruptela de Turres Veteres, expressão da baixa latinidade para Torres Velhas. E a Pontevedra dos Galegos (não é assim, Fernando?) era uma simples Ponte Velha. «Vedro», arcaísmo, foi adjectivo usado durante muito tempo na língua portuguesa.

[Post 4766]

Regência de «ajudar»

Qual coroinha

      «O LIP, Laboratório de Instrumentação e Física de Partículas, criado para ajudar à participação portuguesa no CERN, organização europeia de investigação nuclear, assinalou ontem, em Coimbra, os seus 25 anos» («LIP criado há 25 para relançar ciência», Diário de Notícias, 10.05.2011, p. 32).
      Ajuda-se à participação como se ajuda à missa? Duvido. O verbo «ajudar» tem dupla regência: ajudar a («ajudar alguém a» + infinitivo) e ajudar em («ajudar em alguma coisa»: «ajudar em» + substantivo).
      «Pouco e pouco, obtive que ella viesse á igreja de quatro em quatro semanas, e n’essas occasiões já ella sabia que o seu filho era o menino que me ajudava á missa» (Novelas do Minho, Vol. 1, Camilo Castelo Branco. Lisboa: A. M. Pereira, 1922, p. 112).

[Post 4765]


9.5.11

Léxico: «palangreiro»

No mar

      Como decerto saberão (ou pelo menos Miguel Esteves Cardoso e Rui Tavares saberão), a Comissão Europeia remeteu para aprovação no Parlamento Europeu o novo protocolo assinado ao abrigo do Acordo de Parceria de Pesca (FPA) entre a União Europeia (UE) e Cabo Verde, que deverá ser votado esta semana. Este acordo autoriza a pesca de navios europeus, entre eles portugueses, em águas territoriais cabo-verdianas: 28 atuneiros cercadores, 35 palangreiros de superfície e 11 atuneiros com cana. Quanto aos primeiros e aos últimos, creio que não há dúvidas — mas o que é um «palangreiro» e de onde veio o termo? Os dicionários gerais da língua portuguesa não o registam. A suspeita de que era vocábulo espanhol levou-me a consultar o DRAE: cá está: palangrero é o barco de pesca com palangre, que é o cordel comprido e grosso de que pendem de espaço a espaço uns cordéis mais finos com anzóis nas extremidades. O étimo do espanhol é o vocábulo catalão palangre: «Ormeig que consisteix essencialment en una corda llarga, anomenada mare, de la qual pengen unes altres cordes més primes, anomenades braçols, cadascuna de les quals va proveïda d'un ham al seu extrem lliure

[Post 4764]

«Fora-da-lei»

A desacautelada

      «Ora, perante o grande número de foras-da-lei que aterrorizavam a zona [Carolina do Sul] em determinada altura, a população deu ao juiz Lynch carta branca para passar aquela que ficou conhecida como a lei de Lynch e que consistia na execução imediata do réu, dado como culpado, sem possibilidade de apelo e como parte integrante da sentença, execução essa que era feita nas instalações do tribunal e à vista de todos. Como se imagina, a injustiça, pela sua crueldade, passar desapercebida e o juiz que a praticou, John Lynch, deu origem ao verbo “linchar” e à expressão “ser linchado”» (Lugares Comuns, Mafalda Lopes da Costa, Antena 1, 9.05.2011).
      Fora-da-lei é invariável, como se pode ver em qualquer dicionário: um fora-da-lei, mil fora-da-lei. Quanto a «desapercebida», é erro muito comum e já aqui tratado mais de uma vez. «Homem desapercebido, meio combatido», diz o adágio.

[Post 4763]

8.5.11

Regência de «induzir»

Como os partos

      A frase é inventada, mas talvez todos os dias seja escrito algo semelhante pelos jornalistas económicos: «Analistas consultados pelo nosso jornal afirmam que a necessidade de consolidação fiscal nas grandes economias ocidentais, incluindo EUA, Reino Unido e França, vai induzir a um crescimento reduzido da economia.» Ora, na frase o verbo induzir não é bitransitivo, como é nestoutra: «Os remorsos, e a vergonha do vil officio que exercitava o induziram a tentar uma empresa gloriosa, cujo feliz resultado lhe servisse de rehabilitação moral» (História de Portugal, Livro II, Alexandre Herculano. Lisboa: em casa da Viúva Bertrand e Filhos, 1853, p. 399). Na frase do nosso jornalista, induzir é causar, provocar, originar.
      Outra vez: «Analistas consultados pelo nosso jornal afirmam que a necessidade de consolidação fiscal nas grandes economias ocidentais, incluindo EUA, Reino Unido e França, vai induzir um crescimento reduzido da economia.»

