31.7.09

Sobre adjectivos e «extrabula»

No entanto, há

      E a propósito: medicamentos extrabula ou medicamentos extrabulas? Algumas gramáticas escolares afirmam que todos os adjectivos variam em número e grau, mas alguns são invariáveis em género. Não é verdade. Há, por muito controversa que possa ser a sua existência, adjectivos invariáveis em número. E, no pouco uso que temos deste adjectivo, extrabula parece enquadrar-se na categoria. Não nos esqueçamos de que, nos adjectivos compostos por justaposição, quando o último elemento é um nome, permanecem ambos invariáveis: cavalo puro-sangue/cavalos puro-sangue. Também em relação à flexão dos adjectivos compostos designativos de cores, se um deles for um substantivo, nenhum elemento varia — vestidos amarelo-canário; saias verde-mar; blusas azul-petróleo; chapéus verde-alface; paredes azul-turquesa; papéis branco-marfim… —, mesmo que só surja o nome do animal ou coisa: calções rosa, sofás marfim.      Embora eu não concorde em relação a todos*, e não estou só, alguns outros adjectivos, que não meramente os relativos às cores, são classificados como invariáveis, como extra, extrabarreiras, ultravioleta…infravermelho, por exemplo, admite feminino e plural. Para quem defende estas excepções, a argumentação usada é a seguinte: infravermelho varia porque o adjectivo «vermelho» varia sempre: cartão vermelho/cartões vermelhos; saia vermelha/saias vermelhas. Logo, raio infravermelho/raios infravermelhos. Em relação a ultravioleta, já é, propugnam, diferente: como substantivo adjectivado, «violeta» também não varia: batôn violeta/batôns violeta; blusa violeta/blusas violeta. Logo, para os defensores desta opinião, raio ultravioleta/raios ultravioleta. E, finalmente, quando se indica a cor com a expressão cor de, expressa ou subentendida, também não se faz a flexão do qualificador: paredes (cor de) gelo, camisas (cor de) creme, saias (cor de) vinho, sapatos (cor de) violeta.


      * O que eu e outros dizemos é que extra é a forma reduzida do adjectivo «extraordinário» (e já abordei aqui várias vezes as formas reduzidas de nomes, como metro, porno…), e por isso, o prefixo passou a ter também o sentido do adjectivo. Nesse caso, a sua flexão é normal, como a de qualquer outro adjectivo: «hora extra», «horas extras». É o que, consciente ou inconscientemente, leva, com o meu aplauso, alguns jornalistas a flexionarem o vocábulo: «Ministro proíbe gastos extras às direcções dos hospitais» (Público, 20.08.2006, p. 26). «Os gastos extras, para saídas, por exemplo, avaliam-se um a um, para que se aprenda a dar valor ao dinheiro e à poupança» («Crise não afecta famílias habituadas a poupar muito», Rita Carvalho, Diário de Notícias, 23.05.2009, p. 18).

30.7.09

«Aura mágica», «auréola mágica»

De magia

      «Bem entendido, Istambul foi a capital do mito orientalista europeu do século XIX e isso deu-lhe uma auréola mágica que é mais importante que todas as suas belezas reais e imaginadas» («Istambul», Paulo Varela Gomes, Público/P2, 27.06.2009, p. 3). Será mesmo «auréola mágica»? Ou será «aura mágica»? Em sentido figurado, auréola é sinónimo de «glória, prestígio». Também em sentido figurado, aura é algo de muito semelhante: «fama; favor público». O que me pergunto é se outra acepção de «aura», também um sentido figurado, não se adequará melhor: «atmosfera que rodeia ou parece rodear alguém ou alguma coisa». «No dia seguinte, reservo a manhã para visitar o mais antigo mosteiro do Laos. Construído em 1818, o Wat Sisaket está envolto por uma aura mágica e por harmoniosos jardins com esguias palmeiras, num lugar vigiado por 6800 imagens de Buda» («Viagem ao Oriente perdido», Maria da Assunção Avillez, Rotas & Destinos, Junho de 2004).


Léxico: «cleptoparasitismo»

Ecos

      «Cleptoparasitismo é quando um leão, por exemplo, rouba comida a uma chita» («Quando a fome aperta, vale tudo», Ana Gerschenfeld, Público/P2, 27.06.2009, p. 3). Numa edição da revista Audácia, que de momento não consigo precisar, escreveu a escritora Alice Vieira: «Neste poema só não gostei muito daquela expressão “é quando”. Tinha uma professora na escola que, quando escrevíamos ou dizíamos isso, cortava logo: “ecoando” é o gerúndio do verbo “ecoar…”. Deve ser por isso que não gosto da expressão.» Cleptoparasitismo, que o Dicionário Houaiss, por exemplo, não regista, é uma forma de interacção em que um organismo rouba um recurso, comida ou objecto, a outro organismo.

