30.7.06

Glossário: em forma de...

Em forma de… Com a aparência de… Semelhante a…


Açafate: calatiforme
Ácaro: acaróide
Acúleo: aculeiforme
Ágata: agatóide
Água: hidróide
Agulha: aciforme
Albumina: albuminiforme, albuminóide
Alface: lactúceo
Alfange: acinaciforme
Alga: algóide, ficóide, fucóide
Alvéolo: alveoliforme, alveoraliforme, faviforme
Ameixa: pruniforme
Amêndoa: amigdalóide
Amentilho: amentiforme
Amianto: amiantóide
Amido: amilóide
Amora: muriforme, rubiforme; muriculado
Ampola: buliforme
Anel: aneliforme
Animal: zoóide
Ansa: ansiforme
Antena: anteniforme
Antera: anteriforme
Antraz: antraciforme, antracóide
Apêndice: apendiciforme
Ápice: apiciforme
Ar: aeróide
Arado: aritriforme
Aranha: araneiforme, aracnóide
Arbusto: arbustiforme
Arco: arciforme, arquiforme
Areia: areniforme
Aresta: aristiforme
Argila: argiliforme, argilóide
Arroz: oriziforme, orizóide, orizóideo
Árvore: arboriforme, dendriforme, dendróide, dendromorfo
Asa: aliforme, pterigoídeo
Astrágalo: astragalóide
Aurícula: auriculiforme
Bacia: pelviforme
Báculo:
baculiforme
Baga:
baciforme
Bago:
aciniforme
Bago de uva:
aciniforme, ragóide, ragoídeo
Bainha: vaginiforme, vaginóide
Barba: barbiforme
Barco:
escafóide
Basalto:
basaltiforme
Bastão:
baculiforme
Bexiga:
cistóide, vesiculiforme
Bico de corvo: coracóide
Bico de gralha:
coronóide, coronóideo
Bico: ranfóide, rostriforme
Boca: oriforme
Bolbo:
bolbiforme
Bolota:
balanóide
Bráctea:
bracteiforme
Bubão:
bubunóide
Cabeça:
cefalóide
Cabelo:
capiliforme, criniforme, tricóide
Cacho: racimoso
Cacto:
cactiforme, cactóide
Cadeia: cateniforme; torulóide
Cálice:
caliciforme
Cama:
clinóide
Camadas sucessivas:
estratiforme
Camelo:
cameliforme
Cana:
caniforme, siringóide
Canal:
canaliforme
Cancro:
canceriforme, cancriforme, cancróide
Canoa: cimbiforme
Capuz: cuculiforme; uncinado (Botânica)
Caracol:
cocleiforme, helicoidal, helicóide
Caranguejo: cancriforme
Carena:
careniforme
Caroço:
pirenóide, borbeto
Cartilagem: condróide
Carvão:
carboniforme
Cauda:
uróide
Caule:
cauliforme
Célula:
celuliforme, citóide
Cenoura: dauciforme
Centáurea:
cianóide
Cera:
ceróide
Cercadura:
marginiforme
Cérebro:
cerebriforme, cerebróide, enfefalóide
Cevada: hordeiforme
Cíato: ciatiforme, ciatóide
Cilindro: cilindriforme, cilindróide, teretiforme
Cílio: ciliforme
Címbalo: cimbalóide
Cinto: cestóide
Cintura:
zoniforme
Cinza:
cineriforme
Cipreste:
cupressiforme
Círio:
cereiforme
Cisne:
cicnóide
Cisticerco:
cisticercóide
Clava:
claviforme
Cobra:
anguiforme
Cogumelo: fungiforme
Cola:
coloidal, colóide
Colchete: ancilóide
Cólera:
coleriforme
Colher:
cocleariforme
Colmeia:
colmeiforme
Colmo:
calamiforme
Concha:
conchiforme, conchóide, concóide, concoidal, conquiforme, conquilióide, testaceiforme
Côndilo: condilóide
Cone:
coniforme, conóide
Copo: acetabuliforme, ciatóide, copuliforme
Coqueluche: coqueluchóide
Coração:
cardióide, cordiforme
Coração invertido: obcordiforme
Coral:
coraliforme, coralóide
Cordão: funiforme
Coreia:
coreiforme
Corimbo:
corimbiforme
Corno:
corniforme, corniculiforme
Coroa: coroniforme
Corola:
coroliforme
Corpo:
corporiforme
Cortiça:
corticiforme, suberiforme
Coscorão: crustuliforme
Costela:
costiforme
Cótilo:
cotilóide
Couro:
dermatóide
Coxim: pulviniforme
Crânio: cranióide
Cratera:
crateriforme
Cristal:
cristalóide
Crivo:
cribiforme, cribriforme, criviforme
Cruz: cruciforme
Cubo:
cubiforme, cubóide
Cunha: cuneiforme, esfenóide
Cúpula: cupuliforme
Dedal:
digitaliforme
Dedo:
digitiforme
Delta (forma triangular de):
deltóide
Dente:
dentiforme, odontóide
Deus: deiforme
Diamante:
diamantóide
Disco:
disciforme, discoforme, discóide
Drusa: drusiforme
Eczema:
eczematiforme
Eixo:
axóide
Elefante:
elefantóide
Elipse:
elipsoidal, elipsóide
Enguia: anguiliforme, anguilóide
Epiderme: epidermóide
Epilepsia:
epileptiforme, epileptóide
Epitélio: epitelióide
Eritema:
eritemóide
Erva:
herbiforme
Ervilha:
pisiforme
Escama:
escamiforme
Escarlatina:
escarlatiforme
Escorpião:
escorpióide
Escudo:
clipeiforme
Esfera:
esferóide
Espada:
xifóide, ensiforme
Espiga: espiciforme
Espinho:
espiniforme
Espiral:
espiróide
Esponja:
espongiforme
Esporão de navio:
rostral
Estalactite:
estalactiforme
Estilete: estiliforme, estilóide, grafióide
Estrela: asteriforme, asteróide, astróide
Fava: ciamóide, fabiforme
Favo: faviforme
Fécula:
feculóideo
Feldspato:
feldspatóide
Fenda:
fissiforme
Fenda estreita:
rimiforme
Fezes:
fecalóide
Fibras:
fibróide
Figo:
ficiforme
Filamento:
bissóide
Fio:
filiforme, nematóide
Fita: cestóide
Flagelo:
flageliforme
Flor:
floriforme
Foice:
falciforme, fouciforme
Folha: filóide, foliforme
Forma achatada: homalóide, planiforme
Forma circular: ciclóide
Forma comprida:
dolicóide
Forma direita:
rectiforme
Forma igual:
pariforme
Forma imprecisa (ou ausência de forma):
informe
Forma que muda frequentemente:
proteiforme
Forma variável:
diversiforme, pluriforme
Framboesa: rubiforme
Fruto:
frutiforme
Fuco:
fuciforme, fucóide
Fungo: fungiforme
Funil:
infundibuliforme
Fuso:
fusiforme, fusóide
Gália: galeiforme
Galo:
galiforme
Gancho:
unciforme, ancilóide, anciróide
Gânglio: gangliforme
Ganso:
anseriforme
Garrafa: ampulóide
Gás: gaseiforme
Gelatina:
galatiniforme
Gládio:
gladiforme
Glande:
glandiforme
Glândula:
glanduliforme
Globo:
globiforme
Gordura:
lipóide
Gráfio: grafióide
Gramínea: graminiforme
Granito:
granitóide
Grânulo:
granuliforme
Grão:
graniforme
Grés:
gresiforme
Haste:
hastiforme
Hélice:
helicoidal, helicóide
Helminta:
helmintóide
Hemisfério:
hemisferoidal, hemisferóide
Hera: cissóide, hederiforme
Hipérbole: hiperboliforme, hiperbolóide
Histeria: histeriforme
Homem:
andróide, antropóide, humanóide
Icterícia: icteróide
Insecto:
insectiforme
Invólucro:
involucriforme
Ipsílon:
ipsilóide
Labirinto:
labirintiforme
Lagarta:
eruciforme
Lagarto:
lacertiforme
Lambda:
lambdóide
Lamela:
lameliforme
Lâmina de faca:
cultriforme
Lança:
hastiforme, lanciforme
Lardo: lardiforme
Larva:
larviforme
Legume:
leguminiforme
Leite:
lacteiforme, lactiforme
Lente:
lentiforme
Lentilha:
facóide, lentiforme
Leque: flabeliforme
Lesma: limaciforme
Lígula: liguliforme
Lima:
limiforme
Linfa:
linfóide
Língua:
glossóide, linguiforme
Língula: lingulóide
Líquen: liquenóide
Lira: liriforme
Lódão: lotiforme
Lombriga: lombriciforme, lombricoidal, lombricóide
Lua (e as suas fases): luniforme
Maça:
claviforme
Maçã:
maliforme
Macaco:
pitecóide
Machadinha:
securiforme
Madeira:
ligniforme, xilóide
Madrepérola:
madreporiforme
Mama:
mameliforme, mamiforme
Mamilo: mamiliforme, mastóide
Mancha pequena: maculiforme
Mandíbula:
mandibuliforme
Mão:
maniforme
Margarina: margaróide
Mármore: marmoriforme
Martelo:
maleiforme
Maxila:
maxiliforme
Medula dos ossos:
mielóide
Medusa:
medusiforme, medusóide
Melão: meloniforme
Menisco:
meniscóide, meniscóideo
Metal: metaliforme, metalóide
Milfolhada: aquileóide
Mirto (folha):
mirtiforme, mirtóide
Mitra: mitriforme
Moeda:
monetiforme
Molar (dente):
molariforme
Molusco:
moluscóide
Morango:
fragiforme
Mosquito:
culiciforme
Muco:
muciforme, mixóide
Mulher: feminiforme
Musgo:
muscóide
Nabo:
napiforme
Nádegas:
natiforme
Narciso:
narcisóide
Nastro:
nastriforme
Náutilo:
nautilóide
Navio:
naviforme
Negro (raça):
negróide
Neve:
niviforme
Ninfa:
ninfóide
Ninho:
nidiforme
Noz:
nuciforme
Octaedro:
octaedriforme
Odre:
utriforme
Ogiva:
ogival
Olho:
oculiforme
Opérculo:
operculiforme
Orelha:
auriculiforme, auriforme
Osso:
ossiforme, osteóide
Ostra: ostreiforme
Ouriço:
equinóide, erinaciforme
Ovo:
oval, ovalar, oviforme, ovóide
Ovo invertido:
oboval, obovalado, obóveo, obovóide
Óvulo: ovuliforme
Palha:
paleiforme
Palma:
palmiforme
Palmeira: dactiliforme
Papel: papiriforme
Papiro:
papiriforme
Pápula:
papuliforme
Parábola:
parabolóide
Parede:
septiforme
Pastilha comprimida:
tablóide
Patela:
pateliforme
Pé:
pedaliforme, pediforme
Pedra: litóide
Peixe:
ictióide, pisciforme
Pele: dermatóide, dermóide
Pêlo: piliforme, tricóide
Pêlo rígido: setiforme
Pelta (pequeno escudo):
peltiforme
Pena:
peniforme, plumiforme, plumuliforme
Penacho: papiforme
Pente:
ctenóide, pectíneo
Pepino: cucumiforme
Pêra:
periforme, piriforme
Pescoço: coliforme
Pétala:
petaliforme, petalóide
Pião: turbiniforme
Pilão:
pistiliforme
Pinça: queliforme
Pinha: piniforme, pinhiforme
Pirite: piritiforme
Placa:
placóide
Planta:
fitóide
Pluma:
plumiforme, plumuliforme
Pó: pulveriforme
Pomo:
pomiforme
Ponta (pequena):
cuspidiforme
Ponto:
punctiforme
Porco: suiforme
Prancha: pinacóide
Prato:
pateliforme
Prisma:
prismóide
Pus:
puriforme
Pústula vacinal:
vaciniforme
Quatro formas:
quadriforme
Queijo:
caseiforme
Quilha:
careniforme
Rã:
batracóide
Raiz:
rizóide, radiciforme
Ramo:
ramiforme
Rato:
ratiforme
Rede:
plexiforme, retiforme, textiforme
Remo: remiforme
Resina:
resiniforme
Réstia:
restiforme
Reumatismo:
reumatóide
Rim:
nefróide, reniforme
Roda: rotiforme, trocóide, trocóideo
Rombo: rômbico, rombiforme, romboidal, rombóide
Rosário: moniliforme
Rostro:
rostriforme
Ruínas:
ruiniforme
S (letra):
sigmoidal, sigmóide
Sabão:
saponiforme
Saco:
saciforme, saculiforme
Saco (pequeno): saceliforme, saculiforme
Sangue (cor): hematóide, hemóide
Sarampo:
sarampiforme
Sela:
clinóide
Sépala:
sepalóide
Septo:
septiforme
Serpente:
anguiforme, ofióide, ofióideo, serpentiforme
Serradura: escobiculado, escobiforme
Sésamo: sesamóide, sesamóideo
Seta:
sagital
Sifão:
sifóide, sifonóide
Sílex: silexiforme
Silícula: siliculiforme
Silíqua:
siliquiforme
Sulco:
sulciforme
Taça:
acetabuliforme, pelviforme
Tecido: textiforme
Tecido glandular:
adenóide
Teixo:
taxiforme
Ténia:
teniforme, tenióide
Tentáculo:
tantaculiforme
Terra (planeta):
geóide
Tétano:
tetaniforme
Tifo:
tifóide
Tigre:
tigróide
Todas as formas:
omniforme
Tonel:
doliforme, pitomorfo
Toro:
tórico
Toupeira: talpiforme
Touro:
tauriforme
Trapézio:
trapeziforme, trapezóide
Traquito: traquitóide
Três formas:
triforme
Trombo (coágulo):
trombóide
Túbera:
tuberiforme, tuberóide
Tubérculo: tuberculiforme, tuberculóide
Tubo: tubiforme
Tubo (pequeno):
tubuliforme
Úlcera:
ulceriforme, ulceróide
Uma só forma: uniforme
Umbela:
umbeliforme, umbraculiforme
Unha: unguiforme
Úrceo:
urceiforme
Urcéolo:
urceiforme
Útero:
uteriforme
Utrículo:
utriculariforme, utriculiforme
Uva: uviforme
Uva (cacho):
botrióide, racemiforme, racemoso, racimiforme, uviforme
Úvula: uvuliforme
Vacina:
vacinóide
Vagina:
vagiforme, vaginiforme
Vale: valifome, valóide
Valva: valviforme
Varinha:
baciliforme
Varíola:
varioliforme, variolóide
Varizes: cirsóide
Vaso: vasiforme
Vela:
veliforme
Verme:
vermiforme
Verruga:
verruciforme
Verruma: cirriforme
Vesícula: cistóide, vesiculiforme
Vesícula de água: hidatiforme
Vidro:
hialóide
Vulcão:
vulcaniforme
Xisto:
xistóide
Zebra:
zebróide
Zona:
zoniforme
Zoófito:
zoofitóide