[Post 4762]

Sobre «calaça»

Vem do porco

      «“Calaceiro” vem de “calaça” e a palavra, de origem grega, designava muito especificamente as partes da carne do porco que não eram aproveitadas para o consumo. Como se imagina, deviam ser muito poucas, pois que do porco, como bem se sabe, tudo se aproveita, até os pezinhos. De qualquer forma, calaça eram pois estes restos do porco e terá assumido o significado de “preguiça”, “mandriice”, porque os mendigos, ao baterem à porta das casas, pediam por calaça, ou seja, pediam as sobras, os restos quer de carne quer de outros alimentos. E da parte pelo todo, surgiu o termo “calaceiro” como aquele que pede calaça, sinónimo de mandrião, preguiçoso, que não trabalha e vive da mendicidade, à custa dos outros» (Lugares Comuns, Mafalda Lopes da Costa, Antena 1, 6.05.2011).
      Lá terá as suas fontes. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não contribui para a elucidação da questão. O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa regista a acepção antiga «foro que consistia numa porção de carne», mas trata-se de óbvia má interpretação do que diz Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo no seu Elucidário. Para o honesto Morais, calaça era a «costela de porco, ou banda». Quanto a «calaceiro», dá-o como derivado, provavelmente, do espanhol calabacero. «Parece ser a costa, ou banda de um porco» registou Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo.

[Post 4761]

Como se escreve nos jornais

A desorbitada

      «O arraso que os vários discursos presidenciais fizeram aos “políticos” e aos “partidos” pareceu-me também muito desadequado: todos eles foram e são políticos (sim, Eanes e Cavaco também).
      Além disso, não conheço democracias sem partidos. E, acima de tudo, penso que estas figuras de referência têm a obrigação de incentivar as novas gerações para a generosidade da política» («25 de Abril», Inês Pedrosa, Sol, 29.04.2011, p. 12).
      «Arraso» só pode ser linguagem de telenovela brasileira. A escritora não encontrou nada mais português. Sobre «desadequado», já aqui disse alguma coisa. E a regência do verbo incentivar é outra: incentivar a.

[Post 4760]

Como se escreve nos jornais

O orbícola

  
      «A filha de D. João VI, nascida em 1638, casou com Carlos II de Inglaterra em 1662. O matrimónio consolidou a aliança anglo-portuguesa, especialmente importante nas décadas subsequentes à Restauração. […] A estátua foi encomendada à escultora Audrey Flack, que concebeu uma enorme Catarina em bronze, com jóias, uma orbe nas mãos e uma tiara na cabeça» («Catarina e a estátua», Pedro Mexia, «Atual»/Expresso, 30.04.2011, p. 3).
      Todos erramos, eu sei — mas nem todos temos um revisor a corrigir-nos. D. Catarina de Bragança era filha de D. João IV, o Restaurador (1604—1656). D. João VI, o Clemente, nasceu mais de século e meio depois (1767—1826). São ambos reis muito marcantes para serem confundidos, de qualquer modo. Consultei doze dicionários da língua portuguesa, e em todos «orbe» é registado como pertencendo ao género masculino.


[Post 4759]

Catacrese

São só favas

      «Para quem ficou com água na boca, Hélio Loureiro revela os melhores truques para realçar o sabor das favas, como retirar-lhes a ‘camisa’, para ficarem mais macias. “A gordura e um toque de açúcar são também importantes”, lembra» («Malditas favas», Joana Ludovice de Andrade, Sol, 29.04.2011, p. 40).
      Quanto à gordura e ao açúcar, confirmo, a minha mãe ensinou-me o truque. Em relação à «camisa», parece-me catacrese escusada, pois sempre ouvi que as favas têm casca e pele. Porque, se a pele é a camisa, a casca é o casaco.
      A fava, sabiam?, é rica em iodo, e quem fala em iodo lembra-se de Marinho e Pinto e da recomendação que fez ao cronista Manuel António Pina (que aqui nos asseguram «que por acaso é um dos maiores portugueses vivos» — como é por acaso, custa menos a acreditar): «Senhor Manuel António Pina, não se atormente mais. O seu mal cura-se com uma dose apropriada de iodo. Trate-se! Vá para uma boa praia e... Ioda-se!»