Tradução: «coroner» (II)

Reinspecção

      Decerto que ainda se lembram do texto em que tratei da tradução do vocábulo inglês «coroner». Houve desenvolvimentos na questão. Lia-se o seguinte no Diário de Notícias: «O assistente do IML de Los Angeles, Ed Winter[,] terá feito uma busca nos escritórios de Dr. Arnold Klein, dermatologista de Michael Jackson» («Polícia investiga consultório médico de Michael Jackson», Diário de Notícias, 15.07.2009). Assistente do IML? Na imprensa de língua inglesa, podia ler-se: «Assistant chief coroner Ed Winter said investigators were still testing the singer’s brain» («Coroner: Cause of Michael Jackson’s death could be revealed next week», Nancy Dillon, Daily News, 14.07.2009). Tenho fundadas dúvidas de que o leitor comum saiba desdobrar a sigla IML. (De resto, o organismo português responsável pela coordenação da actividade dos serviços médico-legais tem actualmente a designação de Instituto Nacional de Medicina Legal, logo, INML.) O mais correcto talvez fosse escrever: «O assistente-chefe do gabinete médico-legal [do condado] de Los Angeles, Ed Winter, terá feito uma busca nos escritórios de Dr. Arnold Klein, dermatologista de Michael Jackson.» Para o Público, Ed Winter é apenas o porta-voz do «instituto»: «A família recuperou o corpo às 21h00 locais (cinco da madrugada em Lisboa) longe das câmaras dos fotógrafos que estavam concentrados em frente ao Instituto Médico Legal de Los Angeles, disse o porta-voz do instituto, Ed Winter, citado pela AFP» («Corpo de Michael Jackson foi devolvido à família», Público, 27.06.2009).

Sufixo nominativo grego «-ia»

Vejamos

      «Os médicos afirmam que [Nicolas Sarkozy] teve uma lipotímia de esforço causada pelo calor» («Sarkozy teve alta», Correio da Manhã, 28.07.2009, p. 31). É uma controvérsia infindável, mas não me vou eximir a ela. Donde provém a palavra — do latim ou do grego? É do grego, sem intermediação latina. Ora, as palavras com sufixo nominativo -ia, que é tónico na língua grega, são paroxítonas, quando não foram usadas na língua latina: anemia, anisocoria, anorexia, anosmia, arritmia, astenia, cardiopatia, disfasia, dislalia, geografia, isquemia, lipotimia, patologia, polidipsia, retinopatia, sinequia… Em relação a algumas, porém, o uso e os dicionários consagraram já, indiferentemente, as formas tónicas e átonas, como biopsia/biópsia, por exemplo. Noutros casos, ficou consagrada a forma errada, como alopecia, que deveria ser alopécia, dado ter vindo do latim. Há estudiosos, como o médico e helenista brasileiro Ramiz Galvão (1846–1938), que sugerem que se proceda à uniformidade prosódica nas palavras terminadas com sufixo grego -ia, solução de que discordou Rebelo Gonçalves: «Se fôssemos pensar na regra exacta, a regra seria precisamente respeitar um princípio que se impõe, na nossa língua, a toda a reprodução de palavras gregas ou formação de palavras novas por meio de elementos helénicos: seguir a acentuação exigida pela forma latina intermediária, quer dizer, a acentuação de uma forma verdadeira ou apenas suposta teoricamente, pois ao latim manda a filologia recorrer como base prosódica dos nossos helenismos. Iríamos, porém, longe demais, se o fizéssemos nessa categoria de palavras terminadas em ia» (F. Rebelo Gonçalves, «Linguagem médica», Revista da Associação Paulista de Medicina, 10, 1937, pp. 50-79).