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Ortografia: montanha-russa

Tectónica da ortografia

Que cataclismo, que movimento tectónico arrastou uma montanha russa para o Algarve? Lemos no Diário de Notícias: «Três minutos de adrenalina na maior montanha russa de água» (Paula Martinheira, «Boa Vida», p. IV). Não deveria então ter escrito «montanha de água russa»? Estou a brincar. «Montanha russa» surge quatro vezes no corpo do artigo. Contudo, na chamada da primeira página, lemos: «Maior montanha-russa de água da Europa está em Quarteira». Quem escreve não percebe que uma montanha russa não é o mesmo que uma montanha-russa? Que displicência estival é esta? Agora querem competir com o Público, é?

Infinitivo pessoal: mitos e regras

Intuição, sim, mas com estudo

Há entre nós a ideia, que alguns erigem em dogma, de que o infinitivo impessoal ou não flexionado apenas se usa quando a frase apresentar um só sujeito e, a contrario, o infinitivo pessoal se usa nas frases com dois sujeitos. É a chamada doutrina Soares Barbosa, que por influxo directo veio da Gramática Filosófica* alojar-se nos nossos cérebros. Jerónimo Soares Barbosa (1737-1816), um gramático racionalista, inventou, baseado em escassos exemplos, essa regra prática. Vejamos, contudo, o que diz o filólogo M. Said Ali na obra Dificuldades da Língua Portuguesa: «Quando Soares Barbosa estatui que, para se usar o infinitivo impessoal, é preciso ter ele o mesmo sujeito que o verbo da oração regente, e exemplifica com eu quero fazer, tu quiseste fazer, nós queremos fazer, há realmente uma cousa que deve assombrar ao filósofo moderno. Desde quando a frase eu quero fazer comporta dois sujeitos, um para cada verbo? Desde quando há aí duas orações, uma regente, outra regida?» Depois de aduzir dezenas de exemplos facilmente comprováveis, que um dia aqui darei, Said Ali resume a sua análise nas seguintes regras:
«Infinitivo SEM FLEXÃO:
1.º sempre que o verbo indicar a acção em geral, como se fora um nome abstracto, ou quando não se cogita da pessoa, ex.: estudar (= o estudo) aproveita. É o caso mais comum.
2.º nas linguagens compostas e perifrásticas, sendo apenas lícita a flexão no caso de vir o infinitivo afastado de seu auxiliar a ponto de tornar-se obscuro o sentido se esse auxiliar não for lembrado novamente pela flexão.
Infinitivo FLEXIONADO:
1.º sempre que o infinitivo estiver acompanhado de um nominativo sujeito, nome ou pronome (quer igual ao de outro verbo, quer diferente).
2.º sempre que se tornar necessário destacar o agente, e referir a acção especialmente a um sujeito, seja para evitar confusão, seja para tornar mais claro o pensamento. O infinitivo concordará com o sujeito que temos em mente.
3.º quando o autor intencionalmente põe em relevo a pessoa a que o verbo se refere.
Por outros termos: determinam o uso do infinitivo flexionado: a presença do nominativo sujeito, e, portanto, a simples concordância obrigatória; o realce necessário do sujeito para facilitar a compreensão (infinitivo de clareza) e, finalmente, o realce intencional para pôr em relevo a pessoa de quem se trata (infinitivo enfático).»

* Pode descarregar aqui a edição original da Gramática Filosófica. A análise do infinitivo pessoal encontra-se nas páginas 208 e ss. De qualquer modo, transcrevo, actualizando a ortografia, como fiz com a citação da obra, a 6.ª edição, de Said Ali (uma oferta do leitor JRC, a quem renovo o meu agradecimento), o passo que mais interessa: «Este infinitivo pessoal é outro substantivo apelativo verbal com as mesmas propriedades que o impessoal; e o que tem de particular é o enunciar a coexistência de um atributo em um sujeito diferente do da oração antecedente (p. 208).»