[Post 4758]

7.5.11

Léxico: «filo»

Uma pela outra

      Gostei muito do esventolada — era impossível ser mais expressiva. Para a troca, deixo-lhe outra (nestes tempos mais ou menos pacíficos — mas os Americanos lá assassinaram Bin Laden — menos útil, mais ainda assim) também expressiva: suspêndio, outro nome para a forca.
      E agora, como no circo, algo completamente diferente. «O artifício fraudulento, salvo diferenças de pormenor, obedecia ao seguinte esquema: açudado e de aflição estampada no rosto, o burlão aproximava-se da vítima a lamentar ter em seu poder um vigésimo premiado com cem contos, que infelizmente já não podia rebater por terem acabado de encerrar os estancos da lotaria» («O vigésimo premiado e o aeroporto de Beja», José Marques Vidal, Sol, 29.04.2011, pp. 30-31).
      Senhor magistrado jubilado, está errado: açudar e açodar são parónimos. Com u são todas as que dizem respeito à represa de água, açude. Com o, que era o que deveria ter escrito, é apressado em demasia. Não vou ser severo, pois o ex-magistrado até me revelou uma palavra que eu desconhecia: «Se o patarata engolia o logro, logo ali ficava sem os vinte contos que acabara de retirar do banco. Se mostrasse desconfiança, intervinha o filo, o auxiliar do burlão, que se aproximava a evidenciar interesse pelo negócio, munido de uma lista dos prémios da lotaria onde, escarrapachado, ao número do vigésimo exibido correspondia a batelada de cem contos sem sombra de dúvida» (idem, ibidem). Agora acode-nos Afonso Praça: «Filo (cri.) — Aquele que tem por missão preparar o otário no conto do vigário» (Novo Dicionário de Calão. Lisboa: Círculo de Leitores, 2001, p. 109).


[Post 4757]

Gentílicos e maiúscula

Rigor germânico

      «Os Gregos abordaram de forma inútil o movimento dos corpos e confundiram o mundo durante 2 mil anos: o seu estilo de formular questões sentados em poltronas era mais apropriado à matemática e à ética do que à física» (O Dedo de Galileu, Peter Atkins. Tradução de Patrícia Marques da Fonseca e Jorge Lima. Revisão de Ana Isabel Silveira. Lisboa: Gradiva, 2007, p. 112).
      Só serve para exemplificar, porque está correcto. A última moda, ao que vejo, é grafar com maiúscula inicial apenas os gentílicos antigos! Celtas, Maias, Astecas... Acreditem. Tudo sancionado por revisores, imagino. Só gente como eu e Harri Meier († 1990), um simples romanista conceituadíssimo, propugnam o contrário (e as gramáticas, claro): «Nos etnónimos, exige-se a maiúscula quando se trata das populações em conjunto, seja que a coletividade se exprima no plural ou no singular (os Portugueses, “o Português gosta de bacalhau” = “os Portugueses”), ao passo que precisamente as individualizações requerem a minúscula (muitos americanos, quaisquer americanos, o brasileiro)» (Ensaios de Filologia Românica, Vol. 1, Harri Meier. Rio de Janeiro: Grifo, 1974, p. 199). Só não faço assim quando o «livro de estilo» das editoras manda fazer o contrário.

[Post 4756]

Prefixo «co-» e hífen

Caos

      «A co-evolução do parasita e do hospedeiro, cada um dos quais fornece um ambiente em rápida mudança para a evolução do outro, requer um tipo de resposta especial e rápida, que o sexo pode proporcionar» (O Dedo de Galileu, Peter Atkins. Tradução de Patrícia Marques da Fonseca e Jorge Lima. Revisão de Ana Isabel Silveira. Lisboa: Gradiva, 2007, p. 51).
      Coevolução ou co-evolução? O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não quer comprometer-se, e por isso, se regista «coeducação», não regista «coevolução». Depois do novo acordo ortográfico será mais simples. Antes, ou seja, agora e até 2016 (Maio ou Setembro, Fernando?), se o prefixo significa «a par», «juntamente», exige hífen — co-eleitor, co-esposa, co-eterno —, como se lê aqui, no sítio da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde se previne: «A regra, no entanto, não se aplica facilmente e de forma coerente, razão por que, em caso de dúvida, é sempre melhor consultar um dicionário.» Consultemos então a edição portuguesa do Dicionário Houaiss, porque regista ambos os vocábulos. Lá está: «co-educação» mas «coevolução». Pergunto: não significa o prefixo, em ambos, «a par», «juntamente»?


