31.7.08

Revisão nos jornais


Sem inveja

      Admiro os revisores do Le Monde, que têm tempo e à-vontade para criticar opções linguísticas do jornal para que trabalham. Bom exemplo, bem longe das hipocrisias a que estamos habituados. São oportunidades para todos aprenderem algo. Os títulos, que são sempre vistos por várias pessoas (dois revisores, director, editores e paginadores), são escrutinados miudamente — mas o erro e a gralha não deixam de acontecer. Nesta primeira página do Record, vemos «Felippe» (o médio benfiquista brasileiro) em vez de «Fellipe», como gralha. Como erro, «3.ª feira» em vez de «3.ª-feira».

Ortografia: «luso-descendente»

Luso-afonias

Já aqui referi uma vez a questão, mas volto a abordá-la, pois a prática jornalística não mudou. «Um lusodescendente [Juan Marques] radicado na Venezuela está a liderar a investigação sobre a doença de Chagas, um importante problema de saúde na Venezuela, embora inexistente em Portugal» («Português lidera na doença de Chagas», Diário de Notícias, 21.07.2008, p. 12). Para grande surpresa, lemos no pós-título: «Luso-venezuelano conseguiu descobrir contágio por via oral». Que regra é essa que manda usar hífen em compostos de luso se o segundo elemento começa pela letra v e sem hífen se o segundo elemento começa por d? Não será mais uma invencionice dos revisores, do calibre do nome García sem acento agudo?

Linguagem desportiva


Imagino

O jornalismo desportivo tem, pelo menos, o condão de me fazer rir. Observador privilegiado que sou, vejo que agora há uma predilecção alargada pelo termo «perfume». Estejam atentos. «Perfume sul-americano travado por sangue português do Bochum», Gonçalo Lopes, Diário de Notícias, 21.07.2008, p. 40). Perfume é sempre algo bom, uma emanação, agradável ao olfacto, que exalam os corpos aromáticos. Como desconfiamos que isso não acontecerá nem em campo nem no balneário, concluímos que se faz uso de um dos sentidos figurados do vocábulo, neste caso o de «lembrança agradável».

Cerrado ≠ serrado

De raspão

«A segunda shotgun (caçadeira de canos cerrados) foi descoberta pouco depois das 20:00 num local ermo, perto da zona onde tinha sido encontrada uma primeira arma, na estrada entre Vila Nova da Barquinha e Golegã» («Cinco suspeitos em preventiva», Global/Diário de Notícias, 31.07.2008, p. 6). No Diário de Notícias, o artigo, assinado pela jornalista Ana Mafalda Inácio, tem algumas diferenças. Sobretudo, os canos da caçadeira são serrados.
De resto, as armas empolgam os jornalistas. No Público falava-se na segunda-feira numa «arma tipo shot-gun» («Rui Pereira elogia actuação da PSP na detenção de cinco suspeitos em Abrantes», Público, 28.07.2008).

Ortografia: «García»


Excepcional

«García custa nove milhões ao Benfica», titulava o Diário de Notícias na primeira página da edição de ontem. E depois?, perguntará o leitor apressado e que só aqui vem para me fazer um favor. E depois, o jornal desportivo Record grafa sempre o nome deste jogador sem acento: «Garcia». Ora, a gramática espanhola estabelece que os hiatos formados por uma vogal débil (i ou u) e uma vogal forte (a, o ou u), ou vice-versa, têm acento gráfico, que recai no i ou no u: tía, día, frío, maíz, secretaría, María, García… Ah, esta é uma excepção, ouvi… Não era impossível, convenhamos. Contudo, toda a imprensa espanhola, sem excepção, escreve «García».

30.7.08

Pronúncia: «Naide»

Numa só emissão de voz

Já suspeitava, mas agora tenho a certeza: alguns dos nossos jornalistas não sabem pronunciar o nome Naide. Bem pode Naide (de facto, Ezenaide) Gomes saltar mais alto, os jornalistas não a acompanham. No noticiário das 9 da manhã na Antena 1, ouvi mais uma vez um jornalista pronunciar o nome fazendo hiato no ditongo oral decrescente ai: /Na.i.de/. Ná, está mal. É /Nai.de/, como /nai.pe/. Em regra, a sequência gráfica do tipo «ai» representa um ditongo decrescente, como em «caixa», «pai», «saia», «saibro», por exemplo. Porque não ouvem como a própria pronuncia o nome?

Parques e jardins

Imagem: http://www.lxjovem.pt/


Pergunte ali à frente



      O leitor sabe onde fica o Jardim do Florista? Até há cinco minutos, eu também não sabia, e morei alguns anos na Estefânia. «Na freguesia de São Jorge de Arroios, o Jardim Constantino, também conhecido por Jardim do Florista, em homenagem a Constantino Marques de Sampaio e Mello, conhecido por rei dos floristas de Portugal no final do século XIX, parece gritar por manutenção» («Jardins lisboetas estão ao abandono», Marta Costa Santos com Patrícia Tadeia, Metro, 30.07.2008, p. 5). No fim-de-semana, perguntei a várias pessoas em São Domingos de Benfica onde ficava o Parque Bensaúde, alvo de alguma publicidade nos últimos tempos. Nem uma me soube dizer. Pior: nem uma sabia que existia um parque na freguesia com tal nome.


Ortografia: «radioemissor»

Pobres lobos

«Ana Guerra adiantou que, ainda este ano, se pretende colocar colares com rádio-emissores para seguimento por telemetria de alguns lobos» («Biólogos investigam sobrevivência do lobo», Paula Lima, Diário de Notícias, 27.07.2008, p. 18). A sério? E isso não faz mal aos lobos — o erro ortográfico, digo? Todos os dicionários registam radioactividade, radioactivo, radioamador, radioamadorismo, radioastronomia, radioecologia, radioecológico, radioelectricidade, radioelemento, radioemissão, radioemissor, radioemitir, radioestesia, radioestésico, radioestesista, radioisótopo, radiouvinte…

29.7.08

«Kemalista»

Se me explicarem

«Os kemalistas controlam as forças armadas e o poder judicial, tendo grande peso entre as elites urbanas» («Entre Islão político e ordem secular», Luís Naves, Diário de Notícias, 28.07.2008, p. 6). Já aqui abordei a sem-razão de se grafarem em itálico vocábulos derivados de outros, estrangeiros estes. Exemplifiquei com «jihadista» e «stressado». Eis que neste texto de ontem do Diário de Notícias se lê «kemalista». Claro que sei, e agora melhor que nunca, que muitas vezes não são os jornalistas, os autores, os tradutores que fazem isto, mas os revisores pouco escrupulosos e pouco dados a reflectir.

28.7.08

Pontuação

Bem fornecido

Segundo o jornal Global, a Universidade do Algarve vai lançar este ano lectivo a primeira licenciatura em Arqueologia do Sul do país. Acrescenta o jornal: «O objectivo é fornecer, aos futuros arqueólogos, formação específica sobre a verificação e protecção de recursos arqueológicos no âmbito da realização de obras, uma saída profissional em expansão, já que se perspectivam grandes obras públicas, como o Aeroporto de Lisboa e o TGV» («Algarve ensina arqueologia», Global, 28.07.2008, p. 4). Pois é, mas, apesar de deslocado, o complemento indirecto («futuros arqueólogos») não precisa de estar isolado por vírgulas, pois não há má interpretação do termo deslocado, dado que quem fornece, fornece algo a alguém ou fornece a alguém alguma coisa. «O objectivo é fornecer formação específica aos futuros arqueólogos.» «O objectivo é fornecer aos futuros arqueólogos formação específica.»

Actualização em 29.07.2008

Ontem, o mesmo texto (que é da Lusa) foi publicado no Diário de Notícias com ligeiras alterações, entre as quais a ausência das vírgulas: «O objectivo é fornecer aos futuros arqueólogos formação específica sobre a verificação e protecção de recursos arqueológicos no âmbito da realização de obras, uma saída profissional em expansão, já que se perspectivam grandes obras públicas» («Algarve lança curso de Arqueologia», Diário de Notícias, 29.07.2008, p. 12).

Topónimo

Só a tiro

«Num dos locais onde decorreu a operação, uma casa em Abrançalha-de-Baixo, que esteve cercada por elementos de forças policiais, esteve de prevenção uma ambulância dos Bombeiros de Abrantes» («Polícia ferido em operação de caça a grupo de seis fugitivos», Global/Diário de Notícias, 28.07.2008, p. 7). Os topónimos compostos, ligados ou não por preposição ou contracção de preposição com artigo, ou os constituídos por várias combinações de palavras não levam hífen: A dos Francos, Freixo de Espada à Cinta, Vila Nova de Foz Côa… Logo, Abrançalha de Baixo. Abrançalha de Cima. É um erro repetido em quase todos os jornais.

27.7.08

«Palestino» e «islamita»

Defensores da língua

      Tome-se como exemplo este parágrafo de um artigo publicado no The New York Times: «It may sound like the indulgence of a well-fed man fleeing the misery around him. But when Jawdat N. Khoudary opens the first museum of archaeology in Gaza this summer it will be a form of Palestinian patriotism, showing how this increasingly poor and isolated coastal strip ruled by the Islamists of Hamas was once a thriving multicultural crossroad» («Museum Offers Gray Gaza a View of Its Dazzling Past», Ethan Bronner, The New York Times, 25.07.2008). O Jornal do Brasil publicou o mesmo artigo, traduzido: «Deve soar como indulgência de um homem bem alimentado fugindo da miséria ao redor. Mas quando Jawdat N. Khoudary abrir o primeiro museu de arqueologia em Gaza este ano será uma forma de patriotismo palestino, mostrando como essa faixa costeira isolada e cada vez mais pobre dominada por islamitas do Hamas já foi um próspero caldeirão multicultural» («Palestinos legitimam seu passado», Ethan Bronner, Jornal do Brasil, 27.07.2008, p. A28). Vejam como o jornal brasileiro usou os vocábulos «palestino» e «islamitas» para traduzir «Palestinian» e «Islamists».