29.7.06

Utilidades

Imagem: http://educom3.sce.fct.unl.pt/

Aprender mais

A Biblioteca Digital Camões tem, agora sim, alguns textos e obras interessantes que se podem descarregar. Veja aqui.

Tradução: «invertir»

Até um catarríneo sem cauda

Um dos erros mais confrangedores nas traduções de espanhol para português é o de ignorar — como se faltasse contexto — que o verbo «invertir» e palavras da mesma família também significam «investir». Vejamos dois exemplos do mesmo tradutor, na mesma obra mas num lapso temporal alargado. «Un cuadro de Van Gogh es ahora sinónimo de inversión.» Que traduziu assim: «Um quadro de Van Gogh é agora sinónimo de inversão.» Depois de ter aprendido, com a revisão, que tinha feito um trabalho completamente inepto, surgiu-lhe, por infausto acaso, outra frase com o mesmo verbo: «El idealismo de Hegel fue invertido por la dialéctica materialista de Feuerbach y el materialismo histórico de Marx y Engels lo transformó en el programa de acción del socialismo revolucionario y del movimiento obrero a partir de la I Internacional.» Ah, agora o tradutor já não iria ser expungido pelo ominoso deleatur do revisor! E vá de traduzir: «O idealista Hegel foi investido pela dialéctica materialista de Feuerbach e o materialismo histórico de Marx e Engels transformou-o no programa de acção do socialismo revolucionário e do movimento operário a partir da I Internacional.»

Invertir (Del lat. invertĕre). 1. tr. Cambiar, sustituyéndolos por sus contrarios, la posición, el orden o el sentido de las cosas. U. t. en sent. fig. Invertir una tendencia. 2. tr. Emplear, gastar, colocar un caudal. 3. tr. Emplear u ocupar el tiempo. 4. tr. Mat. En una razón, intercambiar numerador y denominador.

Divagações

Quando souberem, avisem-me

«DIAP tem inquérito-crime sobre o caso Infante Santo», Carlos Rodrigues Lima e Filipe Morais, Diário de Notícias, 27.07.2006, p. 26.

«Sob [sic] os dois autarcas, que asseguram a gestão do município alentejano entre 2001 e 2004, recaem indícios de crimes de peculato, peculato de uso e abuso de poder. O relatório da auditoria da IGF, que fora pedida [sic] em Janeiro de 2005 pelo actual presidente da câmara, Pedro do Carmo, foi já remetido ao Ministério Público do Tribunal de Ourique, para a abertura de inquérito crime» («Inspecção de Finanças diz que houve crime e desvio de fundos em Ourique», Paula Sanchez, Diário de Notícias (edição online), 17.07.2006).

«Tribunais a meio-gás com 40% dos juízes de férias», Inês David Bastos, Diário de Notícias, 27.07.2006, p. 2.

«Melanie C e James Blunt a meio gás», Paula Martinheira, Diário de Notícias (edição online), 19.06.2006.

28.7.06

Rossio ao sul do Tejo

Desnorte

«Nascido a 1 de Março de 1915 em Rossio ao Sul do Tejo (Abrantes), António Rosa Casaco ingressou na Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) em 1937, com apenas 21 anos, como agente praticante» («Rosa Casaco secreto até na morte», Expresso, 22.07.2006, p. 28). As palavras que ligam compostos toponímicos grafam-se com minúscula se forem locuções com palavras invariáveis: Viana a par de Alvito e Rossio ao sul do Tejo, por exemplo. Castro Pinto, no seu Novo Prontuário Ortográfico, também regista «Rossio ao Sul do Tejo». Não regista, contudo, o topónimo Viana a par de Alvito, o que não lhe deu oportunidade de pôr em paralelo ambos os topónimos e concluir da necessidade de, em ambos os casos, as locuções serem grafadas em minúscula.

Acertos e desacertos

Está mal

«A colónia de monachus monachus, nome científico destes animais simpáticos e brincalhões, ascende neste momento na Madeira a 30 exemplares e tem registado nos últimos cinco anos um crescimento constante», «Lobos-marinhos da Madeira crescem e também aparecem», Ana Basílio, Diário de Notícias, 26.07.2006, p. 21.

«O índice de raios ultravioleta (UV) para as restantes regiões do país vai estar “muito alto”, com grau 10 em quase todo o país», «Amanhã há níveis extremos de radiação ultravioleta», Público, 15.07.2006, p. 28.


Está bem

«Quase ao pôr do Sol de 21 de Novembro, o tenente Robert Maynard, comandando duas chalupas e 60 homens, encontrou Teach ancorado em Ocracoke», «O mito do Barba-Negra», Joel K. Bourne, Jr., National Geographic, Julho de 2006, p. 80.

«Há 50 anos, a crise do Suez marcou o fim da era dos impérios e a entrada do Médio Oriente na lógica de equilíbrio de poderes da Guerra Fria», «Crise do Suez marca fim da era dos impérios», Luís Naves, Diário de Notícias, 26.07.2006, p. 12.

27.7.06

Jornais. Tradução

Don’t count on it, Público

«O Líbano reclama o território, mas Israel argumenta que é com a Síria que as Shebaa Farms devem ser negociadas», «O Partido de Deus e o Estado hebraico», Público, 13.07.2006, p. 15.

«Quintas de Shebaa. Ocupada por Israel em 1967, esta região agrícola situada entre a Síria e o Líbano tem sido motivo de polémica. Apesar da retirada israelita do Sul do Líbano, em 2000, o Estado hebraico recusou entregar as Quintas de Shebaa ao Líbano, que as reclamam [sic] como suas, afirmando tratar-se de território sírio. Damasco, por seu lado, afirmou que a região pertence ao Líbano. O impasse mantém-se», «Líbano de A a Z. Dos fenícios à Revolução do Cedro», Helena Tecedeiro, Diário de Notícias, 19.07.2006, p. 4.

26.7.06

Divisão de palavras


Ir-ra!

Em parangonas, a perfumada e policroma revista Lux Woman de Julho, num texto (pág. 116) da editora de Beleza Anett Bohme assistida por Inês Correia, titulava: «I-rre-sis-tí-veis!» A divisão de palavras faz-se, como se sabe, fundamentalmente por soletração — mas há algumas regras. Para o caso, o que interessa é que as consoantes dobradas — cc, mm, nn, rr, ss — se separam obrigatoriamente. Para quem não tem tempo nem paciência para interpretar regras, aconselho o Míni Aurélio, que na respectiva entrada regista: «ir.re.sis.tí.vel adj2g. A que não se pode resistir [Pl.: -veis]». A minha edição, a 6.ª, revista e actualizada, com 895 páginas muito manuseáveis, custou-me recentemente, salvo erro, 8 euros na FNAC. A revista Lux Woman custa 3 euros…

25.7.06

Elemento de composição «recém»

Só uma coisinha

Eu avisei: se se justificasse, voltaria durante as férias. Ora aqui está um bom motivo. «Desde o nascimento tem sido impossível chegar à fala com os recém-papás [,] mas os amigos garantem ao 24horas que correu tudo bem e que a família já está toda reunida em casa, a curtir o menino» («“Já nasceu. O puto é giro”», Vânia Custódio, 24 Horas, 24.07.2006, p. 8). O registo é informalíssimo, de mesa de café, pouco adequado, parece-me, a uma notícia, mas não tenho tempo para adentrar mais nessas apreciações. O que me interessa, já adivinharam, é aquele «recém-papás». Recém é um elemento de composição que só se usa, por mais informal que seja a linguagem, com adjectivo: recém-casado, recém-nascido, recém-licenciado, recém-nomeado, etc. Com um substantivo, jamais. A jornalista deveria ter usado o adjectivo ou o advérbio da mesma família: recente, recentemente.

23.7.06

Pronúncia: Sever

Imagem: http://www.rtp.pt/

Silabadas


O programa Passeio Público, da Antena 1, foi hoje transmitido a partir da vila alentejana de Marvão. A jornalista Paula Castelar, ao entrevistar uma natural da vila, pronunciou Sever com o segundo e fechado: /Sevêr/. Subtilmente, a entrevistada corrigiu, afirmando que parecia que Paula Castelar tinha adivinhado, pois uma lenda sobre a origem do nome «Sever» refere que um cavaleiro teria dito a umas senhoras que precisavam de se refrescar e compor que perto havia um rio em que «era bom de se ver».
Parece haver uma grande tendência para pronunciar mal topónimos, como já aqui tenho referido: rio Sabor, Estremoz, Sátão… O que denota não apenas falta de atenção — basta estar atento à forma como os naturais pronunciam —, mas também de cultura.

Alcorão, alcorânico

Coerência

Se o Diário de Notícias escreve, e bem, «Alcorão», tem de escrever, em coerência, «alcorânico». «Estas afirmações confirmam a suspeita da polícia britânica, que logo após identificar os autores dos atentados percebeu que dois deles tinham passado pelo Paquistão e contactado com madrassas* (escolas corânicas)», «Rede da al-Qaeda treinou dois dos terroristas de Londres», Luís Naves, 9.07.2006, p. 13.


* Há quem defenda a grafia «madraça», mas a verdade é que apenas vejo nos dicionários que tenho, e são alguns, «madraçal». Do árabe مدرسة. O plural de madrassa é madaris.