29.7.09

Concordância: «tipo de»


Livro de reclamações

      Um anónimo — que assina Blueangelwoman — ficou estomagado com uma observação que eu fiz, num texto de Março de 2008, à pronúncia do adjectivo «revolta» ouvida no programa Boulevard, na Antena 2. «Um dia», escreve Blueangelwoman, e começa a frase com minúscula, mas espero que seja lapso, «explicará com certeza, neste seu espaço semi-jactancioso, o que é uma rádio “não cultural” e, já agora, o que é a “não cultura”...» Primeira pista: quem comenta é apenas semiletrado, pois que o prefixo semi- se liga por hífen ao elemento seguinte apenas quando este começa por h, i, r ou s. Logo, semijactancioso. (Mas há quem assegure que é — ou são, o espaço e o autor — jactancioso. Opiniões.) Blueangelwoman ainda me pergunta: «Ou será que o que queria dizer com rádio cultural era rádio erudita?» Não queria, e apetecia-me mesmo acrescentar que convém saber onde estamos… Era mesmo rádio cultural. Veja por aí. E sentencia: «Parece-me que este tipo de desleixos (da ordem da terminologia) também não fazem muito bem à nossa Língua.» É aceitável mas não o mais correcto fazer concordar o verbo com o complemento determinativo («de desleixos»). Prefiro, sem jactância, a concordância do verbo fazer com o sujeito singular tipo, Logo: «Parece-me que este tipo de desleixos (da ordem da terminologia) também não faz muito bem à nossa Língua.» Um consolo: é cordato, pois despede-se com um «atenciosamente». Não esperava menos de um anjo.


Acidente aéreo/acidente de viação

Para evitar confusões

      «O corpo do piloto Rúben Alves, que morreu num acidente de aviação em Marrocos, foi ontem à tarde sepultado no cemitério do Paúl, Bombarral, onde residia» («Piloto no Paúl», Correio da Manhã, 28.07.2009, p. 13). Está correcto, claro que sim, mas eu não escreveria (sobretudo se fosse para ser lido aos microfones da rádio) acidente de aviação, pois é facilmente confundível com acidente de viação, mas acidente aéreo (de resto muito mais usado). E se ainda nunca li «acidente de aviação aérea», já vi «acidente de viação rodoviária», como sabem.

Ortografia: «rendibilidade»

Mudar de referência

      «Sete PPR [Planos Poupança Reforma] sem rendabilidade» (Raquel Oliveira, Correio da Manhã, 28.07.2009, p. 21). Ora cá está, esta é a forma vernácula: rendibilidade. Também já aqui tinha abordado o francesismo «rentável», que, aliás, vejo mais usado nos jornais de «referência»: «A questão central da investigação sobre as microalgas e a sua utilização como combustível está precisamente em saber até que ponto podem estas culturas ser economicamente rentáveis, se exploradas à escala industrial» («Alga nacional pode ser combustível», Carla Aguiar, Diário de Notícias, 6.01.2009, p. 30). «Dos 15 cavalos em apreço, a maior licitação foi para o Xuahdo, que rendeu aos cofres da FAR 15.600 euros. Já no lote das 18 éguas, foi a Suíça que mereceu o despique mais rentável ao ser rematada por 15.100 euros. Ambos os exemplares foram adquiridos por compradores portugueses» («Leilão de cavalos lusitanos rende 190 mil euros a fundação», Público, 27.4.2008, p. 9).

28.7.09

«(Ser) um de cada nação»

Para psis

      «Diz-se que a ministra tem uma fixação por sapatos. É verdade? Risos da governante... Hesitação. No fim, diz que não tem uma inclinação especial por sapatos, mas revela: “Já me aconteceu sair de casa com um sapato de cada nação”» («Sapato trocado», João Céu e Silva, Diário de Notícias, 26.07.2009, p. 5). Podem chamar um psicólogo ou qualquer outro psi, mas fiquei a simpatizar mais com a ministra da Educação depois de a ter visto utilizar esta forma de dizer, tão despretensiosa, tão terra-a-terra, que só ouvia à minha mãe.


27.7.09

Synoptic assessment

Sinapses e sinopses     

      Depois daquele acontecimento, ele, seja lá quem for, «stopped doing research in physics as a vocation and became primarily concerned with synoptic assessments». O tradutor entendeu que o professor em causa passou a dedicar-se «fundamentalmente a avaliações sinópticas». À letra ninguém traduziria melhor — mas o que são «avaliações sinópticas», se posso perguntar? É locução que só em textos brasileiros ocorre, e nunca com um significado remotamente encaixável neste contexto. Num texto do OFQUAL (Office of the Qualifications and Examinations Regulator), que é o organismo público britânico com poderes de regulação de testes, exames e qualificações académicas, lê-se esta definição: «Synoptic assessment A form of assessment which tests candidates’ understanding of the connections between the different elements of a subject.» Que nome tem nas universidades portuguesas este tipo de avaliação?