26.7.08

«Com certeza»

Desconcerto

Na edição de anteontem do Diário de Notícias criticava-se um vestido comprido cheio de brilho usado por Madonna. Concluía o texto: «Mas é concerteza caro» («O excesso de Madonna», Diário de Notícias, 24.07.2008, p. 63). Pois é, mas tal palavra não existe. Está lá por «com certeza», que é uma locução adverbial. Se é simples, porque não fazem bem, jornalistas e revisores?

Ermitage ou Hermitage?

Eremitério sem agá


      O museu russo tem o nome Ermitage ou Hermitage? Para o Diário de Notícias, é Ermitage. Para o Público, Hermitage. «O Museu Eermitage [sic] de São Petersburgo recebeu cerca de 361 mil euros, incluindo os royalties, mas o transporte e o seguro das centenas de obras de arte ficaram ainda mais caros: cerca de 440 mil euros» («Exposição do Ermitage na Ajuda deu lucro de 108 mil euros», Leonor Figueiredo, Diário de Notícias, 24.07.2008, p. 48). «Afinal, o Museu Hermitage de São Petersburgo não está interessado em ter um pólo permanente de exposição em Lisboa, disse anteontem ao PÚBLICO o director da emblemática instituição russa, Mikhail Piotrovski» («Hermitage já não quer ter um pólo permanente em Portugal», Vanessa Rato, Público, 19.07.2008, ver aqui).
      De facto, o nome Эрмитаж é transcrito pelos anglo-saxónicos por Hermitage e pelos francófonos e italianófonos, por exemplo, por Ermitage. Os principais jornais espanhóis, porém, escrevem Hermitage. Os nossos eremitérios não têm agá.

Quem edita


Página editada por

Todos os jornais têm as suas especificidades. No Record, por exemplo, na parte superior direita de cada página, imediatamente por baixo do filete sob o nome da secção do jornal (neste caso, Internacional), podemos ver quem editou a respectiva página. O facto de esta informação ser composta num corpo minúsculo (corpo 5, creio) mostra que terá sobretudo relevância interna. (Podia, de facto, não passar para o leitor, ficando numa área não impressa, para conhecimento apenas das diversas áreas da redacção.) Não conheço informação semelhante noutros jornais.

Plural dos topónimos

Everestes

Lia-se no Record de ontem: «A massa total do sistema de anéis de Saturno — que são constituídos por uma mistura de gelo, poeiras e material rochoso — equivale a cerca de 30 milhões de Montes Evereste... juntos!» («Saturno é o planeta com o maior sistema de anéis», Record, 25.07.2008, p. 43). É correcto dizer «Montes Evereste»? Como substantivos próprios que são, os topónimos, como os antropónimos, têm plural. Contudo, neste caso concreto, a anteceder o topónimo está o nome de um acidente geográfico, «montes», pelo que apenas este pluraliza: montes. Com inicial minúscula, claro. Não se diz e escreve frequentemente Eldorados? Como explica Evanildo Bechara, trata-se na realidade de nomes da «classe», «e, portanto, substantivos comuns» (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 37.ª edição, 2002, p. 114).

25.7.08

Acordo Ortográfico

Indolor

Rui Tavares, uma das vozes mais sensatas na comunicação social a falar sobre o Acordo Ortográfico, já aqui o disse, em artigo publicado na edição de anteontem do Público escrevia sobre as consoantes mudas e a propósito de se ver com alguma frequência «contracto» (no sentido de acordo), «traducção», «conductor» e outras palavras com um c a mais: «A partir de agora passa a haver uma regra simples. No momento de escrever, pense-se: eu pronuncio aquele “c”? Se sim, escrevo. Caso contrário, não escrevo (ou, em alternativa: se desejo continuar a escrevê-lo, devo pronunciá-lo). Esta regra vai facilitar a vida a muita gente no momento da escrita. E ela é, por si só, a grande mudança que o cidadão comum vai ter de fazer. Quando começar a ser utilizada, pouca gente quererá voltar atrás.» Conclui Rui Tavares: «Se estamos numa de palpites, deixo o meu: daqui a cinco anos ninguém se vai lembrar das razões de tanta resistência» («Nem se vai dar por isso», Público, 23.07.2008, p. 36).

«Relações públicas» e detenção

Abaixo o hífen!

Caro Luís Ferreira: não, «relações públicas», o termo para designar o «profissional que tem como função alargar a projecção de determinada empresa, sociedade ou grupo junto do público, transmitindo destes uma boa imagem» (na definição do Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora), não tem hífen. O uso inadequado do hífen, o seu uso excessivo, é uma das maldições da escrita jornalística dos nossos dias. Agora que sou revisor de uma publicação periódica como é um jornal (de revistas já o sou há anos, mas nestas escreve-se infinitamente melhor), estou bem colocado para o afirmar. «Bernardo Macambira, ex-marido de Rute Marques e um dos mais conhecidos relações públicas da noite portuense, está desde terça-feira da passada semana detido* na prisão de Custóias, onde cumpre uma pena de quatro meses devido à apreensão de um CD pirata, a 10 de Dezembro do ano 2000, na hoje extinta discoteca Voice, da qual era então o principal responsável» («Bernardo Macambira preso por ter CD pirata na sua discoteca», Marcos Cruz, Diário de Notícias, 23.07.2008, p. 15).


* De caminho, aproveito para lamentar que os jornalistas continuem a escrever este disparate. Alguém pode estar (em Portugal, não no Zimbabué, por exemplo) mais de oito dias detido? O máximo, e é uma garantia constitucional, são 48 horas, prazo só ultrapassável se já se tiver iniciado o interrogatório judicial. Mas não são realizados de vez em quando seminários de Direito para jornalistas? Ninguém aparece?
Por outro lado, quem é o responsável pela incoerência de no corpo do artigo se usar o vocábulo «detido» e no título «preso»? Um revisor atento não corrige ou pelo menos não chama a atenção do jornalista ou do editor?

24.7.08

Os títulos dos jornais


Uma imagem de si


É interessante ver a imagem que cada jornal tem si de mesmo. Já tinham pensado nisto? Alguns, como A Bola, O Jogo, o Metro e o Público, vêem-se maiusculizados: A BOLA, O JOGO, METRO, PÚBLICO. Outros, como o Diário de Notícias, vêem-se abreviados: DN. Outros, como o Jornal de Negócios, vêem-se como coisa quase comum: Jornal de Negócios. Um, o Record, quer destacar-se do resto: Record. Outros, como o Meia Hora, vêem-se como nós os vemos, sem psicoses nem megalomanias: Meia Hora. O 24 Horas, finalmente, vê-se quase como o vemos, com uma ligeira distorção: 24horas.
Nunca, até hoje, vi o que o autor de Regret the Error viu: um jornal escrever incorrectamente o próprio nome. Mas ainda sou novo.

«Isto apesar de Moutinho estar, segundo A BOLA apurou, receptivo a escutar as condições que os toffees têm para lhe oferecer» («Leão irredutível segura Moutinho», Rui Baioneta, A Bola, 22.07.2008, p. 6).

«Este é um destino histórico de Portugal”, disse ao METRO, de forma lacónica, o criminalista, considerando que, não havendo provas para acusar os arguidos, “deveria ter-se retirado o estatuto e continuado a investigação”» («Arquivamento suscita críticas», André Rito, Metro, 23.07.2008, p. 5).

«Ao que O JOGO apurou, as qualidades do guarda-redes foram apreciadas em Goodison Park, mas não a ponto de os responsáveis avançarem, no imediato, para a contratação do internacional sérvio, até porque o valor da cedência, um milhão de euros, não aconselha decisões precipitadas (mesmo para um clube inglês)» («Everton ainda pondera “Stoi”», António Bernardino, O Jogo, 22.07.2008, p. 7).

«A Ordem dos Médicos (OM) lembrou há dias que os médicos internos nos hospitais têm que ser acompanhados por colegas especialistas, não lhes podendo ser atribuídas responsabilidades de decisão clínica, depois de ter encontrado situações que considerou ilegais numa visita-surpresa realizada em Março ao Centro Hospitalar de Coimbra, conforme noticiou o PÚBLICO no sábado» («Internos nas urgências não preocupam ministra», Público, 22.4.2008, p. 9).

«Esta é a convicção manifestada em entrevista à NS’, a publicar no sábado, com o DN e o JN, dois dias depois do lançamento do seu [de Gonçalo Amaral] livro Maddie, A Verdade da Mentira» («Arquivamento é “o fim de uma grande injustiça”», José Manuel Oliveira, Diário de Notícias, 22.07.2008, p. 4).

«Sónia Casaca, em entrevista ao Jornal de Negócios, conta que “a Magirus já tem todas as condições para avançar. Vamos iniciar desde já a formação certificada de dois fabricantes e aos poucos acrescentar novos cursos”» («Alemã Magirus cria centro de formação em Portugal», Ana Torres Pereira, Jornal de Negócios, 14.07.2008, p. 14).