(Já aqui tínhamos visto cogeração/co-geração.)
[Post 4755]

6.5.11

Concordância verbal

Oiçam esta

      Depois de ter dito que «malabarismo» veio de Malabar, a região na costa ocidental da Índia e dos seus habitantes, Mafalda Lopes da Costa entrou na substância do conceito: «Inicialmente, a definição de “malabarismo” remetia apenas para a prática de determinados movimentos de contorcionismo e de jogos de grande destreza física como, por exemplo, manejar vários objectos ao mesmo tempo, como se podem ver fazer nos circos» (Lugares Comuns, Mafalda Lopes da Costa, Antena 1, 3.05.2011).
      Numa locução verbal formada por um verbo modal (poder, neste caso), a concordância verbal é feita obrigatoriamente entre o verbo modal, o único que deve concordar em número e pessoa, e o sujeito. E qual é, na frase, o sujeito? Querem ver que é o sujeito da oração anterior, da subordinante?
      E quem escreveu no sítio do programa «Fazer Malabarismos e os Conturcionistas»? Em contorções, nas vascas da agonia, fica a língua com estes desmazelos. Todos os problemas ortográficos, comparados com este erro, são nada.

[Post 4754]


Uso do itálico

Latins

      O uso do itálico também intriga. Alguém tem alguma teoria? Há latim e latim... «Assim, os seres humanos são classificados (ironicamente, segundo alguns) como a espécie Homo sapiens, do género Homo, pertencente à família Hominidae, superfamília Hominoidea, da infra-ordem Catarrhini, subordem Anthropoidea, ordem dos Primatas, subclasse Eutheria, classe dos mamíferos, superclasse dos tetrápodes, que é membro do subfilo dos vertebrados, filo dos cordados, no reino animal, domínio dos eucariontes no império dos organismos» (O Dedo de Galileu, Peter Atkins. Tradução de Patrícia Marques da Fonseca e Jorge Lima. Revisão de Ana Isabel Silveira. Lisboa: Gradiva, 2007, p. 16).

[Post 4753]

Tradução

Meia tradução

      Para um trabalho, tive de pesquisar informação relacionada com a evolução do Homem. Abundam, é claro, as traduções. E vê-se logo que são traduções. O original fala de «Olduvai Gorge»? Na tradução fica «Olduvai Gorge»! «Em 1962, Louis Leakey, o decano dos caçadores de fósseis de hominídeos, encontrou os restos de um hominídeo que usava instrumentos quando escavava em Olduvai Gorge, na planície Serengeti, na Tanzânia, que identificou como a nova espécie Homo habilis («homem hábil»), com cerca de 1,8 milhões de anos» (O Dedo de Galileu, Peter Atkins. Tradução de Patrícia Marques da Fonseca e Jorge Lima. Revisão de Ana Isabel Silveira. Lisboa: Gradiva, 2007, p. 56).
      Não é garganta, ou desfiladeiro, ou abertura, ou aberteira, ou portela — é Gorge! (E não é planície do Serengeti?) O original fala em «Gorham’s Cave»? Na tradução fica (mas não li ainda na tradução citada) «Gorham Cave»!



[Post 4752]

Como se escreve nos jornais

E por falar em triunvirato

      «O discurso de Sócrates na terça-feira sobre o acordo com o triunvirato BCE-FEEF-FMI teve um carácter absolutamente singular na história da comunicação política portuguesa, porventura mundial e até histórica» («Inovação retórica: inventar para desmentir», Eduardo Cintra Torres, «P2»/Público, 6.05.2011, p. 12).
      Sim, percebo, mas não é por estar bem escrito — porque está malissimamente escrito. Muita «história». E o triunvirato não é BCE-CE-FMI?