Inverter e reverter

Gostava de saber

      Não sei o que pensa o revisorado sobre o uso do verbo na expressão reverter (um)a situação. (Como? Revisorado não existe? Pois não, forjei-o agora por analogia com professorado [e lembram-se do genial «precariado»?]. Professorado existe em várias línguas. Professorate, em inglês. Profesorado, em espanhol. Professorat, em francês e em catalão. Professorenschaft, em alemão. A formação é igual: revisor + ado.) A avaliar, contudo, pela frequência com que a vejo em livros e jornais (ainda ontem a ouvi duas vezes na redacção do Record), não pensa nada de especial. Se entendermos reverter a situação, como parece consensual, sinónima de alterar a situação, temos um problema, pois reverter nunca significou outra coisa que não «voltar ao ponto de partida; retroceder; regressar». A acepção mais usada e conhecida de reverter é a de um lucro ou ganho se destinar a alguém ou a uma instituição. Assim, e é só um entre inúmeros exemplos, durante uma campanha da empresa de tratamento de resíduos Valorsul, foi divulgado que, por cada tonelada de resíduos plásticos recolhidos nos ecopontos em Agosto de 2008, 20 euros revertiam a favor da AMI. A ser alguma coisa, seria inverter a situação, pois inverter é que significa «mudar a ordem de; alterar». Quando vamos numa estrada e invertemos a marcha, estamos a voltar-nos em sentido contrário. É disso que precisamos.

Tradução: «morale» (II)

Desmoralização

      Alguém o convenceu, seja lá quem for, «of its [weekly colloquium] potential value for boosting the morale of the staff». Não sei se teve dúvidas, mas o tradutor entendeu que era «do seu potencial valor para manter elevada a moral do pessoal». Já aqui o escrevi várias vezes: o facto de em inglês haver duas palavras diferentes, moral e morale, devia levar os tradutores a reflectir na língua de chegada. Em português, a primeira será traduzível por «a moral» e a segunda por «o moral». E mais (há sempre mais): «manter elevado» não é exactamente o mesmo que «elevar», não é assim?

Verbo «colmatar» no futebolês

Contraíram o (péssimo) hábito

      Também tenho notado que na imprensa desportiva os jornalistas têm ultimamente recorrido ao verbo colmatar (de cujo moderno uso já aqui tinha falado) de uma forma ainda mais elástica. Agora, colmatam-se não apenas falhas, mas também lesões, erros, ausências, etc. Isto quando muitos dicionários ainda não registam mais do que as acepções de «atulhar; atupir» e «tapar (brecha)». É só esperar até ver algumas ou todas as acepções registadas nos dicionários, como aconteceu com o verbo lesionar.



Verbo «contrair» no futebolês

Contraíram o (mau) hábito

Só recentemente, dado o seu uso constante na imprensa desportiva, os dicionários da língua portuguesa editados em Portugal passaram a acolher o verbo (considerado pelos mais puristas completamente desnecessário) lesionar. Esta parece ser hoje uma questão pacífica. Ultimamente, contudo, tenho vindo a reparar que os jornalistas desportivos abraçaram outra tábua de salvação: o verbo contrair. Agora, os desportistas, e sobretudo os futebolistas, contraem tudo e mais alguma coisa. Ontem, um «extremo de 20 anos contraiu um problema muscular no derradeiro treino antes da partida para Telavive, deixando assim uma vaga no ataque». Mas eu não deixei. «Contrair uma lesão» vá que não vá; «contrair um problema» já me parece preguiça mental dos jornalistas.

Tradução: «off-label»