Léxico: «asnático»

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Salvo o devido respeito



      Um dia, elogiei aqui os juízes por darem algum uso a palavras tão incomuns e poéticas como «oblívio». Não era, juro, ironia, como também agora falo a sério ao elogiar o juiz Joel Timóteo, do tribunal de Santa Maria da Feira, por arejar um vocábulo tão solidamente insultuoso como «asnático». Foi desta forma, recordo, que este magistrado adjectivou um argumento apresentado pelo advogado João Castro Baptista ao requerer a abertura de um inquérito («No que se refere à invocada falta de aplicação analógica do artigo 796.º, n.º 3 do CPC, salvo o devido respeito, tal argumento é asnático […]».) O advogado sentiu-se, como era de esperar, ofendido e fez queixa ao Conselho Superior da Magistratura (CSM), que arquivou o caso porque o juiz pediu entretanto desculpas. Por sua vez, o presidente do Conselho Distrital da Ordem dos Advogados questionou-se se agora também se pode chamar asnáticos aos argumentos do CSM.

Asnático, adj. Próprio de asno ou burro; asnal.│Estúpido, tolo, idiota.

Rotinados?

Disse «arroteados»?


      «Os magistrados portugueses ainda estão pouco rotinados com a Internet, numa altura em que se começa a discutir a desmaterialização dos processos e o seu suporte exclusivamente digital» («Um sexto dos magistrados nunca enviou e-mails», Público, 13.07.2006, p. 11).
      É bem verdade que os jornais também são laboratórios de experimentação linguística, mas tem de se ter sensatez e perceber se é mesmo necessário criar uma palavra. Não vou dizer que nunca antes tinha ouvido — mas nunca lido — a palavra «rotinado». O Dicionário Houaiss, por exemplo, regista o verbo «rotinizar», o que daria «rotinizado», tão desnecessário como «rotinado». Em relação à oralidade, mais espontânea, livre, improvisada, temos de ser mais tolerantes, tanto mais que quase nada do que se diz passa à escrita. O pior mesmo é quando passa: «No lançamento oficial do DVD, realizado recentemente em Lisboa, a actriz protagonista e que se tornou célebre com este filme [O Crime do Padre Amaro], Soraia Chaves, disse aos jornalistas que esta edição em DVD “é um colmatar de um ano de trabalho dedicado a este projecto”, desde o início das filmagens, passando pelo lançamento do filme e pela sua exibição em formato de série na televisão» («Soraia Chaves apresentou o DVD de “O Crime do Padre Amaro”, o maior êxito do cinema português», Nuno Cunha, Dica da Semana, 20.07.2006, p. 29). Quanta fidelidade do jornalista…

Aquando de e quando de

Olhe que não


      «Apesar de quando do lançamento de “La possibilité d’une île” (“A Possibilidade de Uma Ilha”) em França, em Setembro de 2005, termos falado aqui do blogue de Michel Houellebecq e da agitação que o lançamento do seu romance estava a provocar na “rentrée” francesa, vale a pena voltar a ir ver, agora, os “sites” do escritor» («Socorro, ele está de regresso!», Isabel Coutinho, «Ciberescritas», Público/Mil Folhas, 15.07.2006, p. 5).
      Apesar de alguns estudiosos da língua afirmarem que a conjunção «quando» não existe seguida da preposição «de», o Dicionário Houaiss e mesmo o Dicionário de Academia registam o contrário. E, o que é mais importante, alguns estudiosos cujas opiniões sigo quase incondicionalmente — como José Neves Henriques — também o defendem. Nesta frase de Isabel Coutinho, o que nos fere um pouco o ouvido é aquela sucessão: «apesar de» + «quando do». Pelo menos em termos eufónicos, a frase ganharia muito se tivesse sido redigida, por exemplo, como segue: «Apesar de, por ocasião do lançamento de […].»

22.7.06

Mandado, Antilíbano, pezinho, «laser»


Última colheita


1
«Na sequência da publicação da peça jornalística, foram revalidados os mandatos de captura contra Casaco e o respectivo procedimento criminal considerado, pelo juiz Cândido Gouveia, “imprescritível”» («Chefe da brigada da PIDE que matou Delgado morre aos 91 anos», FC, Diário de Notícias, 20.07.2006, p. 40). A confusão entre «mandado» e «mandato» continua, pois, e em vários jornais. Não direi todos, mas os melhores dicionários registam para o vocábulo «mandado» o significado de ordem, determinação superior, e por isso «mandado judicial», «mandado de captura», «mandado de prisão», etc. Para «mandato», e o étimo é o mesmo, sendo por isso palavras divergentes, os dicionários registam o significado de autorização conferida a alguém, delegação, procuração, e por isso «mandato eleitoral» «mandato parlamentar», etc.

2

«Com 120 quilómetros de comprimento e dez de largura, fica situado [vale de Bekaa, que representa 40% do solo arável do Líbano] entre os montes Líbano e Anti-Líbano» («Líbano de A a Z», Helena Tecedeiro, Diário de Notícias, 19.07.2006, p. 4). O prefixo anti-, já aqui o escrevi mais do que uma vez, é seguido de hífen quando o elemento imediato tem vida própria e começa por h, i, r ou s. Contudo, a regra é omissa em relação a nomes próprios, quer antropónimos, quer topónimos, pelo que teremos de recorrer à analogia. Ora, se se escreve «Tauro» e «Antitauro», outra cadeia montanhosa, decerto que convém escrever «Líbano» e «Antilíbano».

3

«Estudo analisa reacção de recém-nascidos ao teste do pézinho» («Amamentação ajuda bebés a suportar a dor», IGS, Público, 20.07.2006, p. 28). Como «pézinho» surge três vezes no artigo, é de supor que não se trata de uma gralha. Os diminutivos dos substantivos acentuados perdem, isto já todos devíamos saber, o respectivo acento gráfico na formação do diminutivo. Assim, temos: avó faz avozinha; boné faz bonezinho; café faz cafezinho; chaminé faz chaminezinha; chapéu faz chapeuzinho; jacaré faz jacarezinho; pé faz pezinho, etc. Esta regra foi estabelecida pelo Decreto n.º 32/73, de 6 de Fevereiro de 1973, que estipula: «São eliminados da ortografia oficial portuguesa os acentos circunflexos e os acentos graves com que se assinalam as sílabas subtónicas dos vocábulos derivados com o sufixo mente e com os sufixos iniciados por z»: sozinho, amavelmente, cafezinho, unicamente.

4

«As frases são inscritas na casca do ovo recorrendo a um complexo sistema de raio lazer, que deixa uma marca ultrafina que não pode ser apagada» («CBS anuncia nova temporada televisiva nas cascas dos ovos», Rita Siza, 20.07.2006, Público, p. 47). «Lazer» aparece duas vezes no artigo, fazendo supor que não se trata de uma mera gralha. Raio laser. O itálico é aqui obrigatório. Se se tratar de uma tentativa, ainda que desastrada, de aportuguesamento, estamos mal, pois já temos a proposta absurda do «icebergue». Raios «lêiser»? «Láser»?

21.7.06

Publicidade, uso do latim

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Sanum per aqua?


      Lembram-se da campanha publicitária da cerveja Abadia — pretensamente em latim? Lembram-se então do «sapore autenticum est»? É bom que não se lembrem. Desta vez, os publicitários — apesar de a frase circular por aí correcta — voltaram a usar latim macarrónico, sem necessidade. Sendo, como consabidamente é, uma área que movimenta milhões, não sei porque não contratam especialistas em latim. Pelo menos de latim, já que de português estamos conversados.
      A preposição latina per é construída unicamente com acusativo (accusatiuus casus). Se pretendem argumentar que «aqua» é um ablativo de meio, vai ser preciso mais do que uma garrafa de água para se obliterar da minha memória a preposição per. Logo, escrevam «sanum per aquam», «a saúde pela (através da, por meio da, por causa da) água» e esqueçam o que viram em certos sites e nas campanhas de estâncias termais pela Europa fora, sim?
      Como complemento, deixo aqui algumas preposições latinas e os casos que regem (mas não deixem de contratar o especialista).
      Acusativo: ad, adversus, ante, apud, circa, circum, cis, citra, contra, contra, erga, extra, infra, inter, intra, iuxta, ob, penes, per, post, praeter, prope, propter, secundum, supra, trans, ultra, versus. Ablativo: a (ab, abs), coram, cum, de, e (ex), pro, sine, tenus. Acusativo ou ablativo: in, sub, super.

Brandeburgo ou Brandenburgo?

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Decidam-se

«Centenas de milhares de pessoas concentraram-se no centro da cidade de Berlim, na Rua 17 de Junho, em frente da Porta de Brandeburgo, até a festa acabar» (Diário de Notícias, 16.07.2006, p. 40). A verdade é que na imprensa portuguesa ora se lê «Brandeburgo» ora «Brandenburgo». «A Porta de Brandenburgo é um verdadeiro símbolo da cidade e seu cartão de visita. Construída entre 1788 e 1791, é a única porta que resta de entrada na cidade» («Berlim», Ana Luzia Raposo, Expresso/Única, 27.05.2006, p. 108). Em alemão, de facto, é «Brandenburger Tor». Logo, talvez devêssemos todos seguir o exemplo do Expresso. Todavia, pensando bem, tratando-se de aportuguesamento, não podemos ficar a meio: antes de uma bilabial, como b, temos de ter uma nasal como m e não uma dental, n. Escreva-se, então, Brandemburgo ou Brandenburg.