«Mas apesar de Alípio Ribeiro estar agora afastado do caso e do lugar que ocupava, especialistas ouvidos pelo Meia Hora defendem que o antigo director deve continuar a proferir as suas opiniões» («Director da PJ responde ao antecessor sem reservas», Maria Nobre, Meia Hora, 23.07.2008, p. 5).

«De acordo com a escritura de partilha assinada a 18 de Junho, e a que o 24horas teve acesso, Carla ficou com a vivenda com piscina na zona de Cascais, avaliada em 1,2 milhões de euros» («Ex de João Pinto está mais rica que ele», Sónia Simões, 24 Horas, 22.07.2008, p. 4).

«Era o mais esperado e dessa opção Record dera conta na projecção do primeiro jogo oficial da época, na Turquia» («“Espero que possamos fazer uma grande dupla”», Marco Aurélio, Record, 22.07.2008, p. 16).

Léxico: «apronto»

Primeira página da edição de hoje

E a prestações


      No Record, habituei-me depressa aos termos que referem as posições de jogo e ao facto de os compostos terem todos hífen: ala-direito, defesa-central, defesa-direito, guarda-redes, lateral-esquerdo, médio-ala, médio-defensivo, médio-ofensivo, ponta-de-lança… Mas uma palavra frequentíssima nos textos do diário desportivo nunca a tinha lido: apronto. «Entretanto, os nigerianos Chidi e Samson não tomaram parte no apronto de ontem» («Espionagem ao Benfica», L. L., 19.07.2008). O Dicionário Houaiss regista o termo: «apronto s. m. DESP treino, exercício final para testar, antes de uma competição, as condições técnicas de um atleta ou de uma equipa».

Léxico: «desteinado»

Quase destreinado

Um desses fanáticos da vida saudável que querem deixar um cadáver lindo quando morrerem estava na semana passada no restaurante do Celeiro na Baixa. As empregadas são quase todas — да, да — russófonas e simpáticas como é difícil acreditar. O fanático perguntou então a uma empregada se determinado chá era bom. Ela respondeu que sim, claro, tendo acrescentado que era descafeinado. O fanático quase explodiu. Que não, isso era o café. O chá tinha «outra coisa qualquer». Contra o meu feitio, tive de me intrometer, para informar o fanático de que essa «outra coisa», o princípio activo do chá, se chamava teína, e ao chá sem essa «outra coisa», desteinado. O fanático acalmou e agradeceu: «Obrigado. Eu devia saber.»

23.7.08

Cores

Verde-hospital

Longe vá o agoiro


Estava aqui a traduzir uma frase do inglês e, por referir uma cor, lembrei-me de como sempre tive um enorme fascínio pelas cores em si e pelos nomes que as designam. «Chris olhou para as paredes verde-hospital do edifício da Laminated Papers.» Hospital-green, no original. Creio que foi na década de 1950 que os primeiros hospitais começaram a ser pintados desta cor, porque se pensou então que tranquiliza mais o doente do que o tradicional branco brilhante. Ah, as cores, os matizes, os tons. Amorado, anil, calibado, cárdeo, cróceo, garço, glauco, gris, groselha, gualdo, havana, miniano, múrice, níveo, ostrino, pagiço, rom, rosura, rútilo, zabelo, zinzolino…

Monaco e Mónaco

No futebol

Foi notícia recente a ida do médio-ofensivo Freddy Adu para outro clube, por empréstimo. Segundo alguns jornais, foi para o Monaco; segundo outros, para o Mónaco. Para os jornais, como o Record, que optam por escrever Monaco, a justificação encontra-se no facto de o nome do clube ser esse: AS [Association Sportive] Monaco Football Club, S. A. Que fica, sim, no Principado do Mónaco.
«Freddy Adu vai representar o Monaco, na próxima temporada, por empréstimo do Benfica» («Adu cedido ao Monaco por uma época», Record, 22.07.2008, p. 6).
«Freddy Adu, médio-ofensivo do Benfica, vai ser emprestado ao Mónaco durante uma época, ficando o clube gaulês com direito de opção em relação ao passe do jogador» («Benfica. Adu vai jogar no Mónaco», Diário de Notícias, 22.07.2008, p. 64).
«Fora das opções irá estar Freddy Adu, já que o norte-americano, que também está ao serviço da selecção, foi emprestado ao Mónaco» («Internacionais à disposição de Quique e Bento», Metro, 22.07.2008, p. 7).

Ground Zero, outra vez

Os títulos


      No Diário de Notícias, anda alguém a ler-me (além de Ferreira Fernandes): «A reconstrução do antigo espaço do World Trade Centre, o Ground Zero, está num impasse depois do gigante financeiro americano, Merrill Lynch, ter recuado na intenção de ocupar uma das novas quatro torres de escritórios» («Crise trava reconstrução do World Trade Center», Hugo Coelho, Diário de Notícias, 22.07.2008, p. 31). É que há pouco, antes de eu falar no assunto, grafava Ground Zero em itálico: «De “comum humanidade” se tratará no último dia daquela que é a nona deslocação (ver fotolegenda) de um Papa a solo americano. Simbolicamente, Bento XVI deslocar-se-à [sic] ao Ground Zero, local das Torres Gémeas, um dos alvos dos ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001» («Papa enfrenta pedofilia e ordem mundial “errada”», Abel Coelho de Morais, Diário de Notícias, 14.4.2008, p. 9).
      Na notícia de ontem, a ninguém minimamente atento escapará que no corpo do artigo se escreve World Trade Centre e no título World Trade Center. Deverão ser os revisores a corrigir estas incoerências. Não há desculpa para não o fazerem. No Record somos, desmentindo a ideia de que os jornais não têm revisores, quatro revisores, com três a trabalhar numa mesma edição. E, suprema liberdade, somos nós que introduzimos no programa de paginação (Milenium Editor, v. 5.5, da Protec, utilizado na maioria das redacções de jornais em Portugal) as emendas que fizemos em folhas A3. Imagino que no Diário de Notícias não será muito diferente.

«Codex Sinaiticus»

Da Rússia

É uma boa notícia do Diário de Notícias: «A Biblioteca Nacional da Rússia, em Sampetersburgo, revelou ontem que os primeiros pergaminhos do Codex Sinaiticus, uma bíblia manuscrita do século IV, vão estar disponíveis para consulta na Internet a partir de quinta-feira em www.nrl.ru» («Bíblia do século IV vai estar ‘online’», T. P., Diário de Notícias, 22.07.2008, p. 49).

22.7.08

Erros de tradução

Under the Volcano

No canal Hollywood, estava agora mesmo a passar o filme Olha Quem Fala Agora! (Look Who’s Talking Now, no original). A personagem Mollie Ubriacco (desempenhada pela actriz Kirstie Alley) arranja um trabalho como mall elf (sazonalíssimo, a recibos verdes, imagino). Na bicha para falar com o Pai Natal, estão dois miúdos que perguntam a Mollie se é mãe do Pai Natal. Responde ela, e as orelhas pontiagudas estão sempre em evidência: «No, I’m a Vulcan.» Tradução de Isabel Monteiro (da Dialectus): «Não, sou um vulcão.» Nem é preciso ser cinéfilo, como eu não sou, para traduzir como devia ser. Para um cinéfilo, é canja: a fala, e a própria caracterização, é uma referência à personagem da tenente Saavik* desempenhada por Kirstie Alley no filme Star Trek: A Ira de Khan.


*
E espero que ela não se abespinhe por não lhe chamar tenenta e me tache de ignorante. O topete, uma vulcana (está bem: meio vulcana, meio romulana) a ensinar-me português.

«Tifosi»

Erros da moda

E então descobriram que andavam há anos a escrever tiffosi, com dois ff. Erradamente. Um enviado especial trouxe a descoberta de Itália: é só com um f, tifosi. Pior ainda, na mesma noite souberam que o singular é tifoso. Conselho: passem a ler a imprensa italiana: «Lampard dice sì all’ Inter. I tifosi bloccano Stankovic alla Juve» (La Reppublica, 20.07.2008, p. 51). Deve ser confusão com a marca Tiffosi, da empresa têxtil Cofemel, de Lousado, Vila Nova de Famalicão. Digo eu.


«Tifoso: 2 agg., s. m. AD [di alta disponibilità] che, chi fa il tifo per una squadra sportiva o un campione» (in De Mauro).

Plural dos nomes próprios

Os Tudors

Sobre o episódio da série Os Tudors (The Tudors II, no original), a programação da RTP indicava: «Enquanto pede a anulação do casamento com Katherine de Aragão, Henry nomeia-se a ele próprio chefe da Igreja Anglicana. Anne Boleyn insiste para que ele corte relações com a rainha e Katherine é banida da corte. Começa a Reforma.» Umas linhas mais abaixo, diz-se que é Henrique VIII, mas Katherine não passa para Catarina nem Anne Boleyn se nacionaliza para Ana Bolena. Mas quem é que escreve isto? Só se salva terem mantido o plural do nome próprio Tudors. A ignorância tem desígnios insondáveis.

21.7.08

Acordo Ortográfico

Sem dramas

Segundo notícia do Público, o Presidente da República, Cavaco Silva, já promulgou o Acordo Ortográfico, ratificado no Parlamento a 16 de Maio deste ano. Agora só resta estudar as normas estabelecidas, evitando os erros das obras já publicadas sobre a matéria, e aplicá-las. Os revisores deverão ser os primeiros a saber o que muda.