[Post 4751]

Léxico: «sofra»

Novíssimo triunvirato

      Com o novo triunvirato a mandar em nós, vamos sofrer mais e teremos de trabalhar, se conseguirmos, mais. Continuaremos sojigados por muitos anos. Proponho por isso que reabilitemos a palavra antiga sofra: Capacidade, ardor no trabalho. Infelizmente, foi escorraçada há muito dos dicionários. Ah, sim, «sojigados» também é arcaísmo. Vindas de tão longe, não quero que fiquem aqui sozinhas, e por isso junto soés (somente), soestro (esquerdo), soforar (tocar, ranger, fustigar, picar de espora), sofragaia (sufragânea, dependente, anexa), sofrença (sofrimento) e sotal (condição; condicionalmente; contanto, debaixo de tal). Só da letra esse.

[Post 4750]


«Troika/tróica»

Ou «tróica», melhor

      «A troika chateia. Porque havemos nós de aturar esta palavra para falar de três anónimos mandões que não conhecemos nem escolhemos de parte nenhuma, quando tem tanta hora literária? Por exemplo, na genial primeira parte das Almas Mortas de Gogol, nomeando os três cavalos que puxam a carruagem do putredinoso Chichikov?» («Qual troika», Miguel Esteves Cardoso, Público, 6.05.2011, p. 45).
      Chateia mesmo. E, tanto quanto sei, nem sequer um jornal ou revista escreveu «tróica» (ou «troica», vá, que o Acordo Ortográfico de 1990 anda por aí). É nestas pequenas coisas que se nota a força da maioria — e dos maus conselhos. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, lê-se: «tróica ⇒troika». Está tudo dito.

[Post 4749]

Infinitivo pessoal

A troika

      «Muito manifestamente, os senhores a que pedimos para mandar em nós, depois de observarem a balbúrdia indígena, não têm confiança nos portugueses para tratar sem ajuda dos problemas de Portugal» («O mau aluno», Vasco Pulido Valente, Público, 6.05.2011, p. 48).
      Temos duas acções — pedir e mandar — e dois sujeitos, «os senhores» e «nós». Para distinguirmos, não devemos usar o infinitivo pessoal ou flexionado?

 [Post 4748]

Linguagem

Falar por catacreses

      «[…] e por isso mesmo seria devastadoramente mais esperto, para o seu tempo.» Um toque queirosiano? Hum... «Noutras línguas acontecem casos semelhantes. Por exemplo, em inglês awful é medonho; o que não impede, em calão (em slang), se diga — She is awfully beautiful, ou seja, à letra, é medonhamente bela..., mas com o significado de — é formidàvelmente (extraordinàriamente) bela. Ora, os tropos são admissíveis e necessários. Sem êles, nunca poderia a arte literária enriquecer-se de modos de dizer expressivos, brilhantes, ou, melhor, vivos. Tudo tem, no entanto, os seus limites e, à sombra das concessões dos tropos, não podemos abusar do sentido das palavras» (Meditações Críticas sobre a Língua Portuguesa, Vasco Botelho de Amaral. Lisboa: Edições Gama, 1945, pp. 194-95).

[Post 4747]



5.5.11

Léxico: «utility»

Chefe da oposição

      Então o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa regista tarseiro (não confundir com traseiro) e esqueceu-se de siamangue? O primeiro designa um género de mamíferos lémures de tarsos muito compridos, e o segundo é também conhecido como gibão-siamango (Symphalangus syndactylus).
      Não venho aqui apenas por isto, mas para lamentar que Pedro Passos Coelho, na entrevista de ontem, tenha usado o anglicismo utilities assim sem mais nem menos. Utilities são empresas de fornecimento de electricidade, gás e água, por norma consideradas empresas de utilidade pública e pouco sensíveis aos ciclos económicos. Só os economistas é que deviam falar assim — mas apenas quando falam para outros economistas.

[Post 4746]

Ortografia: «Jedá»

Em português

      «Chegado à Arábia Saudita quando ainda não havia país com esse nome, Mohammed Bin Laden fez todo o tipo de trabalhos menores na cidade de Jedá, até lhe caber uma empreitada no porto da cidade que, parece, chamou a atenção da Casa de Saud» («Na morte de Osama», Rui Tavares, Público, 4.05.2011, p. 40).
      Até no Diário de Notícias se usa habitualmente a grafia Jeddah. Ora, devemos sempre preferir uma grafia portuguesa.