20.7.06

Calendário islâmico. Hégira

Nem só o Ramadão
     

      Caro L. Pinto, para além do Ramadão (رَمَضَانْ), só conheço mais um mês do calendário islâmico aportuguesado: Moarrão (محرم). É um mês sagrado, em que é defeso usar armas e guerrear (ignoro o direito islâmico, mas talvez haja aqui alguma distinção no caso de se tratar de uma guerra ofensiva, harb, ou de uma guerra defensiva, jihad). O calendário islâmico é lunar, com meses de 29 ou 30 dias. O início é contado, como saberá, a partir da fuga (ou migração, mais correctamente) de Maomé de Meca para Medina, a chamada Hégira (Hijra), ocorrida a 16 de Julho de 622 da nossa era. O ano 1 a. H. (Anno Hegirae) corresponde, portanto, a 622 d. C. Aqui ficam os nomes de todos os meses.
  1. Moarrão
  2. Sáfar
  3. Rabiá-al-aual
  4. Rabiá-a-Thâni
  5. Jumada Al-Ula
  6. Jumada A-Thânia
  7. Rajáb
  8. Xaaban
  9. Ramadão
  10. Xauál
  11. Dhu al-Qaáda
  12. Dhu Al-Hijja

Particípio futuro latino

Vestígios

É sabido que os gladiadores dirigiam um cumprimento ritual ao imperador antes de iniciar os seus combates, na Roma antiga. Diziam: Ave, Caesar; morituri te salutant! Ou seja: «Salve, César, os que vão morrer te saúdam!» Aquele morituri é um particípio futuro latino. De que temos — é este o objectivo deste texto — vestígios em português. A começar, justamente, por morituro (que há-de morrer). Mas também perituro (que há-de perecer ou acabar), nascituro (que há-de nascer) e vincituro (que há-de vencer).
Até ao fim da República, o particípio futuro em -turus (-surus) era quase exclusivamente usado em latim com o verbo sum para formar locuções perifrásticas. Quid futurum est? (O que vai acontecer?), perguntou Cícero nas Ad Familiares Epistulae.
O vocábulo «particípio», convém saber, vem do latim participium (tradução do grego μετοχή), pois que é uma forma que participa do nome e do verbo, isto é, que tem uma natureza dupla.

19.7.06

Tratar-se, de novo

Um dia todos saberão

No noticiário das 19.30, na Antena 1, o jornalista Sérgio Infante disse, referindo-se às explosões de ontem em Beirute: «tratam-se de ataques israelitas». É um dos erros mais comuns e persistentes. Veja-se outro exemplo, neste caso da imprensa escrita: «A Anacom decidiu que os serviços de voz através da Internet (VoIP) terão, no caso de se tratarem de computadores portáteis, uma nova numeração, começada por “30”, e que os fixos poderão utilizar a numeração geográfica, ou seja, a utilizada pelos telefones tradicionais» («PC com números telefónicos», Raquel Oliveira, Correio da Manhã, 7.3.2006, p. 17).
Já aqui o tinha referido uma vez, mas insisto: conjugado pronominalmente e com o sentido de «dizer respeito a», o verbo tratar emprega-se apenas na 3.ª pessoa do singular — é um verbo defectivo e impessoal. O sujeito da frase é indeterminado, logo, não se faz a concordância com o verbo.

Etimologia: barricar

Bum!

«Um homem barricou-se, na sexta-feira à noite, em casa da sogra, na Quinta da Cabrinha, em Lisboa» («Homem barricou-se em casa da sogra», Diário de Notícias, 9.07.2006, p. 21). O verbo barricar é considerado galicismo pelos puristas, lembra-nos o Dicionário Houaiss, sendo preferível usar entrincheirar-se, fortificar provisoriamente, trincheirar-se. O que me interessa agora, porém, é a etimologia. Recorro à obra Presença Militar na Língua Portuguesa, da autoria do coronel Aleu de Oliveira (edição do Ministério da Defesa Nacional, 1993), para a dar a conhecer: «Barricada. Nome dado a algumas rebeliões parisienses. Em 1558, os partidários do duque de Guise assenhoreiam-se de Paris. O rei, Henrique III *, tenta recuperar a capital [,] mas as tropas reais vêem-se impossibilitadas de avançar através das ruas, por terem sido atravessadas cadeias de ferro e interrompidas por montes de barricas cheias de terra, donde o nome de “barricadas”. Hoje em dia, quando há um corte de uma rua numa qualquer perturbação da ordem pública, utilizando seja que material for, por exemplo, pedras da calçada, diz-se que a rua está “barricada”. Também se costuma dizer “estar num dos lados da barricada”, significando com tal expressão que “se pertence a um dado grupo”, contrário a um outro que se situará no outro lado da aludida “barricada”» (p. 35).

* Na verdade, nesta data, como me chamou a atenção o leitor Hugo Santos, era Henrique II o rei de França, pois que Henrique III (1551-1589), seu filho e o último rei da dinastia de Valois, somente subiu ao trono em 1574.

Pontuação e próclise pronominal

© Helder Guégués

Bum!


Não muito longe da minha casa, desmoronou-se um muro, tendo esmagado dois automóveis. Uma jornalista do Diário de Notícias esteve no local e conta-nos: «Vítor Vieira, da Protecção Civil de Lisboa, contudo, esclarece que só após a avaliação das circunstâncias em que ocorreu a derrocada, poder-se-á determinar as suas causas» («Derrocada de muro esmaga dois carros em Benfica», Kátia Catulo, 15.07-2006, p. 32). Temos então dois desastres: o aluimento do muro e o da gramática. Vejamos.
A vírgula após o vocábulo «derrocada» é incorrecta, pois não se segue — tento, em vão, reconstituir o que terá pensado a jornalista — uma oração condicional ou concessiva, por exemplo, que, essas sim, se separam da principal por vírgula. Por outro lado, tendencialmente, a presença do advérbio «só» leva a próclise pronominal: «Vítor Vieira, da Protecção Civil de Lisboa, contudo, esclarece que só após a avaliação das circunstâncias em que ocorreu a derrocada se poderá determinar as suas causas.»

18.7.06

Topónimo Casamansa

África, de novo

Lia-se no último Jornal de Letras, Artes e Ideias: «Paralelamente, o governo chinês contribuiu ainda com 350 mil dólares (270 mil euros) de ajuda humanitária, destinada aos deslocados no norte [sic] da Guiné-Bissau, na sequência do conflito que opôs o exército guineense a um movimento independentista de Casamança» («Bissau acolhe Cimeira da CPLP», JL, 5.07.2006, p. 3). Ora, são muitos os dicionários que recomendam e registam a forma «Casamansa», a começar pelo Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves. A forma «Casamança» deve ter-nos vindo por influência francesa, língua em que se escreve «Casamance».
O Diário de Notícias, por exemplo, grafa correctamente a palavra: «Aquele local — próximo da vila de São Domingos, no Noroeste da Guiné-Bissau e junto à fronteira com o Senegal — está cercado há vários dias pelas forças militares de Bissau» («Bombas contra os rebeldes de Casamansa», Manuel Carlos Freire, 14.4.2006, p. 14).

Particípio de intervir: intervindo

Não, senhora ministra!


      Chegou-me às mãos, e mais uma vez é de uma tradução que se trata, a seguinte frase: «No Salão de 1847 apresentou o seu auto-retrato intitulado L’homme à la pipe, que foi rejeitado; depois viajou pela Holanda e, embora tenha intervido na Revolução de 1848, absteve-se de participar nos episódios sangrentos ocorridos durante o mês de Junho daquele ano.» É grave, nada de complacências, que alguém que ganha a vida a escrever o faça assim. Contudo, ainda no dia 23 de Junho, no Telejornal (RTP1), dizem-me, que eu não vi, a ministra da Cultura afirmou que «não era verdade que o Ministério não tenha intervido».
      O verbo intervir conjuga-se exactamente como o verbo vir (e, que eu saiba, ninguém diz, por exemplo, «embora tenha aqui vido em paz, tenho armas que usarei quando for necessário»), com a particularidade de se grafar com acento agudo na segunda e terceira pessoas do presente do indicativo (intervéns, intervém). Logo, o particípio deste verbo segue o paradigma de vir/vindo: intervindo.

Léxico: segada e segadeira

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Sega aqui

Quando vejo, o que é raro, alguma palavra da família de «segar», vem-me sempre à memória a Falcífera (ter lido certa poesia deixou-me assim). Mas eis que aparecem duas, raríssimas, em pouco tempo, e uma dela trouxe quase a morte. «Fonte dos Bombeiros Voluntários da Cruz Verde revelou que a segadeira — máquina de cortar o cereal — amputou totalmente os dois pés do homem, que estava a trabalhar num terreno agrícola» («Tractor esmaga homem e alfaia amputa dois pés», Diário de Notícias, 10.05.2006, p. 31). Por outro lado, a Antena 1 noticiou ontem o «Dia da Segada» em Bruçó, aldeia no concelho de Mogadouro.


Português (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coord. por José Pedro Machado).

Sega (è), s. f. Acto ou efeito de segar; ceifa.│Duração da ceifa.
Segada, s. f. Acto de segar; sega, ceifa.│Tempo das segas ou ceifas.
Segadeira, s. f. Espécie de foice grande; ceifeira.
Segado, adj. Que se segou; ceifado.│Fig. Cortado, derrubado à maneira de sega ou ceifa.
Segadouro, adj. Que serve para segar ou ceifar.│Que está em condições de se ceifar.
Segadura, s. f. O m. q. sega.
Segar, v. tr. Ceifar, cortar (as searas, as ervas).│Cortar em tiras ou fatias delgadas.│Lançar por terra cortando.│Fig. Pôr fim.


Espanhol (Diccionario de la Real Academia Española).