O género de «modelo»

Do género

      Dizia o original: «Ma come in Occidente si sfidano le taglie imposte alle modelle (lo ha fatto la ministra Giovanna Melandri), così nei paesi musulmani molte donne sfidano i diktat sul velo scatenando furiose reazioni.» E o tradutor verteu assim: «Mas tal como no Ocidente se questionam as medidas que nos são impostas pelas modelos (fê-lo, por exemplo, a ministra Giovanna Melandri), nos países muçulmanos muitas mulheres desafiam o diktat do véu, desencadeando reacções furiosas.» Pois é, modelle é o plural do feminino modella (o masculino é modello/modelli), donna che indossa e presenta capi e accessori di abbigliamento durante le sfilate di moda. Em português, nem todos os dicionários reconhecem os dois géneros ao vocábulo. Para o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, por exemplo, tem apenas o género masculino, como sempre se defendeu e usou. Para o Dicionário Houaiss, tem os dois géneros. A evolução das línguas, já aqui o afirmei uma vez, deve muito à ignorância dos falantes.
      A propósito de géneros, ainda ontem Herman José, no Chamar a Música, na Sic, dizia: «Sua Santidade, coitadita […].» Ora, com pronomes de tratamento dá-se sempre a silepse de género: Vossa Senhoria é estúpido. Vossa Excelência é mau. Vossa Majestade é um bom avaliador. Vossa Alteza é muito bondoso. Sua Santidade, coitadito.

19.7.08

«Anticarjacking»

Em que língua?

«Carros da PSP e GNR com tecnologia anti-carjacking», titulava o Público na edição de ontem (p. 9). Uma palavra metade portuguesa, metade inglesa? Há exemplos disso, sim senhor, mas causam-me sempre engulhos. No caso, porém, está errada, pois existe a palavra inglesa anticarjacking. Se eu fosse contar os «anticarjacking devices» que já li, enchia páginas. Por outro lado, em português, se ao prefixo anti- se segue uma palavra começada por c, não se usa hífen.

18.7.08

«Islamita»

Tu quoque


      O jornal 24 Horas também prefere a forma «islamita»: «A divulgação de mais uma rusga policial foi a última notícia de uma série de revelações que a China tem vindo a fazer acerca de uma suposta ameaça terrorista islamita em Xianjiang, que pretende atacar durante o período dos Jogos Olímpicos, que se iniciam daqui a três semanas» («China aperta o cerco a alegados terroristas», 24 Horas, 17.07.2008, p. 25).

«Desadequado», outra vez

Mau uso



      «“O receio é que qualquer uso desadequado do símbolo enfraqueça a neutralidade da Cruz Vermelha”» («Símbolo da Cruz Vermelha usado na libertação de Ingrid», S. S., Diário de Notícias, 17.07.2008, p. 28). À CNN, Mark Ellis disse o seguinte: «“It is clear that the conventions are very strict regarding use of the symbol because of what it represents: impartiality, neutrality. The fear is that any misuse of the symbol would weaken that neutrality and would weaken the [Red Cross],” Ellis said» («Did Colombia Commit War Crime in FARC Hostage Rescue?», Ken Shepherd, aqui). Misuse traduz-se por «mau uso, uso incorrecto, inadequado».

Treinar e treinar-se

É uma ordem!

«O plantel do Benfica treinou-se ontem no Seixal, numa sessão marcada pelas ausências de Nélson e Fellipe Bastos, que se queixaram de dores musculares e ficaram no ginásio» («Cardozo só se apresenta segunda-feira», 24 Horas, 17.07.2008, p. 21). Até recentemente, nunca se lia num jornal, desportivo ou não, o verbo treinar conjugado pronominalmente, excepto, é claro, na acepção de «exercitar-se em». Agora difícil é encontrar o verbo desacompanhado do pronome. Neste caso, ilibem-se os revisores, pois é uma directiva das chefias. Agora sei que é assim.

Nomenclatura científica

Quase, quase

      «Chama-se Flavescência Dourada (FD), é provocada por um fitoplasma (um vírus) que tem como transmissor um insecto da família das cicadelas, o Scaphoideus titanus Ball» «Vinhas do Norte ameaçadas por praga que pode ser devastadora», Pedro Garcias, Público, 17.07.2008, p. 29). Por acaso, o insecto não se chama Scaphoideus titanus Ball. Chama-se, e não sei se assim se afigurará menos deletério, Scaphoideus titanus Ball. Pormenores.
      Já agora, devo dizer que a flavescência é a qualidade ou estado de flavescente, isto é, que se torna ou pode tornar flavo, amarelo, louro ou cor de ouro. Flavescente era um particípio presente em latim. Embora em português antigo alguns dos particípios presentes ainda conservassem o sentido verbal latino, com a evolução da língua passaram a adjectivos (estrela cadente, ou seja, que cai), a substantivos (assistente, ou seja, que assiste) e a preposições (durante, tirante).

A sigla CEO

O inferno do CEO

      Ontem Jorge Coelho fez 54 anos. Sabiam? Ah, mas isto é importante: vinha no Público! «Jorge Coelho, CEO da Mota-Engil, 54» («Hoje fazem anos», Público/P2, 17.07.2008, p. 12). Não percebo é esta mania de usar a sigla inglesa CEO a torto e a direito. Director executivo não exprimia o mesmo?

17.7.08

Dar ou fazer erros

Daria 20 valores

Se fosse Marcelo Rebelo de Sousa. Como não sou, limito-me a saudar o jornalista que escreveu o título «Norman Foster acusado de fazer “maior erro da carreira” na Bulgária» (P2, 16.07.2008, p. 11) no Público de ontem. Muito bem: os erros dão-se ou fazem-se; os pecados e os crimes é que se cometem.

«Presidenta»?

A president…


      Alguns leitores pedem-me que me pronuncie sobre a afirmação de Pilar del Río de que é presidenta e não presidente da Fundação José Saramago. Na entrevista ao Diário de Notícias (edição de 6.7.2008, pp. 2-5), interrompeu o jornalista para lhe chamar ignorante. «Só os ignorantes é que me chamam presidente. A palavra não existia porque não havia a função, agora que existe a função há a palavra que denomina a função. As línguas estão aí para mostrar a realidade e não para a esconder de acordo com a ideologia dominante, como aconteceu até agora. Presidenta, porque sou mulher e sou presidenta.»
      Que história é essa de antes não haver a função? Antes quando? O substantivo «presidente» é comum de dois. Alguém diz a agenta, a clienta, a estudanta, a gerenta, a imigranta, a serventa? Nestes substantivos, são os adjuntos (artigos, adjectivos, pronomes, numerais) com flexão de género que indicam o sexo: o agente, a agente; o cliente, a cliente; o estudante, a estudante; o gerente, a gerente; o imigrante, a emigrante; o servente, a servente… Pilar del Río é espanhola, e o Diccionario de la Real Academia é que regista que «presidenta» é a «mujer que preside». Cá, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, ainda apenas regista: «presidenta s. f. (De presidente). 1. Deprec. Esposa do presidente. 2. Fam. e Pop. Mulher que desempenha as funções de presidente. Masc. presidente.» Eu sei e digo-o sempre: os dicionários não são oráculos. O que interessa é reflectirmos nisto: qual a necessidade de alterarmos uma palavra com estas características tão neutras? Historicamente, é verdade, alguns destes substantivos variaram: diz-se infante, mas também se diz infanta; diz-se governante, mas também se diz governanta; diz-se parente, mas também se diz parenta.
      Uma solução de compromisso seria chamar presidenta a Pilar del Río apenas quando a entrevista é feita além-fronteiras. Em Badajoz, seria presidenta. Se decorresse em Olivença, por exemplo, já nos deveríamos mostrar minimamente patriotas, chamando-lhe afoitamente presidente.

Eufemismos


O malogrado

«O elenco do novo filme da série Batman, The Dark Knight, juntou-se anteontem em Nova Iorque para a estreia mundial e aproveitou para homenagear Heath Ledger, o actor australiano que desempenha o papel de Joker e morreu em Janeiro, aos 28 anos, num acidente com drogas» («Tributo a Ledger na estreia de Batman», Público/P2, 16.07.2008, p. 12). Não sabia que Heath Ledger fazia biscates na construção civil (ou seria como ajudante de fiel de armazém de retém?). Como tenho formação na área de Higiene e Segurança no Trabalho, sei bem do que se está a falar: os acidentes com drogas podem envolver a quebra de um recipiente, o derrame de líquido, a dispersão de pó, a inalação ou ingestão de partículas…

Chumbar, reprovar

É o progresso, estúpido!

«Houve igualmente mais jovens a chumbar a esta disciplina (oito por cento) do que a Matemática» («Exame de Português “mais acessível” na 2.ª fase», I. L., Público, 16.07.2008, p. 12). Cá está a «evolução» da língua e a sua força imparável: dantes, o verbo chumbar (como reprovar) era transitivo directo, ou seja, um verbo que pede complemento directo. Se queremos que aquele que sofre a acção seja sujeito, temos de usar a voz passiva: «Houve igualmente mais jovens a serem chumbados a esta disciplina (oito por cento) do que a Matemática.» Recentemente, contudo, alguns dicionários vieram legitimar a construção da frase acima. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, até a abona com uma frase de Pepetela: «Chumbar Gír. Reprovar num exame. “Os amigos insistiam para ele ao menos terminar o Liceu. Nada feito. Chumbava regularmente no último ano.” (PEPETELA, Geração da Utopia, p. 14).» Potencialmente, qualquer erro pode ser «legitimado» pelos fazedores de dicionários. Parafraseando Churchill, apetece dizer: «O progresso da língua é a capacidade de ir de um falhanço a outro sem perder o entusiasmo.»