Quase muito bom


      A propósito do problema ocorrido no Hospital de Santa Maria com o uso do medicamento Avastin, ouvi duas vezes na Antena 1 na semana passada que o fármaco estava a ser administrado «off-label». Assim, sem qualquer explicação. Só para entendidos. Nos jornais, a prática foi diferente. «Como é que um medicamento indicado para uma doença pode ser usado para tratar outra? Esse outro uso chama-se off-label. Antes da sua introdução no mercado, cada fármaco é submetido a ensaios clínicos, em condições muito controladas, nos quais se provam no ser humano a sua segurança e eficácia. Quando as entidades responsáveis pelos medicamentos aprovam a sua prescrição para uma certa doença, os médicos podem decidir usá-lo para outras, com base na sua experiência e na da comunidade médica internacional» («O que é o off-label?», T. F., Público, 24.07.2009, p. 8). «É um alerta sobre uma situação que conhecemos desde o princípio: que o fármaco, à semelhança de muitos outros em quase todas as áreas médicas, tem sido utilizado off label [para indicações clínicas diferentes das autorizadas]», afirmou ao Expresso o presidente da Comissão de Farmácia e Terapêutica do Hospital de Santa Maria, Germano do Carmo («Hospitais são lugares perigosos», Cristina Bernardo Silva e Joana Pereira Bastos, Expresso, 25.07.2009, p. 4). «Segundo Florindo Esperancinha, que continua a defender o medicamento pela sua “elevada eficácia a salvar milhões de doentes da cegueira em todo o mundo”, tanto o Avastin como o Lucentis não têm indicação terapêutica para tratar a retinopatia diabética, sendo que este último está apenas indicado para terapia da degeneração macular da idade. Ou seja, os dois estavam a ter uma prescrição off-label, fora da sua indicação específica, o que, relembra, é uma prática comum em todas as especialidades, em todo o mundo» («Suspensão do ‘Avastin’ afecta 20 mil doentes», Carla Aguiar, Diário de Notícias, 26.07.2009, p. 16). Na página na Internet da RTP, ensaiou-se uma verdadeira tradução e não apenas uma explicação: «O uso de medicamentos “off-label” (extra-bula), como os administrados no Hospital Santa Maria para tratamentos oftalmológicos, apesar de serem autorizados para o cancro, é “legal”, “muito frequente” e permite “salvar vidas”, disse à Lusa um especialista.» Por ser apenas uma palavra (que na realidade se deverá grafar extrabula, pois o prefixo extra- apenas se liga por hífen ao elemento seguinte quando este tem vida à parte e começa por vogal, h, r, ou s), agrada-me a solução da RTP. Muito melhor do que esta: «O uso “off-label” de medicamentos na medicina é uma prática que se consolida cada vez mais. Mas o que é “uso off-label”? Uma tradução objectiva seria o “Uso Não-Indicado Em Bula”.» Mesmo no ProZ, é sugerida mais uma explicação do que um termo português: «Off-Label use (Utilização em indicações não aprovadas).»

Actualização em 28.07.2009

      Estranhamente, no Correio da Manhã ainda estão a tentar encontrar a tradução, e a tentativa não é das melhores: «O bevacizumab não tem autorização para o tratamento oftalmológico, mas os médicos alegam “ser o mais eficaz” e é normal na melhor prática clínica usar medicamentos sem autorização (“off label”)» («Considerado eficaz», texto de apoio a «Cegos voltam ao bloco operatório», Cristina Serra, Correio da Manhã, 26.07.2009, p. 16).

Actualização em 3.08.2009

      A imprensa vai ensaiando outras formas de explicar o que significa off-label: «Neste caso, em ambos os fármacos [Lucentis e Avastin], é um uso que não está especificado na sua bula (uso off-label)» («Hospital de Santa Maria sem seguro para indemnizar doentes», Mariana Oliveira, Público, 30.07.2009, p. 10).

26.7.09

História e estória

Uma palermice?


      «Ao burro associam-se muitas estórias e, não raras vezes, qualidades pouco abonatórias» («Com o burro por companhia», Patrícia Carvalho, Público/P2, 25.07.2009, p. 8). José Neves Henriques, que lembrou que no português medieval se escrevia historia, estoria, istoria, não teve pruridos em escrever: «É uma palermice, porque, até agora, nunca confundimos os vários significados de história.» Este estudioso da língua recorreu a uma comparação para se perceber melhor a sua argumentação: «Seria ridículo começarmos, por exemplo, a empregar homem para indicar o ser humano em geral, isto é, a espécie humana, a humanidade; e omem, para designar qualquer ser humano do sexo masculino, como por exemplo em “aquele omem que está ali”, “o omem (= marido) da Joana”, “sanitários para omens”, etc.» Isto porque no português medieval, quando a ortografia ainda não estava fixada, se escrevia indiferentemente homem, omé, omee (com til no primeiro e).

Ortografia: «osteomuscular»

É da doença

Foi preciso ter sido diagnosticada ao futebolista Carlos Saleiro, avançado do Sporting, para sabermos (falo por mim, claro) da existência da doença de Osgood-Schlatter. O problema é que a generalidade dos jornalistas afirma ser uma doença «osteo-muscular». Não é. É uma doença osteomuscular (também musculoesquelético anda por aí quase sempre incorrectamente grafada). Tenho a certeza que Robert Bayley Osgood (1873–1956), cirurgião ortopedista americano, e Carl B. Schlatter (1864–1934), cirurgião suíço, não se importariam que os jornalistas portugueses escrevessem assim sobre a tumefacção dolorosa da tuberosidade tibial, que ocorre durante o período de crescimento, mas eu importo-me. E de que maneira.