Segable. (Del lat. secabilis). adj. Que está en sazón para ser segado.
Segada. (De segar). f. Acción y efecto de segar.
Segadero, ra. (De segar). adj. Que está en sazón para ser segado.│2. f. Hoz para segar.│3. desus. Mujer que siega.
Segador, ra. (Del lat. secator, -oris). adj. Dicho de una máquina: Que sirve para segar.│2. m. y f. Persona que siega.
Segar. (Del lat. secare, cortar). tr. Cortar mieses o hierba com la hoz, la gadaña o cualquier máquina a propósito.│2. Cortar de cualquier manera, y especialmente lo que sobresale o está más alto. Segar la cabeza, el cuello.│3. Cortar, interrumpir algo de forma violenta y brusca.
Segazón. (Del lat. secatio, -onis). f. Acción y efecto de segar.│Tiempo en que se siega.


Em catalão (Dicionário do Instituto de Estudos Catalães)

Sega f. Acció de segar les messes; les messes segades. Època de la sega.
Segada f. Acció de segar; l’efecte.
Segador¹ -a adj. i m. i f. Que sega. Ja han arribat els segadors. f. Màquina agrícola emprada per a segar herba o, esp., cereals.
Segador² -a adj. Que està en saó per a ésser segat. Blat segador.
Segaire m. i f. Segador.
Segar v. tr. Tallar amb la falç o altra eina (les messes, l’herba). Segar un camp de blat. ABS. Aquest any encara no han segat. Qui no pot segar, espigola. Tallar d’un cop i en rodó com fa la falç en segar. Segar el cap, el coll. FIG. Segar les esperances, les illusions, d'algú. segar a algú l’herba sota els peus Impedir-li d’assolir allò que pretén, posar-li obstacles, etc. Tallar una peça al torn mitjançant una eina estreta que avança perpendicularment a l’eix de rotació. Un treball excessiu, una emoció forta, llevar tota força (a les cames, als braços). La baixada em va segar les cames. pron. Se'm van segar les cames. Portant aquesta criatura se m'han segat els braços. Un cordill, una corda, etc., fer un séc (allà on són lligats).

Léxico: resiliência

Voltar ao normal

«Resiliência (s. f.), o contrário de fragilidade; capacidade de resistência de um material ao choque […]. Assim define o Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora uma palavra muito pouco ou nada utilizada em português, mas que se usa bastante em inglês. E tornou-se uma palavra de ordem no seguimento dos ataques bombistas suicidas em Londres em 7 de Julho [do ano] passado», escreve a «politóloga» (politicóloga estaria mais conforme com as regras de formação das palavras em português, mas a lei do menor esforço ajuda a contrariar) Marina Costa Lobo no Diário de Notícias de sábado, na p. 9. Em sentido figurado, a resiliência é, de facto, e assim percebe-se melhor, «a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças», conforme define o Dicionário Houaiss. O étimo é o inglês resilience, um termo da Física.

Tradução: «en pos de», de novo

No encalço da palavra certa


      Tem razão o leitor Hugo Santos: em português há o vocábulo «empós», usado na locução prepositiva «empós de». Camilo, lembrou-me este leitor, usa-a. É verdade, assim como, por exemplo, recordei-lhe eu, Álvaro Feijó, no poema «Maria Madalena»: «lábios sorrindo sem esgares de pena,/Deusa de Amor — Maria Madalena/passa e, empós ela, há só rastros de luz». Ou Tomaz de Figueiredo na Procissão dos Defuntos: «O estilo atrás do assunto, o cálamo empós do estilo, e a nascer-lhe uma procaz sucessão de maneiras e dizeres obsoletos, a termos que o leitor quiçá deixou de o ser» (2.ª edição. Lisboa: Editorial Verbo, 1967, p. 105). É, porém, vocábulo caído em desuso. Retomemos, contudo, a frase espanhola: «Excepto en tales ocasiones, y en ciertas desviaciones que a comienzos de su carrera sufrió en pos del tipismo español...» A minha tradução foi então: «Excepto em ocasiões como a referida, e em certos desvios do início da sua carreira na peugada do tipismo espanhol...» Relembro a tradução objecto de análise: «Excepto nestas ocasiões, e em certos desvios do início da sua carreira depois da excentricidade espanhola...» Avisei então: «Como sempre, detenho-me apenas num determinado erro das frases, sem que com isso signifique que a frase esteja escorreita quanto ao resto.» É justamente o que acontece com esta frase, pois que traduzir «tipismo» por «excentricidade» não lembra ao mais excêntrico dos tradutores. Pensava eu, claro, mas a realidade desmentiu-me.

Actualização em 25.11.2010


      «— Sim, Senhor, coisa bem feita! — declarou mestre Cagoto, desembocando empós de mim, varado e também desvanecido pela confiança. — Uma destas obras que só os antigos!» (Tiros de Espingarda, Tomaz de Figueiredo. Lisboa: Editorial Verbo, 1966, p. 54).



Ortografia: druso

Dr. Uzo

Poucas vezes se usa esta palavra. Tem, porém, má sina: poucas vezes é correctamente escrita. «Até ao lançamento de rockets pelo Hezbollah, nos dias 13 e 16 deste mês, a cidade era considerada um centro de coexistência pacífica entre judeus, árabes, bahá’is e druzos» («Haifa, a cidade mais tolerante», J. H., Público, 17.07.2006, p. 3). Agora que, infelizmente, os meios de comunicação social vão ter de usar a palavra com mais frequência, vejam lá se acertam na grafia: druso. Não sei donde possa vir o erro, pois em espanhol, por exemplo, também se escreve com s, assim como em italiano (origem, aliás, do vocábulo espanhol), em catalão, em francês e em inglês.

«Druso adj. s. m. TEOL HIST que ou aquele que é membro de uma seita maometana extremista, fundada no Líbano, no sXI» (Dicionário Houaiss).

No Livro de Estilo do Público também vamos encontrar o termo, o que agrava, se possível, a culpa do jornalista: «Drusos são uma das muitas sub-seitas dos Ismailitas Assassinos, tal como os Alauitas. Uns e outros concentram-se agora sobretudo na Síria e no Líbano. A crença dos drusos já tem muito pouco a ver com o Islão, embora eles ainda sejam catalogados como “muçulmanos”. Esta seita foi criada em 1021 no Cairo quando um grupo de ismailitas declarou o “imã” fatimida al-Hakim como sendo a reincarnação de Ali, o primeiro “imã” xiita. Foram expulsos do Cairo para a Síria pela maioria dos Ismailitas que os consideraram hereges. O primeiro líder druso, al-Dazari, foi um turco. No início do século XIII, os drusos passaram a aceitar apenas os descendentes directos dos fiéis originais, tornando-se assim uma tribo e um grupo religioso secretos. Aceitam uma parte do Corão, adoptaram a crença judaica de que o seu Deus é exclusivo deles e aceitam a doutrina da reincarnação de Jesus. Os Alauitas, por seu turno, apareceram no século XIII como um grupo dissidente da ala síria dos Assassinos (os Ismailitas Nizariyah). Constituem hoje 10 por cento da Síria mas são a classe política dominante. As suas origens estão envoltas em lenda e mistério. É uma seita que se identifica abertamente com alguns aspectos da teologia cristã, ao ponto de celebrarem a Páscoa, mas seguem igualmente as tradições dos xiitas iranianos.»

17.7.06

Chernobil, judaico, mupi, peru, apagão, auto-

Miscelânea

Lembram-se do texto em que questionava a forma como o Público grafava o topónimo Чорнобиль? Era «Tchernobil», sim. Eu defendia e continuo a defender a forma «Chernobil». Agora, por distracção ou mudança de opinião, escreveu: «Itália. Encerrou os reactores do acidente de 1986 em Chernobil» («Poderio nuclear dos países do G8», Público, 15.07.2006, p. 18).

«Pelo menos desde que, há três meses, a sócia-gerente da Confeitaria Doção, na Rua do Barão de Forrester, no Porto, aceitou tornar-se na única padeira do país a confeccionar pão judeu» («O ressurgimento da comunidade judaica do Porto», Natália Faria, Público, 11.06.2006, p. 73). Pão «judeu»! Isto num texto em que podemos ler «ritos judaicos», «comunidade judaica», «ano novo judaico», «vestígios judaicos» e «cidade judaica». Por outro lado, a tese de que o vocábulo «marrano» é pejorativo e «significa “porco”, precisamente porque alguns, para se livrarem da condenação pública, começaram a comer carne de porco, interdita aos judeus» não é, nem pouco mais ou menos, consensual, pelo que referir também a outra hipótese etimológica era imprescindível.

Já aqui escrevi uma vez sobre o significado do acrónimo «mupis». Como qualquer acrónimo, não precisa de ser isolado, qual cordão sanitário, por aspas. Assim não entendeu, erradamente, o jornalista Jorge Figueira: «A nossa arquitectura está em “mupis”, a de Espanha está no MoMA» («Aprender com Espanha» (Público/Mil Folhas, 15.07.2006, p. 22).

De vez em quando, o peru toucado aparece nos melhores jornais: «Em Março de 2004 foram descobertas quatro múmias em Cocahacra, no Perú» (Diário de Notícias, 6.07.2006, p. 34).

«A cegonha que no ano 2000 provocou o famoso “apagão” e deixou o País às escuras foi apenas um exemplo desta difícil interacção entre aves selvagens e cabos eléctricos e das consequências que daí podem resultar» («Linhas eléctricas fatais para as aves protegidas», Rita Carvalho, Diário de Notícias, 7.07.2006, p. 18). Que eu saiba, antes de uma palavra ser dicionarizada não passa por um estágio em que fique envolta em aspas.