16.7.08

Cólon ou colo

Dá-lhe com uma petição

O leitor Fernando Ferreira acaba de me enviar uma mensagem em que me chama a atenção para o facto de haver na Internet uma petição sobre o cancro do cólon do útero. Ou, se quisermos, colo do útero. Ora, tanto o sítio em que está a petição como os numerosíssimos blogues que fazem referência ao assunto grafam «cólo». Só uma pergunta: não seria útil que aprendessem português antes de se porem a escrever? Para quando uma petição para que isso se torne obrigatório?

A Schutzstaffel ou a SS

Escudo Protector

      «Operações e amputações sem anestesia, injecções directamente no coração de petróleo e outras substâncias tóxicas. Rotina para um médico das forças de elite de Hitler, as SS, como Aribert Heim. Mas ao contrário dos seus camaradas de maquiavelismo, Heim ainda está vivo e a monte. […] Aribert Heim foi médico SS no campo de concentração de Mauthausen, Áustria. Ali efectuou experiências em seres humanos, torturou e matou prisioneiros. Esteve escondido na Alemanha até 1962, ano em que fugiu, como muitos outros nazis, para a América do Sul» («Em busca do último dos monstros nazis», João Magalhães, Meia Hora, 16.7.2008, p. 8).
      Vamos ver se percebo: se em vez de escrever SS, o jornalista tivesse desdobrado a sigla, teria escrito «Schutzstaffel». E, logo, «a Schutzstaffel». Donde vem então o plural? Também ninguém diz «as PSP» quando a sigla se refere à Polícia de Segurança Pública.
      Por outro lado, o que é isso de «coração de petróleo»? Deveria ter escrito «injecções de petróleo e outras substâncias tóxicas directamente no coração». Mataria menos leitores...

Actualização em 9.10.2009

      «Dado que o seu pai [de Herta Müller, laureada com o Prémio Nobel da Literatura em 2009] pertenceu à SS — tropa de elite chefiada por Himmler na II Guerra Mundial —, perpassa ainda pela sua escrita algum sentimento de culpa perante o passado obscuro da Alemanha» («Nobel premeia escritora corajosa», Ana Maria Ribeiro, Correio da Manhã, 9.10.2009, p. 41).

Grandes números

Um milhão, mil milhões, um bilião: 1 000 000, 1 000 000 000, 1 000 000 000 000

Já que falam nisso



      Numa mensagem de correio electrónico, o IPQ (Instituto Português da Qualidade) pergunta se «sabia que a designação correcta para o número 10 elevado a 9 (1 000 000 000) é mil milhões e para o número 10 elevado a 12 (1 000 000 000 000) é um bilião». Eu sabia, mas será que todas as pessoas sabem? Os tradutores, por exemplo, costumam meter os pés pelas mãos. A norma portuguesa sobre os grandes números é a NP 18:2006.

15.7.08

Folhear ≠ desfolhar

Folhas caídas

      O Meia Hora entrevista hoje a professora de Literatura Portuguesa Ana Paula Arnaut, autora da compilação de entrevistas (António Lobo Antunes — Confissões do Trapeiro, ed. Almedina) dadas entre 1979 e 2007 por António Lobo Antunes. Lê-se naquele jornal: «Durante a digressão de apresentação da obra, a autora falou com o Meia Hora e desfolhou-nos as páginas desta compilação» («“Através desta obra conseguimos perceber as diferentes maneiras de estar de Lobo Antunes”», 15.7.2008, p. 15). Regista qualquer dicionário: Desfolhar, verbo transitivo: 1 tirar as folhas ou as pétalas a; descamisar; descapelar; 2 sentido figurado extinguir pouco a pouco.
      É isto que os jornalistas pretendem, extinguir-nos a paciência pouco a pouco?

Revista em linha

OPS!

Foi ontem lançado o primeiro número da revista bimensal Ops!, de Manuel Alegre, que é aberta a todos os que têm um pensamento de esquerda. «Chegou a hora de resistir ao condicionalismo e à colonização ideológica», escreve Manuel Alegre no editorial («escreve o deputado-poeta», não resistiriam os jornalistas a escrever). Cada número da revista será dedicado a um tema, tendo o primeiro número como tema o trabalho e o sindicalismo. Pode descarregar o PDF.

14.7.08

Bibliotrónica Portuguesa

Colaborem

Dantes havia o livro único; agora, o livrónico. Sabia? Até às 17.34 de ontem, eu também não. Àquela hora, Carlos Costa, assessor do projecto Bibliotrónica Portuguesa, resgatou-me da minha ignorância. Na Bibliotrónica Portuguesa, que é um sítio dedicado à edição de textos em suporte electrónico, alojado na página do Departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, traduzem e-book por livrónico. Os textos editados e a editar têm de cumprir três condições: têm de ser textos em língua portuguesa; têm de ser textos cuja edição não ofenda os direitos de autor (domínio público ou cedência dos direitos); têm de ser editados de acordo com normas previamente explicitadas. Veja aqui.

13.7.08

Um anglicismo semântico

Evidentemente

Afinal, a estátua da Loba Capitolina, símbolo de Roma, é 1800 anos mais nova do que se pensava. Como é que se sabe? Para mim, foram provas científicas, com recurso ao carbono-14. Para Ricardo Nobre, «evidências científicas (o teste do carbono) acabam de pôr a descoberto mais um erro da Arqueologia». Evidência, no sentido de «prova», «indício», é um anglicismo inútil e que não merece contemplação. Claro que também vem do latim, através do inglês, mas mais de 50 % do léxico inglês provém do latim. Um caso bem diferente do vocábulo «paciente», aqui explicado por Adriana Freire Nogueira. Curioso é ver que a notícia para que remete Ricardo Nobre não usa a palavra «evidence».

Estudo de caso

Os limites da revisão

É interessante ver a língua evoluir à frente dos nossos olhos. Evoluir… ou espalhar-se? O artigo era a propósito do 5.º aniversário da MTV Portugal, e o título era «Caso-estudo de sucesso europeu» (Filipe Feio, Diário de Notícias, 6.7.2008, p. 70). No artigo, lia-se, entre outras coisas: «No target dos 15 aos 34 anos conquistou um share médio de 4,3% e, de acordo com dados da Marktest, entre Julho de 2003 e Junho de 2004, cresceu 50%, transformando-se num case-study de sucesso para a MTV Networks Europe.» Ou seja, o título usa um vocábulo que é a tradução de um estrangeirismo usado no corpo da notícia. Não será isto um pouco confuso? Primeiro, há muito que se usa «estudo de caso». Segundo, nunca vi senão case study, uma expressão, e não um vocábulo justaposto, «case-study». Neste caso, o revisor só tinha uma coisa a fazer, sem medo nem remorsos: emendar.

12.7.08

Comunidade de leitores

Com olhos de ler

Na Biblioteca Municipal de Cascais, em S. Domingos de Rana, reúne-se a comunidade de leitores Com Olhos de Ler (pode ver aqui o blogue). No próximo dia 25 de Julho, das 21 horas às 23 horas, estará em destaque a obra O Amante, de Marguerite Duras, e poesia de David Mourão-Ferreira. No dia 29 de Agosto, a obra em análise será Fogo na Noite Escura, de Fernando Namora, e poesia de Manuel da Fonseca. O núcleo dinamizador é composto por Manuel Nunes, Maria da Graça, João Pequenão, Paula Martins e Cristina Carvalho. Informações pelo telefone 214 481 971, extensão 4403. Porque é que isto me interessa? Afinal sou munícipe de Cascais, não de Lisboa. Além disso, sempre as comunidades, a começar pela de Luiz Pacheco, me interessaram. Piscatória, científica, internacional, cigana, muçulmana, católica, educativa, médica, judaica, protestante…

Tradução do espanhol

Pouco científico
     

      A propósito da campanha pelo Manifesto para a Língua Comum que decorre em Espanha, promovida pelo jornal El Mundo, o Diário de Notícias escreve: «Em defesa do castelhano encontram-se figuras dos mais diversos sectores da sociedade: o escritor Miguel Delibes, o tenor Plácido Domingo, o ex-seleccionador nacional de futebol Luis Aragonés, o poeta Antonio Gamoneda, o toureiro Cayetano Riviera Ordóñez, o científico, [sic] César Nombeia [sic]» («Mais de cem mil espanhóis a favor do Manifesto», Diário de Notícias, 6.7.2008, p. 37). Científico: «Que se dedica a una o más ciencias», regista o Diccionario de la Real Academia. A escrever assim, até parece que o autor do texto é subscritor do Manifesto para a Língua Comum. Manifiesto por la lengua común, dirá ele.


Topónimo: «Nebrasca»

EUA

Mesmo que venhamos a ter a letra k no alfabeto português, é muito mais natural que se escreva este topónimo com c: «“Velhos são os trapos” é a expressão que a norte-americana Dara Torres podia ter dito, ontem, depois de se ter apurado para os Jogos Olímpicos de Pequim, nos 100 metros livres, em Omaha, Nebrasca, nos Estados Unidos» («Quarentona Dara Torres vai nadar em Pequim», Tiago Guilherme, Diário de Notícias, 6.7.2008, p. 53).