[Post 4745]

4.5.11

Léxico: «retroiluminação»

Nada de novo

      «A retroiluminação permite adaptar o ambiente consoante a cor e intensidade da luz» («‘Sushi’ cosmopolita com exclusividade», Davide Pinheiro, Diário de Notícias, 3.05.2011, p. 60).
      Vem do inglês retroillumination, e, se ainda não se encontra registado nos dicionários gerais de língua inglesa, por cá já o temos no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Não, não é preso por ter cão, preso por não ter cão. Parece algo muito moderno, mas a verdade é que há muito tempo que se usa no campo da medicina, pois é a designação dada à técnica de examinar tecidos transparentes e semitransparentes (como a córnea) fazendo incidir uma luz pela parte de trás desses tecidos. Infelizmente, vê-se muitas vezes incorrectamente escrita, com hífen. Contudo, é retroiluminação, como retroactividade e retroalimentação, por exemplo.


[Post 4744]

Como se escreve nos jornais

Ficamos sem saber

      «No discurso de abertura desta reunião ‘magna’ dos bispos portugueses, D. Jorge Ortiga exortou os políticos a debater “o estado da sociedade portuguesa com ideias claras e propostas autênticas”» («Bispos pedem campanha eleitoral com “transparência e honestidade”», P. C., Diário de Notícias, 3.05.2011, p. 24).
      Mas a reunião foi magna ou não? Rápido, que eu tenho de ir tomar o pequeno-almoço. Magna: que, pela importância, se sobrepõe a tudo o que lhe é congénere; de grande relevância, como o define o Dicionário Houaiss.
      «Realisou-se essa reunião magna na sala principal do palacete situado na rua da Atalaia, onde annos depois vieram a estabelecer-se as officinas do jornal O Economista, do conselheiro Antonio Maria Pereira Carrilho» (Factos e Homens do Meu Tempo, Pedro Wenceslau de Brito Aranha. Lisboa: A. M. Pereira, 1908, p. 225).

[Post 4743]

Léxico: «geopolitólogo»

Do mesmo jaez

      «Apesar dos 25 milhões de dólares oferecidos pela sua captura, Ben Laden insistia em escapar à superpotência ferida, refugiando-se naquilo que os geopolitólogos chamam Af-Pak, tanto a ameaça islamita no Afeganistão e no Paquistão se confundem hoje em dia» («Ben Laden está morto, a ameaça terrorista não», Diário de Notícias, 3.05.2011, p. 16).
      O que se disse sobre «politólogo» pode dizer-se de «geopolitólogo». O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa não perde a oportunidade: «Sugerir a inclusão no dicionário da palavra pesquisada.» Tomem, agarrem-na.


[Post 4742]

3.5.11

Plural dos etnónimos

Perdeu, perdemos

      «Estudo na cama, estudo na lama», costumava dizer o Prof. Ruy de Albuquerque (com i grego, sim senhor). Mas Proust, enfermiço em busca da melhor posição, trabalhava sempre na cama, num quarto à prova de som. Ontem à noite, pus-me a estudar algumas questões na Moderna Gramática Portuguesa, de Bechara (37.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002), que já aqui citei hoje numa caixa de comentários. Ora vejam isto: «Por convenção internacional de etnólogos, está há anos acertado que, em trabalhos científicos, os etnônimos que não sejam de origem vernácula ou nos quais não haja elementos vernáculos não são alterados na forma plural, sendo a flexão indicada pelo artigo plural: os tupi, os nambiquara, os caiuá, os tapirapé, os bântu, os somali, etc.» (p. 129). Reparem: «Em trabalhos científicos», não no Público ou no Correio da Manhã. Na conferência em que se deliberou nesse sentido, o representante do Brasil ainda ponderou «que todos os escritores luso-brasileiros, inclusive um clássico da excelsitude de Vieira, sempre adoptaram a forma do plural nos nomes de tribos ou grupos indígenas, ad instar das demais coletividades humanas», mas ficou assim.