Sobre «monção»

Lá o admitem

«Pensa-se que a palavra monsoon — que se refere ao vento sazonal — vem da portuguesa monção. Por sua vez, o termo partiu do mausaim, da língua árabe, que significa “estação de peregrinação a Meca”» («A chuva bendita que inunda a Índia», Hugo Coelho, Diário de Notícias/DN Gente, 25.07.2009, p. 20). É mesmo o que os dicionários registam: que monsoon, que terá entrado na língua inglesa no século XVI, vem do português «monção», através do neerlandês monssoen. E «monção», registam igualmente os dicionários, vem do árabe mausaim, que significa, e é isto que interessa, não «estação de peregrinação a Meca», mas estação adequada para viajar, para peregrinar, etc.

Nas Canárias


Agentes infiltrados

«O maior telescópio do mundo foi ontem inaugurado, contava o PÚBLICO de ontem. Fica nas (embora haja quem diga em) Canárias num sítio que tem o nome de um programa de televisão a que nenhum ser humano gostaria de assistir: Roque de los Muchachos. […] Afinal, já quero ir às (ou a) Canárias, nem que seja só para ver o céu nocturno da Madeira» («Noites da Madeira», Miguel Esteves Cardoso, Público, 25.07.2009, p. 39). Miguel Esteves Cardoso tem ouvido (e lido) bem o que mal se escreve. Só pode ser por influência do espanhol, influência agora mais sentida, pois vejo anunciadas nas montras das agências de viagens (algumas espanholas) estadas em hotéis «em Canárias». Qualquer dia vão começar a dizer «em Filipinas», «em Açores», e por aí fora. Um carnaval.

Uso de estrangeirismo. «Outing»

Sair dos eixos

O jornalista João Pedro Henriques entrevistou para o Diário de Notícias o antropólogo Miguel Vale de Almeida a propósito da sua inclusão na lista de Lisboa do PS às eleições legislativas. Sendo o entrevistado não apenas homossexual assumido como também activista da LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), talvez tenha parecido ao jornalista que era inevitável que as perguntas visassem este aspecto. Pergunta o jornalista: «Noutros países há pessoas na política que assumem abertamente a sua condição homossexual. Cá, não. Pensa ter algum papel incentivador?» Responde Miguel Vale de Almeida: «Se isso acontecer, fantástico. Mas não é o meu objectivo. Não vou incentivar políticos a “sair do armário”. Isso só deve acontecer como assunção de uma posição política, contra a discriminação.» O jornalista insiste, e agora numa versão piorada: «Disse que não irá incentivar o outing de políticos?» «Exacto», responde o entrevistado, «não vou, nem pensar nisso! Isto não é um clube!» («“Não vou incentivar políticos a sair do armário”», João Pedro Henriques, Diário de Notícias, 25.07.2009, p. 64). Vejam bem: o entrevistado usa uma expressão, sair do armário, ainda que não entendida por toda a gente, largamente divulgada. O jornalista saiu-se com um vocábulo estrangeiro — outing («the public disclosure of the covert homosexuality of a prominent person especially by homosexual activists», in Merriam-Webster). Descuida-se, e ainda é agraciado com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural.

25.7.09

Major/minor

Alguém que explique

      «He», seja lá quem for, «majored in chemistry.» Será judicioso (porque fácil é) traduzirmos «concluiu um major em Química»? Na frase, major é em inglês um verbo intransitivo (mas decerto que ainda se recordam da aluna que se quer «mestrar») que significa «to pursue an academic major», sendo que este substantivo significa «an academic subject chosen as a field of specialization». O modelo major/minor, que é muito comum nas universidades norte-americanas, foi, ao que pude apurar, instituído em Portugal pela primeira vez pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É ainda, mesmo após a sua adopção pelo Processo de Bolonha, matéria estranha mesmo aos estudantes universitários. A minha interpretação é que o major constitui a formação de base conferida pela licenciatura, ao passo que o minor é uma especialização. Contudo, o Dicionário Inglês-Português da Porto Editora dá a seguinte tradução de major: «Estados Unidos da América, Canadá, Austrália (curso universitário) especialidade, especialização». Alguém que explique.