11.7.08

«Citomegalovírus» e «citopático»

Dos Gregos

Uma leitora pergunta-me como se deve escrever: «vírus citomegálico humano» ou «vírus citomegalo»; «efeito citopático» ou «efeito citopatogénico». O Dicionário Médico, de L. Manuila et alii, adaptado e revisto para português por João Alves Falcato (Climepsi Editores, 2.ª ed., 2001), regista na página 140: «citomegalovírus, s. m. (fr. cytomégalovirus; ing. cytomegalovirus), Sin. usual do herpesvírus humano 5. V. doença por citomegalovírus, síndrome Torch. Abrev.: CMV.» Em contrapartida, não regista «citopatogénico» nem «citopático», apenas «citopatologia». Contudo, ambas as formas estão correctas e bem formadas. Se me inclino para alguma, é para a última, «citopático», porque é, de longe, mais comum em português. Cit- ou cito- é um prefixo de origem grega que exprime uma relação com as células. Pat-, pato- são prefixos (a que devemos acrescentar o sufixo -patia) de origem grega que exprimem uma relação com a doença ou com um estado anormal.

Solarengo ≠ soalheiro


Já que pedem


      A pedido de várias pessoas, retomo então a famigerada questão do «solarengo». O que até apetece, pois amanheceu chuvoso aqui em Lisboa. Uma vez que estamos no Verão, esperemos que ainda venha aí um dia soalheiro. Ou ensolarado. País de anglófonos proficientíssimos, toda a gente sabe que em inglês é «sunny». Só ignoram como é em português, língua e cultura em que tiveram (ou tivemos) a desdita de terem nascido.
      Quanto a «solarengo», eis um contexto em que é usado com propriedade: «As casas solarengas de traça setecentista [isto é, as moradias de famílias nobres ou importantes], as quintas ladeadas de cerejeiras e arvoredo de Anreade, S. Martinho de Mouros ou Resende permanecem hoje quase inalteráveis, evocando a época em que Eça de Queirós as descreveu, habitadas pelas personagens dos enredos da Ilustre Casa de Ramires» (Douronet, Portal Turístico do Douro).

10.7.08

«Solarengo» e «música orelhuda»

Depois conto


      Há erros persistentes. Como as nódoas. Na Ípsilon, precisamente: «Com o Verão, vêm os “blockbusters e as comédias românticas. […] O filme baseado na extensa banda sonora orelhuda* do grupo sueco contém 24 números musicais filmados numa Grécia solarenga» («“Mamma Mia”: quando os Abba voltam a atacar», Público/Ípsilon, 27.6.2008, p. 4). «Solarengo, adj. Relativo ou pertencente a solar (casa ou herdade nobre).│Que é moradia solar ou tem o aspecto de solar.│Que vive em solar; que é dono de solar.│ S. m. Senhor de solar.│Aquele que, como serviçal ou lavrador, viva no solar ou herdade de outrem» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, coordenado por José Pedro Machado).
      A pressa justificará tudo? Vou agora testar a teoria indo trabalhar como revisor, durante algum tempo, lá para o final do dia, para a melhor publicação desportiva. Ah, está informado: para o Record, justamente. Faltava-me esta experiência de trabalho numa redacção, com outros revisores. Depois da prática, a teoria na Booktailors, para mais um curso de Técnicas de Revisão (iniciação), em meados de Outubro.


* Nesta acepção, que me parece simples cópia do inglês, o vocábulo ainda não está dicionarizado. Além da acepção mais óbvia, «que tem orelhas grandes», em sentido figurado significa «estúpido, teimoso».

9.7.08

Léxico: «livro-êxito»

Alternativas

      Livro-êxito. Como alternativa a «bestseller», já se usava no Brasil e começa agora a usar-se em Portugal: «Baseado no livro-êxito de Nicholas Sparks, um filme comovente de Nick Cassavetes que conta a história de um homem que todos os dias lê a uma mulher, no lar de idosos onde ambos vivem, o diário da história de amor de dois jovens» («O Diário da Nossa Paixão» [The Notebook], Público/P2, 27.6.2008, p. 19).

Pontuação

Excrescências

Lia-se no Meia Hora de ontem: «Preço dos cereais, pobreza e clima são prioritários, segundo a ONU» («África em debate no início da cimeira», Margarida Caseiro, Meia Hora, 8.7.2008, p. 6). Nem pensar. A vírgula só faria falta se o termo «segundo a ONU» viesse anteposto: «Segundo a ONU, o preço dos cereais, a pobreza e o clima são prioritários.» É típico: os jornalistas não usam a vírgula quando é obrigatória e, ao mesmo tempo, abusam das vírgulas facultativas.

G-8 ou G8?

Ideologias

Num texto publicado ontem, Ricardo Nobre dizia no seu blogue que, perante a sigla G8, na comunicação social portuguesa se faz indiferentemente a concordância verbal no plural ou no singular, o que condena, pois «sendo um grupo (ou seja, um substantivo colectivo), na gramática portuguesa, os adjectivos e verbos que concordam com o substantivo vão para o singular (como acontece com turma, molhe, cáfila, manada, e outros nomes), e não para o plural (como se ouve e lê na comunicação social portuguesa)».
Podemos estar, todavia, perante um caso de concordância semântica e não morfossintáctica, o que se designa por silepse ou concordância ideológica, que não ocorre apenas em textos literários. Assim, ao fazerem a concordância, os jornalistas poderão estar a pensar no vocábulo subentendido «países»: «O[s países do] G8 (Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) estão reunidos numa localidade termal de Tokayo, nas montanhas do Norte do Japão, desde segunda-feira.»
Como revisor, outra coisa me faz espécie: é o uso indiferente no mesmo texto das siglas G-8 e G8. «O primeiro dia da cimeira que até amanhã reúne os líderes do grupo dos sete países mais industrializados do Mundo e a Rússia (G8), na estância japonesa de Tokayo, foi dominado pela definição dos desafios da comunidade internacional para combater a escassez de alimentos nos países pobres, bem como pela condenação, reafirmada sobretudo pelos representantes da União Europeia — ao Presidente do Zimbabué e à violência que o país africano atravessa sob o seu regime. […] Na sua intervenção, o secretário-geral da ONU defendeu que o G-8 tem “desafios interligados”» («África em debate no início da cimeira», Margarida Caseiro, Meia Hora, 8.7.2008, p. 6). Ora, a forma G-8 não faz qualquer sentido, pois se desdobrarmos a sigla, Group of Eight ou Grupo dos Oito, não vemos nenhum hífen. Donde vem o inútil tracinho, não querem explicar-me?

8.7.08

Nomes chineses

Chinesices?


      «O Banco Central da China divulgou ontem, através de um comunicado oficial publicado na página da Internet, que vai emitir seis milhões de notas olímpicas de 10 renmibi (cerca de 1 euro) para comemorar os Jogos. Desta forma, as notas, que habitualmente têm o dirigente comunista Mao Tsé-Tung, vão passar a ter o estádio olímpico Ninho de Pássaros num lado e a estátua grega do lançador de disco, Discobolus, no outro» («Mao Tsé-Tung sai das notas chinesas», Meia Hora, 8.7.2008, p. 10). A sério? Mas o nome do histórico dirigente chinês está incorrectamente escrito. Tanto quanto sei, nos nomes chineses em que haja um elemento composto, o segundo termo tem inicial minúscula: Chiang Kai-chek, Chu En-lai, Mao Tsé-tung, Yang-tse, Kai-fong, Ki-lin… E porque é que não escreveram «Discóbolo»?

Caraíbas/Caribe


Sonho dos trópicos

«O Centro Nacional de Furacões dos EUA confirmou ontem que a tempestade Bertha, formada no Atlântico, a Leste [sic] do Caribe, ganhou força e transformou-se no primeiro furacão da temporada deste ano na região. O furacão estava na categoria 1 da escala Saffir-Simpson, que vai até 5 e mede a força e a destruição» («“Bertha” inaugura época dos furacões», Meia Hora, 8.7.2008, p. 7). Caribe parece ser a forma preferida dos operadores turísticos (portugueses e espanhóis). Caraíbas, que ainda é a única forma registada em quase todos os dicionários, é a variante largamente maioritária.

Léxico: «subducção»

Deslizamentos

Vulcões em Portugal? «Os vulcões existentes em Portugal continental estão extintos mas a Terra pode entrar num novo ciclo geológico, com uma zona de subducção a sudoeste da Península Ibérica, e a actividade vulcânica não está excluída. “Com base na distribuição dos sismos, há quem diga que podemos estar a entrar num novo ciclo geológico, que poderá ter como consequência o vulcanismo”, afirmou o geólogo José Francisco.» Como sempre preconizo, o jornalista explica o que é a subducção: «Na origem do processo estará um fenómeno de subducção — o mergulho de uma placa [tectónica] sob outra — neste caso da oceânica sob a continental, em cujo extremo está Portugal» («Vulcões à beira de um ataque de nervos», Meia Hora, 8.7.2008, p. 5). Do latim subductiōne, «deslizamento, tracção».