[Post 4741]

2.5.11

Sobre «savana»

Em maus lençóis

      E José Rodrigues dos Santos disse, no mesmo Telejornal, que o corpo de Bin Laden foi «despejado ao mar». É um grande escritor, conhecedor, como se vê, dos clássicos, que usaram a expressão despejar o inimigo para significar ir dando cabo deles. E também podia ter dito simplesmente que os Americanos se despejaram, o que significa desembaraçar-se de alguma coisa que estorva, incomoda. Mas isto agora não interessa.
      Para lá de Badajoz, os mais prudentes dão como incerta a etimologia do vocábulo «savana». Nós recebemo-lo do espanhol, sim, mas onde o foi buscar esta língua? Talvez, aventam alguns, a uma língua das Caraíbas. Há algo mais a dizer sobre «savana». Até falantes do espanhol confundem sabana, a nossa «savana», com sábana, o nosso «lençol» (proveniente do latim, e que no português antigo também se usava), pelo que não é muito surpreendente que Cândido de Figueiredo, no seu dicionário, tenha caído neste erro: «Assim se escreve e se lê geralmente, mas a pronúncia exacta é sávana.» E, em coerência com o aviso, dá-o como proveniente do espanhol sábana, «lençol». Mas isto foi no século XIX. Não afirmou Sá Nogueira que o Novo Dicionário, o melhor até então, era fraco nas etimologias?

 [Post 4740]

Como se fala na televisão

É da emoção

      Bin Laden lá pagou o tributo à Natureza, e a jornalista Márcia Rodrigues, em directo da zona de embate nas Torres Gémeas para o Telejornal, viu pessoas que «foram pagar um tributo às vítimas dos atentados de 11 de Setembro de 2001». Imagino que só os sobreviventes dos atentados tenham recebido o tributo... Cara Márcia Rodrigues, não confunda as coisas: pagar um tributo é pagar uma taxa ou imposto; prestar tributo é prestar homenagem.

[Post 4739]

«Livre-pensador»: plural

O autor de Os Burros ensina

      «Mais tarde, em França, passaram a ser designados por libertinos os chamados livre-pensadores, e sobretudo aqueles que defendiam o fim do regime monárquico e que ditaram o fim da monarquia com a Revolução Francesa» (Lugares Comuns, Mafalda Lopes da Costa, Antena 1, 2.05.2011).
      Vê-se e ouve-se muito por aí. Nome composto de adjectivo + substantivo: pluralizam ambos. Livres-pensadores. Oh, diabo!, ainda alguém virá dizer-me que «livre» é advérbio, e por isso não pluraliza. Livre-pensador é quem pensa livremente, logo será «livre-pensadores». Solto, sem hífen, ainda era mais fácil tirar esta conclusão: livre seria, sintacticamente, complemento circunstancial de modo. Há aqui, porém, pseudocircunstância, como afirma José R. Macambira (A Estrutura Morfo-Sintática do Português: Aplicação do Estruturalismo Lingüistico. Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, 1974, p. 304). Mas não, é adjectivo. Livre porque, em matéria religiosa, tem o poder de decidir por si próprio, porque pensa apenas segundo a razão, sem subordinação dogmática. Porque é que os dicionários, mormente os disponíveis em linha, não registam o plural dos vocábulos? Sr.ª Eng.ª Helena Figueira, é o próximo passo?
      «O homem sisudo não pode olhar sem indignação para essa interminável coorte dos que neste século se dizem livres pensadores, quando contempla o soberbo, e ultrajante gesto, ou amargo sorriso com que eles olham para o homem de bem, que fiel a seus princípios, e consequente em sua crença, e conduta, respeita sua Religião, e a reconhece divina em sua fonte, e sua origem» (Sermão contra o Filosofismo do Século XIX, José Agostinho de Macedo, Lisboa: Impressão Régia, 1811, pp. 7-8 [actualização ortográfica minha]).


[Post 4738]

1.5.11

O feminino de «todo-poderoso»

Quem fez isto?

      Talvez F. V. Peixoto da Fonseca tivesse razão: o feminino (e o plural) oficial de «todo-poderoso» é um disparate. «Todo» é advérbio? Recuamos e o que se lê sempre é (esqueçamos agora o hífen) todo poderoso, todo poderosos, toda poderosa, todas poderosas. Temos de esperar que se legisle noutro sentido.

[Post 4737]