Continua a ignorar-se a grafia dos vocábulos com o prefixo auto-, como se vê todos os dias nos jornais: «“Pensamos que deve ter havido uma razão para que ele tenha saído do estado de consciência mínima em que se encontrava, e achamos que houve um processo de auto-cura muito lento e progressivo do próprio cérebro.”» («Homem recupera após 19 anos em coma», Sónia Morais Santos, Diário de Notícias, 5.07.2006, p. 19). Se não percebem as regras, aqui vão, novamente, alguns exemplos: auto-ajuda, autobiografia, autocura, autodefesa, auto-estima, autofinanciamento, autogestão, auto-imune, autolavagem, automedicação, autonomear-se, autoprotecção, auto-retrato, auto-sugestão, autoteste, autovacina…


Tradução. Falsos cognatos.

Lost in Translation

Nem todos os erros que se seguem estão entre os mais comuns nas traduções de espanhol para português, mas valem para mostrar como é fácil — com uma ajuda da inexperiência, da falta de profissionalismo e de cultura e até de ferramentas de trabalho, o que é muito, convenho — ir atrás de aparências. Como sempre, detenho-me apenas num determinado erro das frases, sem que com isso signifique que a frase esteja escorreita quanto ao resto. A grande vantagem é que se trata de erros reais, de tradutores reais, que ganham realmente a sua vida a traduzir. Lateralmente, pode ser que fique demonstrada a utilidade da revisão.

1
«Vestígios de los más antigos asentamientos con estas características se han encontrado en las fértiles llanuras aledañas de los ríos Eufrates y Tigris y en los márgenes del Nilo.»
«Vestígios dos mais antigos acampamentos com estas características foram encontrados nas férteis planícies aldeãs até aos rios Eufrates e Tigre e nas margens do Nilo.»
Aledaño, do latim adlataneus, é um adjectivo que se pode traduzir por «contíguo, próximo, vizinho».

2

«La cerámica encontrada, adornada en cordón, es la habitual de los pueblos esteparios
«A cerâmica encontrada, adornada em cordão, é a habitual das povoações ermas
Estepario é um adjectivo, que nós não temos, e significa próprio das estepes.

3
«La pintura sobre corteza ha sobrevivido con toda su autenticidad hasta hace pocos años, e incluso su producción se acrecentó, puesto que misioneros, sociólogos e la misma administración gubernamental animaban a los aborígenes a realizarlas; pues, a medida que era conocido en Occidente este arte, se acrecentaban las peticiones de pintura, que proporcionaban buenas ganancias a sus creadores.»
«A pintura sobre a casca sobreviveu com toda a sua autenticidade até há poucos anos, e inclusivamente a sua produção aumentou, pois os seus missionários, sociólogos e a própria administração governamental incentivavam os aborígenes a realizá-las; pois, à medida que esta arte era conhecida no Ocidente, aumentavam os pedidos de pintura, que proporcionavam boas ambições aos seus criadores.»
O nosso vocábulo «ganância» vem do espanhol ganancia. E esta ganancia é ganho, lucro. «Utilidad que resulta del trato, del comercio o de outra acción», dizem os dicionários. A nossa ganância é mais ambiciosa: «Ambição de ganho; lucro; proveito. Por ext., ânsia de ganhar, ambição.» Ojo, pues.

4
«La corteza de ciertos árboles se emplea para construir tocados, como puertas de las chozas de las mujeres y también como elemento decorativo de los tímpanos de las grandes casas de reunión.»
«A casca de certas árvores é utilizada para construir toucados, assim como portas das cabanas das mulheres e também é um elemento decorativo das campainhas das grandes casas de reunião.»
Em português como em espanhol, tímpano também é «el espacio triangular que queda entre las dos cornisas inclinadas de un frontón y la horizontal de su base».

5

«Lo mismo sucede con piezas esculpidas en otros materiales, como el marfil, tan apreciado en Europa, y que en cambio en la propia África se utiliza muy raramente y sólo en objetos suntuarios usados por los reyes de los pequeños estados feudales.»
«O mesmo acontece com peças esculpidas noutros materiais, como o marfim, tão apreciado na Europa, e que, pelo contrário, na própria África é utilizado muito raramente e apenas em objectos santuários usados pelos reis dos pequenos estados feudais.»
O suntuario espanhol é o nosso «sumptuário», relativo a luxo, e não santuário.

6

«Puede decirse que los saleros, de manera muy somera, representan la unión entre ambas culturas: el objeto redondeado, que recuerda a la calabaza, empleada todavía hoy en África como receptáculo e instrumento musical, seria la vertiente africana, y el uso como salero, la europea.»
«Pode dizer-se que os saleiros, de uma forma muito sumária, representam a união entre ambas as culturas: o objecto arredondado, que faz lembrar uma cabaça, utilizada hoje em dia em África como recipiente e instrumento musical, seria a vertente africana, e o uso como saleiro, a europeia.»
Somero significa, na verdade, «ligero, superficial, hecho con poca meditación y profundidad».

7

«En este estado se originó un arte sacro cristiano. Cabe señalar, por su monumentalidad, las estelas funerarias de unos 20 metros de altura que se erigieron cerca de la ciudad de Yeha, con motivo de la muerte de personajes de la elite política y religiosa.»
«Neste Estado foi criada uma arte sacra cristã. Há que referir, devido à sua monumentalidade, as estelas funerárias com cerca de 20 metros de altura que se erigiram perto da cidade de Yeha, com motivo da morte de personagens da elite política e religiosa.»
Con motivo de significa «por causa de», «por ocasião de».

8

«Esto es observable sobre todo en las obras que durante el verano de 1874 pintó, residiendo él en Gennevilliers, cuando fue a pintar a Argenteuil, en la margen opuesta del Sena, en donde se hallaban instalados, a la sazón, Monet, Renoir y Caillebotte.»
«Tal pode comprovar-se principalmente nas obras que pintou durante o Verão de 1874, enquanto residiu em Gennevilliers, quando foi pintar a Argenteuil, na margem oposta do Sena, onde se encontravam instalados, sazonalmente, Monet, Renoir e Caillebotte.»
A la sazón é uma locução adverbial que significa «naquele tempo, nessa altura, então».

9

«Excepto en tales ocasiones, y en ciertas desviaciones que a comienzos de su carrera sufrió en pos del tipismo español...»
«Excepto nestas ocasiões, e em certos desvios do início da sua carreira depois da excentricidade espanhola...»
En pos de é uma locução adverbial que significa «detrás», «no encalço».

10

«La Mina (Musée Meunier, Bruselas), de C. Meunier. Esta obra refleja la atención que pusieron los artistas en las condiciones de vida del proletariado y el libre tratamiento del material, a raíz de la nueva realidad surgida de la Revolución de 1848, que impuso la Segunda República y el sufragio universal.»
«A Mina (Musée Meunier, Bruxelas) de C. Meunier. Esta obra reflecte a atenção que os artistas deram às condições de vida do proletariado e ao tratamento livre do material, a raiz da nova realidade consequência da Revolução de 1848, que impôs a Segunda República e o sufrágio universal.»
A raíz de é uma locução preposicional que significa «imediatamente depois, por causa de, na sequência de».

16.7.06

Léxico da tauromaquia

Imagem de uma chicuelina: http://www.treklens.com/

Não é bem assim

«O vocabulário próprio que as touradas implicam não deve ser impedimento para se fazer uma boa crónica taurina. “Apesar de saber que há zonas específicas na tauromaquia que é preciso privilegiar, mas as regras são basicamente as de escrever bem”, diz Andrade Guerra, que se insurge contra “a patetice de encharcar os textos de espanholês.” No entanto, há passos [a jornalista queria escrever «passe», certamente] que não têm tradução possível: “Uma chicuelina é uma chicuelina e uma verónica é uma verónica.”» («“Afición” e ofício juntos na festa brava», Sónia Correia dos Santos, Diário de Notícias, 6.07.2006, p. 29).
Não é bem assim, caro Andrade Guerra: o vocábulo «verónica» é português, faz parte do vocabulário português tão legitimamente como «ganância», por exemplo. Já quanto a «chicuelina», estamos de acordo.

«Chicuelina. (De Chicuelo, apodo del diestro M. Jiménez Moreno, 1902-1967, que la inventó). f. Taurom. Lance que se realiza con el capote por delante y los brazos a la altura del pecho, en el que el torero da media vuelta al tiempo que el toro pasa por el engaño» (Diccionario de la Real Academia Española).

«Verónica, s. f. Sorte em que o toureiro oferece a capa ao touro, segurando com ambas as mãos e aberta, tal como nas procissões religiosas se exibe o lenço com que foi secado o suor do rosto de Jesus» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenado por José Pedro Machado).

Léxico: lampistaria

Imagem: http://www.trains-portugal.com/

Saber ferroviário


«Mas há também [peças emblemáticas da história do caminho-de-ferro em Portugal que gostaria de recuperar] os logótipos que a CP usou ao longo dos tempos, a lampistaria, a sinalização e até as lancheiras do pessoal revelam uma época e um comportamento social interessantíssimo» (Carlos Frazão, presidente da Fundação do Museu Nacional Ferroviário, em entrevista ao Público. Texto de Carlos Cipriano, «Dinheiro para o arranque do Museu Ferroviário “já está comprometido”», 26.06.2006, p. 30).

Lampistaria, s. f. Local em que se guardam e preparam os lampiões, nas estações de caminho de ferro, fábricas, etc. (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenado por José Pedro Machado).