7.7.08

Ortografia: «imã»

Magnético

      «O príncipe Karim Aga Khan, líder institucional e espiritual de milhões de muçulmanos ismailis a viver em cerca de 25 países [,] vai estar em Portugal de 10 a 14 de Julho. O Aga Khan é o 49º Imam hereditário Shia Imami Ismailis e dirige uma comunidade de 15 milhões de muçulmanos» («Príncipe Aga Khan visita Portugal», Global, 7.7.2008, p. 6). Não percebo é porque não escrevem «imã», palavra portuguesa, e assim, com minúscula. Já temos sorte que o jornalista não tenha escrito, como li recentemente, «íman»… Não nesta notícia, mas em muitas outras, vejo que o título Aga Khan é erradamente interpretado, à semelhança de dalai-lama, como um nome. Quanto ao resto, o Diário de Notícias explica melhor: «“Um conceito central de tudo isto é o poder da arquitectura para ligar o passado ao presente e ao futuro”, disse o Aga Khan IV, o príncipe Karim al-Hussayni, após um momento musical interpretado pelo Silk Road Ensemble. O 49.º imã dos ismaelitas (uma comunidade muçulmana xiita minoritária) presidiu à cerimónia ao lado de Abdullah Ahmad Badawi, o primeiro-ministro da Malásia, num cenário em que a madeira predominava e o negro dos fatos dos homens contrastava com as cores fortes dos trajes tradicionais das mulheres na plateia» («Aga Khan premeia projectos que ligam passado, presente e futuro», Helena Tecedeiro, Diário de Notícias, 5.9.2007).

5.7.08

Ortografia: «televangelista»

À distância

Caro L. M.: uso a forma «televangelista», que, tanto quanto sei, não está dicionarizada. Faço-o por analogia com o vocábulo «telescola», em que há supressão de um e. Ainda recentemente a vi usada por um dos nossos melhores jornalistas, Ferreira Fernandes: «Mais um escândalo político-religioso na América. O reverendo John Hagee, televangelista de San Antonio, Texas, disse que foi Deus, instrumentalizando Hitler, que decidiu o Holocausto. Os televangelistas falam por metáforas porque é o tipo de discurso que incentiva várias interpretações, pescando assim mais crentes. Para mim, o que Hagee disse deveria levar Deus a meter-lhe um processo por difamação. Mas muitos entenderam nas palavras do reverendo texano um insulto aos judeus — matéria sulfurosa em tempos de eleições... Daí que o candidato presidencial John McCain, a quem Hagee apoia, decidisse recusar o seu apoio. Depois do aborrecimento de Obama com o seu pastor Jeremiah Wright (também de metáforas loucas), o de McCain com o seu pastor. Eu se fosse candidato americano aproveitava para lembrar uma... metáfora. Mas, essa, boa: dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Isto é, em política, apoio de pastor é meio caminho para ficar tosquiado» («Separar os rebanhos dos eleitores», Diário de Notícias, 24.5.2008).

4.7.08

Acordo Ortográfico

Perceber para discutir

Ainda aqui não tinha divulgado o blogue oficial da Petição em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico, o que faço agora. Não por eu ser peticionário, uma vez que não estou contra o Acordo Ortográfico, mas por entender que só ganhamos em perceber os argumentos em discussão.

Títulos de filmes

Não é fácil?

É já a segunda vez que leio críticas à adaptação do título do filme Forgetting Sarah Marshall, actualmente em exibição nos cinemas do País. Adaptação, repito. Não se trata de tradução, como tenho lido.
Vejamos o que escreve Paulo Narigão Reis no Meia Hora: «Por esta altura ainda corre nas salas nacionais Forgetting Sarah Marshall, título que o exibidor resolveu chamar Um Belo Par... de Patins. Tente-se imaginar o dilema: Esquecer Sarah Marshall, tradução lógica — digo eu... — seria pouco chamativo para o público. Seria, além disso, pouco revelador do género do filme, uma comédia. Vá lá, pelo menos ninguém se lembrou de traduzir Forget Paris, de Billy Crystal, para Um Belo Par de Bolas... de Basquete... A tradução muito livre de títulos é um clássico da exibição nacional. Como esquecer o brilhante Grande Moca, Meu, título português com que foi brindado Harold & Kumar Go to White Castle. Admita-se: as dificuldades aqui eram mais sérias. Arranjar um título para um filme sobre dois consumidores de marijuana atacados pelos munchies e cheios de vontade de comer hambúrgueres da cadeia White Castle não é pêra doce, nem sequer um Sundae. Mas até os franceses, como seu Harold & Kumar chaissent le burger, conseguiram dar a volta à questão» («Que Belo Par de… Títulos Idiotas», Meia Hora, 4.7.2008, p. 12). Quanto a mim, acho que tais títulos revelam tanto de sentido comercial como de falta de imaginação.

Topónimo: «Michigão»

Usa-se

Quem disse que «Michigão» não se usa? Ei-lo: «Madonna Louise Veronica Ciccone nasceu a 16 de Agosto de 1958 em Bay City, Michigão, EUA» («À beira dos 50 anos», Pippa Smith, Certa, n.º 126, 1-13.7.2008, p. 12). Como, de resto, recomenda José Manuel de Castro Pinto no Novo Prontuário Ortográfico (Plátano Editora).

3.7.08

Plural dos nomes próprios

Os Clappertons

Creio que foi Ellie Henderson que, no porto de Alexandria, perguntou a Hercule Poirot se tinha visto «os Clappertons». Foi assim, mesmo, no plural, que a tradutora Mafalda Eliseu escreveu nas legendas do episódio de hoje, intitulado «Problema a Bordo», da série televisiva Agatha Christie’s Poirot. Mais tarde, «Mrs. Clapperton» aparece morta no camarote 66. Ou terá sido «Mrs Clapperton»? «O manual de estilo da Universidade de Oxford, amplamente seguido no Reino Unido, tem muito a recomendar como solução de compromisso. A regra é: use um ponto apenas quando a palavra terminar de forma prematura. Ele deve ser omitido se a abreviação iniciar com a primeira letra da palavra e terminar com a última. Assim: Sra Bodoni, Sr John Adams Jr e Srta Lucy Chong-Adams, Dr McBain e Sto Tomás de Aquino; mas Prof. Czeslaw Milosz e Cap. James Cook» (BRINGHURST, Robert. Elementos do Estilo Tipográfico, versão 3.0, tradução de André Stolarski, Cosac Naify, São Paulo, 2005, pp. 99-100).
Quanto ao plural dos nomes próprios, Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa, escreve: «Os nomes próprios usados no plural fazem o plural obedecendo às normas dos nomes comuns, e a língua padrão recomenda se ponham no plural, e não no singular» (p. 125). Abona depois com uma citação da novela O Bem e o Mal, de Camilo Castelo Branco.

Caldeirão ¶

Ao anónimo

Um leitor, daqueles que sabem tudo (mas que ainda assim lêem o meu blogue…), depois de aqui ter lido duas vezes a palavra «caldeirão» a designar o símbolo ¶, desafia-me a apresentar «uma abonação que seja». Aceito. Tenho aqui seis abonações, mas, como só pediu uma, é o que vai ter: «Nos documentos de carácter económico e nos formados por elementos distintos (como constituições, tratados, cartas de privilégio ou de foral, etc.), convém abrir parágrafo para cada um dos elementos introduzidos por Item ou pelo caldeirão, ¶ e, na falta destes, quando a divisão em artigos tornar o texto mais inteligível» (COSTA, Avelino de Jesus da. Normas Gerais de Transcrição e Publicação de Documentos e Textos Medievais e Modernos, 3.ª edição, Coimbra, 1993, IPD/FLUC, p. 43).

Pontuação e cognomes

Dona Tareja

Afinal, parece que D. Teresa não era má pessoa, vem assegurar-nos Marsilio Cassotti. «Na novíssima biografia D. Teresa — A Primeira Rainha de Portugal [ed. Esfera dos Livros], o investigador Marsilio Cassotti deita por terra um dos maiores mitos da História de Portugal, apresentando a mãe de O Conquistador como uma mulher injustiçada. Depois de ano e meio de trabalho em arquivos, às voltas com documentação medieval portuguesa e leonesa, Marsilio Cassotti defende a tese de que a filha de Afonso VI, mulher de D. Henrique de Borgonha, está envolta em mitos» («Biografia revela “nova” D. Teresa», Ana Filipa Baltazar, Meia Hora, 2.7.2008, p. 12).
Numa caixa, ao meio, é reproduzida uma entrevista ao autor da obra. Para título da entrevista, aproveitaram uma frase do entrevistado («Se não fosse ela, este território havia-se perdido.»), mas uma pequena transformação correu mal: «Sem ela este território havia-se perdido». Se há inversão da ordem directa, a vírgula é necessária: «Sem ela, este território havia-se perdido.» Ah, e outra coisinha: mesmo aparecendo o cognome isolado, e não como aposto ou modificador apositivo do nome, o artigo escreve-se com minúscula: o Conquistador.

Abuso de «onde»

Onde?
     

      O moderno abuso do pronome relativo e advérbio de lugar «onde», em vez de «no/na qual», «em que», está a tomar proporções impensáveis. Vejamos só alguns exemplos mais recentes.