Acento diferencial


Mais um passo

Talvez esteja na hora de o Record dar mais um passo na adopção do Acordo Ortográfico de 1990 e deixar de usar o acento diferencial na forma verbal «pára». Ao que parece, os leitores — e o Record é, sabiam?, o título desportivo com maiores vendas, 67 mil exemplares/dia — assimilaram bem as novas regras já introduzidas. Seria então: «Ninguém para Cardozo».

Confusões mitológicas

Multiforme, o erro

      Um erro é um erro, mas há erros e erros. «In Greek mithology Proteus […].» O tradutor não pensou duas vezes: «Na mitologia grega, Prometeu […].» Nada de especial, dizem? «Protean thus came to mean variable, versatile, taking many forms.» E ele: «Prometeico acabou assim por significar variável, versátil, multiforme.» Prometeu era um titã, filho de Jápeto e de Climene, uma das muitas filhas de Oceano, e irmão de Epimeteu e de Atlas. E como é que Prometeu foi admitido no Olimpo? Pois precisamente por ter ajudado Júpiter na luta contra os titãs. Depois de várias peripécias, entre as quais ter roubado do céu o fogo sagrado, que estava à guarda de Vulcano, Júpiter castigou-o, mas voltou a ser readmitido no Olimpo. Proteu, por sua vez, era o deus marinho da mitologia grega, filho de Poseidon e de Tétis. Tinha o dom da profecia e o poder de se metamorfosear para escapar aos perseguidores ou a quem o buscava para saber os acontecimentos futuros. Em inglês, Proteus, Prometheus. Protean traduz-se por próteo, adjectivo que significa «que muda com facilidade de forma ou de opinião». Não sendo conhecimento do dia-a-dia, o tradutor devia ter tido o cuidado de verificar a que correspondiam os termos ingleses.

«A distância»

Sem crase

      «Em Portugal, funcionará, sobretudo, como um “complemento do ensino” ministrado nas escolas, esclarece a coordenadora científica do projecto, Ana Martins, que contará com a colaboração de dez linguístas [sic]» («Projecto permitirá aprender Português à distância», Paula Torres de Carvalho, Público, 21.07.2009, p. 9.
      Não sendo a determinação necessária, deverá escrever-se «projecto permitirá aprender Português a distância», tanto mais que neste tipo de construção não ocorre a possível ambiguidade verificada na locução «ensino a distância». Quanto ao indevido acento agudo em «linguista», não é erro tão raro. Mais natural seria que os falantes deixassem de acentuar o vocábulo «altruísta», já que a generalidade (F. V. Peixoto da Fonseca, do Ciberdúvidas, vê o fenómeno de uma forma mais atenuada, dizendo que em francês altruiste, étimo do nosso vocábulo, se pronuncia ui como ditongo crescente, e que, entre nós, «também há quem faça o mesmo») pronuncia a sequência /ui/ como ditongo crescente, apesar do acento agudo do i.

Tradução: «convener»

Talvez sirva

É muito raro ver-se a palavra inglesa convener (ou convenor) traduzida. E se ela é usada… No mundo anglo-saxónico, é aquele a quem, em certas instituições, compete fixar o dia das reuniões e enviar as convocatórias. Não teremos mesmo um termo que corresponda? Em documentos brasileiros, já tenho visto a palavra traduzida por «coordenador», pois este é a pessoa que organiza e orienta um projecto ou actividade de grupo. Aceitam-se sugestões.

Ratificar e rectificar

Reduzir à perfeição

      «A Constituição espanhola, no artigo referente aos estatutos das comunidades — rectificados pelas Cortes e posteriormente promulgados pelo Rei —, a organização institucional autonómica tem por base a Assembleia Legislativa, eleita por sufrágio universal, com recurso a um sistema de representação proporcional, um Conselho de Governo com funções executivas e administrativas e um presidente eleito pela Assembleia, entre os seus membros, nomeado pelo Rei» («Jardim inspira-se no modelo das autonomias espanholas», Lília Bernardes, Diário de Notícias, 24.07.2009, p. 10). Sim, é um erro que se vê há muito. Os estudantes de Direito a partir do 3.º ano já não caem nele. Os jornalistas, porém, continuam pela vida fora a confundir ratificar com rectificar. Rectificar significa corrigir, emendar: «Serafim Riem, da direcção do Fapas, associação que produziu e vendeu as plantas, para além de rectificar que “o preço não foi de 5000, mas de 6000 por árvore”, considerou tais quantias “ainda muito baixas”, já que, “para qualquer instituição pública ou privada, o Fapas está, actualmente, a vender árvores cujos preços podem ascender aos 12000”» (in CETEMPúblico). Ratificar significa validar, confirmar, comprovar algo que foi proposto: «O orçamento rectificativo foi ratificado ontem pela Assembleia da República.» Já em 1824, na Orthographia ou Arte de Escrever e Pronunciar com Acerto a Lingua Portugueza, para Uso do Excellentissimo Duque de Lafoens, de João de Moraes Madureira Feijó, se podia ler: «Ratificar, e réctificar, saõ muito diversos ; o primeiro he confirmar o que está dicto ; o segundo reduzir alguma cousa á perfeiçaõ , e regras de arte» (p. 414).