Raios: ultravioleta ou ultravioletas?

É do calor

      O leitor Hugo Santos escreveu-me a alertar para o facto de os nossos jornalistas ora dizerem «raios ultravioleta» ora «raios ultravioletas». Quer saber a minha opinião. Nada de frases de tafetá, que eu também estou impaciente com o calor: isto é pura tontice. Há, é verdade, aspectos da língua controversos, há variantes, opções estilísticas, questões dúbias — mas a concordância dos adjectivos com os substantivos mantém-se tão inalterável como o fluir das estações. Hoje mesmo ouvi no noticiário das 7 da manhã, na TSF, um jornalista dizer «radiações ultravioletas», o que está correcto. De seguida, outro jornalista voltou a alertar para os «raios ultravioletas», acabando, menos de um minuto depois, por enfatizar o perigo que constitui a exposição aos «raios ultravioleta». Em que ficamos? Sejamos claros: pior do que um critério errado, só mesmo falta de critério. Minutos depois, na Antena 1, foi a vez de um jornalista referir os «raios ultravioleta».
      Este erro levou-me a recordar outro, semelhante e muito comum, e que consiste em não fazer concordar o adjectivo «extra» com o substantivo que qualifica: «O meu marido ficou hoje a fazer horas extra no emprego.» Está tudo dito: como adjectivo, tem de concordar com o substantivo que qualifica: «horas extras», «serviço extra», «trabalhos extras».
      Não estropiem a língua — ela é de todos. Senhores jornalistas, mais cuidado.

15.7.06

Etimologia: abrolho

Imagem: http://upload.wikimedia.org/

Vê lá, rapaz

Nada, julgo, mais simples: os agricultores romanos recomendavam aos novatos: Aperi oculos! Abre os olhos, olha que quando ceifas encontrarás umas plantas daninhas que não deves juntar às espigas. E assim nasceu o nome «abrolho», contracção de aperi oculos, através de abreolhos. O espanhol também tem o vocábulo abrojo.

Os abrolhos estão muito presentes na Bíblia: «Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto; não se colhem figos dos espinhos, nem uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração.» (Lucas, 6, 43-45)

A Vulgata diz: «Non est enim arbor bona quae facit fructus malos neque arbor mala faciens fructum bonum. Unaquaeque enim arbor de fructu suo cognoscitur neque enim de spinis colligunt ficus neque de rubo vindemiant uvam. Bonus homo de bono thesauro cordis sui profert bonum et malus homo de malo profert malum ex abundantia enim cordis os loquitur.»

A King James Version diz: «For there is no good tree that bringeth forth evil fruit: nor an evil tree that bringeth forth good fruit. For every tree is known by its fruit. For men do not gather figs from thorns: nor from a bramble bush do they gather the grape. A good man out of the good treasure of his heart bringeth forth that which is good: and an evil man out of the evil treasure bringeth forth that which is evil. For out of the abundance of the heart the mouth speaketh.»

Suspeita minha: aquele rubo da Vulgata, e não quero ser desmancha-prazeres, não podem ser os nossos abrolhos. Será, mais facilmente acredito, o bramble bush inglês. Este é, pelo menos, da mesma família do rubo. Compreendo, porém, a opção dos tradutores portugueses.

Etimologia: Bombaim

Tudo igual

«Os portugueses baptizaram-na no século XVI de Bombaim, a partir de “Bom Bahia”; tornou-se Bombay quando passou a colónia britânica, e Mumbai em 1996, como era identificada por falantes de gujarati e marathi» («Índia em estado de alerta máximo», Francisca Gorjão Henriques, Público, 12.07.2006, p. 2). Como já referi acerca de Pequim → Beijin, não temos de seguir, apesar dos protestos de certas pessoas bem-intencionadas, esta alteração de Bombaim para Mumbai. Ah, e em português escreve-se «guzerate» e «marata».

Poesia: «Ode ao dicionário»

Diccionario, no eres
tumba, sepulcro, féretro,
túmulo, mausoleo,
sino preservación,
fuego escondido,
plantación de rubíes,
perpetuidad viviente
de la esencia,
granero del idioma.
Y es hermoso
recoger en tus filas
la palabra
de estirpe,
la severa
y olvidada sentencia,
hija de España,
endurecida
como reja de arado
fija en su límite
de anticuada herramienta,
preservada
con su hermosura exacta
y su dureza de medalla
..............................................................................................
De tu espesa y sonora profundidad de selva,

dame,
cuando lo necesite,
un solo trino, el lujo
de una abeja,
un fragmento caído de tu antigua madera perfumada
por una eternidad de jazmineros,
una sílaba,
un temblor,
un sonido,
una semilla:
de tierra soy y con palabras canto.

Pablo Neruda, «Oda al diccionario»

14.7.06

Verbo faltar

Falta aprender as conjugações   

      «Faltam ainda recolher pistas, mas as fontes em Nova Deli ouvidas pelo diário indiano afirmaram que os atentados seguiram o modus operandi do LeT [Lashkar-e-Toiba, «Exército dos Puros», grupo islamita com base no Paquistão] em estreita colaboração com o SIMI, que cada vez tem mais influência no estado de Maharashtra, do qual Bombaim é a capital» («Atentados com impressões digitais do Lashkar-e-Toiba», Francisca Gorjão Henriques, Público, 12.07.2006, p. 3).
      Este é um dos erros mais comuns na conjugação verbal. Ora, o sujeito do verbo faltar, que é pessoal, é outro verbo, o verbo recolher, que está no infinitivo. O valor nominal do verbo no infinitivo exige assim que o verbo faltar esteja no singular. O valor nominal do infinitivo já vem do latim. Que digo eu? Já vem do grego. No latim, o infinitivo era um antigo substantivo que exprimia a noção verbal pura e simples. Contudo, à semelhança do grego, o latim tendia a fazer entrar o infinitivo na conjugação, dando-lhe tempos e vozes: lecturum esse, legisse, lecturum fuisse (irreal); lectum fore, lectum esse, legendum esse. Por vezes, como acontece em português, o infinitivo era mesmo substantivado, virtualidade que já vinha do grego, língua em que era muito comum graças ao uso do artigo. «Hic uereri perdidit» («Perdeu todo o sentido do respeito»), escreveu Plauto nas Bacchides, exemplo em que uereri está por uerecundiam. E mesmo os escritores da época imperial alargaram este uso do infinitivo substantivado: «Illud […] iucundum nihil agere» («Este agradável nada fazer»), escreveu Plínio, o Jovem, nas Epistolae.

O grama/a grama

Elementar


      Claro que é elementar, meu caro Watson, mas ainda há e haverá quem erre o género da palavra «grama» no sentido de milésima parte da massa do quilograma-padrão. Nesta acepção, é um substantivo do género masculino: o grama. No sentido de erva, relva, é do género feminino: a relva. Na oralidade é relativamente comum este erro; na escrita, e sobretudo na escrita jornalística é raro — e imperdoável.
      «Nos melhores dias, ele chega a encontrar uma grama de ouro, no máximo», «Ouro. Uma grama por dia, à espera que a mina volte a abrir», Público, 10.07.2006, p. 48.

13.7.06

Ortografia: Waziristão

Um pouco mais

      É interessante ver como o próprio Público, que não é muito atreito a aportuguesar seja o que for, e muito menos os topónimos, usa o vocábulo «Waziristão», à semelhança, aliás, de outros jornais portugueses. De facto, «Waziristan» (do urdu وزیرستان) é a transcrição fonética para o inglês. Também nós podíamos chegar à forma «Vaziristão», mais conforme, afinal, com o nosso alfabeto.
      «Pelo menos seis soldados paquistaneses morreram ontem quando um suicida fez explodir o carro armadilhado em que seguia contra um checkpoint militar perto de Miran Shah, a principal cidade da região do Waziristão Norte, junto à fronteira com o Afeganistão», «Ataque à bomba no Paquistão vitima seis soldados», Público, 27.06.2006, p. 22.

12.7.06

Léxico: batólito

Outra música

O maestro Virgílio Caseiro foi entrevistado, no sábado, no programa Mil e Uma Escolhas (Antena 1), e foi com que ele que eu aprendi que os afloramentos rochosos que se vêem, por exemplo, em Monsanto, a «aldeia mais portuguesa», têm a designação de «batólitos». Trata-se, sei-o agora, do batólito de Penamacor-Monsanto.
«batólito s. m. Geol. grande corpo de rocha ígnea formado pela intrusão e solidificação de magma, alguns com embasamento comprovado, cuja forma é equidimensional tendente a alongada, e com extensão superior a 100 km2» (Dicionário Houaiss). O elemento «bat(i)o», do grego, expressa a ideia de profundo, fundo em espessura. O maior batólito da Península Ibérica é o monte do Pilar, na Póvoa de Lanhoso, com uma altitude de 385 metros.

Pronome + infinitivo

No princípio era o pronome…

«A mãe de João Pereira Coutinho completou 90 anos e o filho não mediu esforços para a agradar. Até ofereceu fins-de-semana no Algarve aos vizinhos para compensá-los do barulho» («Milionário dá festa de arromba», Helena Isabel Mota, Correio da Manhã/Vidas, 17.06.2006, p. 16). É preferível colocar o pronome antes do verbo compensar, visto este estar no infinitivo precedido da preposição «para». Exemplos: «ele ofereceu um fim-de-semana para os compensar», «tu deves fazer alguma coisa para o pôr no lugar», «telefonei-lhe para o repreender», «ando para lhe confidenciar um segredo há que tempos».