  1. «A história alternativa, onde se especula sobre cenários históricos diversos, e paralelos, dos que aconteceram na realidade (os what if…?, “e se?”), é um dos subgéneros mais populares da ficção científica, amplamente explorado pelos autores anglo-saxónicos» («E se D. Carlos não tivesse sido assassinado?», Eurico de Barros, Diário de Notícias, 18.1.2008, p. 34);

  2. «Mesmo assim, os níveis de precipitação forma muito inferiores aos registados nas cheias de 1967, onde morreram mais de 700 pessoas» («Mais temporais e mais fortes são inevitáveis para especialistas», Global/DN, 19.2.2008, p. 6);

  3. «Tanto doce até fez com que voltasse atrás nas declarações que fez anteriormente, onde acusou a RTP de ainda não ter decidido o seu futuro» («Merche Romero vestiu-se de chocolate mas RTP não lhe liga», Global, 25.2.2008, p. 23);

  4. «A maior amplitude de opiniões foi encontrada no jornal Público onde Zapatero venceu para 45,7% contra 30,1% que deram a vitória a Rajoy» («Zapatero vence Rajoy à tangente», Global/DN, 27.2.2008, p. 14);

  5. «A 27 de Janeiro, um raide da polícia, em Urumqi, a capital de Xinjiang, originou um tiroteio onde foram mortos dois rebeldes» («Atentado contra Jogos Olímpicos», Global/DN, 10.3.2008, p. 15);

  6. «Os reformados e os operários são quem mais adere aos Alcoólicos Anónimos (AA), onde os membros têm uma média de idades de 47 anos, segundo uma sondagem desta organização que apoia na recuperação do alcoolismo» («Alcoólicos Anónimos traçam perfil», Global, 19.3.2008, p. 3).


2.7.08

Logradouros públicos

Escolham

Depois de a obra actual [sic] — O novo acordo ortográfico, publicada pela Texto Editores, ter vindo afirmar que o Acordo Ortográfico de 1990 vem estabelecer, o que não é verdade, que se podia passar a escrever «Avenida da Liberdade ou avenida da liberdade» (p. 12), vi, com espanto, que também Guia Prático do Acordo Ortográfico, da prestigiada Porto Editora, afirma que se passará a escrever «Rua da Restauração ou rua da restauração» (p. 27). A especialista em dicionários, porém, deu-se entretanto conta do erro ou recebeu reclamações, pois já vi uma reimpressão da mesma obra em que se lê «Rua da Restauração ou rua da Restauração». Cabe assim ao leitor escolher o exemplar sem mácula. Contudo, de preferência, leia o próprio texto do Acordo Ortográfico de 1990.
Base XIX, n.º 2, al. i): «Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).»

1.7.08

«Marca umbrella»

Debaixo do mesmo tecto

      «A Sonaecom vai adoptar uma estratégia monomarca nas telecomunicações, já a partir deste mês, descontinuando a marca Novis, com que operava na rede fixa, e passando a utilizar a marca Optimus em todos os segmentos do negócio» («Optimus vai ser marca-umbrella da Sonae», OJE, 30.6.2008, primeira página). Em marketing, costuma dar-se o exemplo da Lactogal, que comercializa vários produtos (iogurte, leite, manteiga, natas e queijo) com a marca Mimosa, que não corresponde à denominação social da empresa. Costuma ver-se sem hífen: marca umbrella.


Adaga ou óbelo

Já vi

Cara Luísa Pinto: Sim, há editoras que usam a adaga, cruz ou óbelo (que é este símbolo: ) a anteceder as notas de rodapé. Tal como algumas usam, por exemplo, o caldeirão (que é este símbolo: ) para o mesmo fim. Na edição de textos clássicos, a adaga era usada para assinalar trechos tidos como duvidosos. Há também a adaga dupla, também chamada obelisco duplo ou diesis: ‡.

Léxico da fruta



aciniforme adj. 2 gén. Que tem forma de bagos.
amerim adj. Diz-se de uma pêra serôdia, muito estimada. Também se diz amorim.
apintar v. intr. Pop. Começar a tomar cor (uvas e outros frutos).
baguim m. Nome de duas variedades de pêra.
baionesa adj. Diz-se de uma espécie de maçã grande.
barbosa f. Variedade de pêra.
beringel adj. Diz-se de certa casta de figo.
bofes m. pl. Enfiadas de quartos ou rodelas de pêra ou maçã, seca ao sol.
boleco adj. Diz-se do fruto arejado ou que amadureceu de forma anormal.
boneca f. Castanha chocha ou sem polpa; folecra.
branil m. Lugar onde os frutos crescem muito.
camoesa adj. e f. Diz-se de certa casta de maçã.
campuda f. Variedade de maçã.
candicante f. Casta de uva branca, de bagos pequenos.
canelas f. Variedade de maçã minhota.
capendua f. Espécie de maçã, que tem a casca vermelha e também conhecida por almofada; o m. q. capandua.
carcérula f. Fruto encerrado em pericarpo, que não se abriu no tempo da maturação.
carcha f. Rodela, talhada.
castrodaire f. Variedade de pêra.
chupa f. Laranja descascada e não partida, para se lhe sorver o suco.
colaça f. Variedade de manga, na Índia.
coruche f. Variedade de pêra muito saborosa.
cuchário m. Bot. Variedade de figo temporão, no Algarve.
domingas f. Variedade de pêra semelhante à amerim.
dona-inês f. Variedade de pêra sumarenta e aromática.
dona-joana f. Variedade de pêra.
dona-joaquina f. Variedade de pêra.
dona-maria f. Variedade de pêra.
engana-rapazes adj. e f. Diz-se de uma pêra mediana e fina, assim chamada porque estando madura parece verde.
ensoar v. intr. Recozer a fruta com o calor, antes de ter amadurecido.
enxertas adj. e f. pl. Provinc. Diz-se das castanhas, quando longas ou compridas.
escurial f. Variedade de pêra muito apreciada.
esgana-cão m. Variedade de ameixa ordinária.
ferro-pau m. Casta de uva do Algarve.
fichoa f. Variedade de maçã.
figueiroa f. Variedade de pêra, o m. q. coxa-de-freira.
flamenga f. Variedade de pêra portuguesa.
focinho-de-burro m. Variedade de maçã.
fofa f. Variedade de maçã.
fonte-cal f. Variedade de uva. O m. q. fonte-canal.formosa-de-darei f. Variedade de pêra portuguesa.
fragma m. Bot. Parede transversal de um fruto.
fragosão m. Casta de uva do Alentejo.
gretamento m. Doença das peras e das maçãs.
gronho m. Variedade de pêro, muito conhecido no Norte do País.│Variedade de maçã.
gulosa f. Prov. trasm. Vara comprida, rachada e aberta na extremidade de cima, com que se colhem frutos; ladra.
junhães f. Antiga variedade de pêra portuguesa.
junhal f. Variedade de maçã do Minho.
laborjeiro m. Casta de uva.
labrusca f. Variedade de uva preta; o m. q. casteloa.
lameira f. Casta de uva de Trás-os-Montes.
lâmpados adj. pl. Mad. Diz-se dos primeiros frutos que aparecem.
lampo adj. Que vem antes do tempo, temporão; diz-se dos frutos, e, especialmente, de certa casta de figo.
languedor m. Variedade de uva preta do Algarve.
leitoa f. Variedade de pêra.
longais f. Antiga variedade de pêra.
machurra adj. f. Diz-se da planta tardia em dar flor ou fruto.
macletão m. Bot. Prov. trasm. Variedade de pêssego rosado.
maria-antónia f. Variedade de pêra.
maria-gomes f. Variedade de maçã.
melápio m. Variedade de pêro doce.
melgotão m. Prov. trasm. Nome vulgar do pêssego.
mouzinho adj. Diz-se de uma espécie de pêra, o m. q. mouzinha.
mozinha adj. Dizia-se de uma variedade de ameixa.
mulato m. Variedade de pêssego grande, no distrito de Leiria.
outoniço m. Aborto parcial dos bagos das uvas.
padre-francisco m. Variedade de maçã.
parida adj. Diz-se da amêndoa quando tem dois miolos.
pincre adj. Prov. alg. Diz-se do estado que atingiu o figo na árvore, quando, já muito amadurecido, dobra o pé e se encontra apto para a colheita e para a secagem: ramos carregados de figo pincre, pronto para se colher.
promagem f. Prov. alg. Nome genérico que se aplica aos figos que não são de toque.
pruína f. Pó céreo que cobre certos frutos.
pruinoso adj. Em que há pruína.
prumageira f. Macieira que nasceu de pevide e cujos frutos são em geral travosos.
rangel f. Variedade de pêra.
reguenga f. Variedade de maçã.
reiriz f. Bot. Variedade de pêra.│Variedade de maçã.
rio-frio m. Bot. Variedade de pêra parecida com a pêra-correia.
riscadinha f. Variedade de maçã cultivada desde o século XIX na região de Palmela.
rodrigo-afonso m. Espécie de uva branca, também conhecida por camarate, carrega-bestas e baldoeira.
rouval adj. Prov. beir. Diz-se de uma variedade de pêra muito apreciada para secar; o m. q. ruival.
rual m. Bot. Certa casta de uva de Azeitão.
sã-bento f. Variedade de pêra portuguesa.
safaria adj. Diz-se de uma casta de romãs de bagos grandes e quadrados.
salgada f. Bot. Variedade de fruta-manga da Índia.
santana f. Variedade de pêssegos grandes, de pele amarelo-rosada e polpa sucosa.│Variedade de pereira.
santiago m. Variedade de maçã e de pêra excelente.
sobrego m. Ant. Variedade de pêra, hoje desconhecida.
soldar adj. Diz-se de uma espécie de cereja, vermelha e mole.
sousa m. Variedade de pêro esverdeado.
soutar v. tr. Prov. Apanhar castanhas.
tachim m. Prov. alent. A primeira rodela de casca que se corta ao partir uma melancia.
talhada f. Porção cortada de alguma coisa, especialmente de frutos grandes.
vrancelhas f. pl. Variedade de uva tinta do Minho.
zesto m. Membrana que divide o interior da noz em quatro partes.

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