24.7.09

Léxico: «tintado»


Gosto

      Já tinha visto o aviso antes, mas ontem reparei melhor quando utilizei uma caixa Multibanco. «Não aceite notas tintadas.» Espantoso. Não sei quem concebeu a frase, mas ter recorrido ao adjectivo/particípio tintadas revela leitura dos clássicos, não é? Também se podia dizer entintadas, mas «tintadas» ainda é mais sugestiva da palavra «tinta». E espantoso porque podiam, proclives como os portugueses são a usar estrangeirismos, e ainda mais estes burocratas engravatados, ter usado uma palavra inglesa. Infelizmente, no blogue Cliente Bancário vê-se sempre a palavra envolta em aspas, talvez para não sujar as que estão à volta. É neste blogue que ficamos a saber que, se acaso nos vier ter às mãos uma nota tintada, nos deveremos dirigir «ao Banco de Portugal ou às autoridades policiais, com vista ao esclarecimento da sua origem e à realização de análises laboratoriais, diligências de que cujo resultado dependerá a possibilidade, ou impossibilidade, do seu reembolso». Nem todos os dicionários registam o verbo tintar nem o substantivo tintagem.

Predecessor e antecessor

Seria demasiado bom

      «Desde 1979, recordou o patriarca [ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I], que os seus predecessores pedem ao Vaticano que tome essa decisão» («Patriarca ortodoxo quer Igreja Católica e protestantes todos juntos na Europa», António Marujo, Público, 22.07.2009, p. 13).
      Predecessores, gostei. É raro os jornalistas usarem esta palavra. Em vez dela, usam, muitas vezes inadequadamente, antecessor(es). Ao indivíduo que ocupou algum posto imediatamente antes de nós damos a designação de antecessor; todos os demais que a este haviam precedido no mesmo posto são nossos predecessores. Sigo quase à letra o que sobre a matéria, e fundamentado na etimologia, diz D. Francisco de S. Luiz na 3.ª edição, de 1838, do Ensaio sobre Alguns Sinónimos da Língua Portuguesa, e recordo-me vagamente de Camilo abordar a questão numa das suas obras. Só que temos um problema: Bartolomeu I exerce as funções de patriarca de Constantinopla desde 1991, e antes dele, entre 1972 e 1991, foi patriarca Demétrio I. Logo, tomando como referência o ano de 1979, Bartolomeu I não teve predecessores, mas um — um — antecessor. Se, em vez de o pedido ter sido feito em 1979, tivesse sido feito em 1929, por exemplo, é que se poderia falar com propriedade de predecessores, pois além do antecessor, Demétrio I (1972–1991), Bartolomeu teria tido, por ordem regressiva, os predecessores Atenágoras (1948–1972), Máximo V (1946–1948), Benjamim I (1936–1946), Fócio II (1929–1935) e Basílio III (1925–1929). Claro que, dependendo do mês em que o pedido tivesse sido feito, era preciso averiguar se este último, Basílio III, também o tinha sido. Percebido? Por sorte, deixámos de usar o vocábulo decessor, ou a trapalhada seria bem maior…

23.7.09

Chico-esperto/chicos-espertos

É o que me parece


      «É a autodefesa do autoplágio: a partir dos 40 anos, a memória já não era (que nós nos lembremos) o que era e, para que nenhum chico-esperto apareça a fazer nhá-nhá-nhá, tapamos o rabo com um simples “Já não é a primeira vez que digo que…”» («Como eu já disse (I)», Miguel Esteves Cardoso, Público, 17.03.2009, p. 47). «“Estes tipos são o português vernáculo que a gente encontra e, curiosamente, não é só nas camadas mais populares. Há chico-espertos em todas as classes”, comentava José Pedro Gomes, poucas horas antes de entrar em cena» («Toni e Zezé despedem-se da treta... até um dia destes», Maria João Caetano, Diário de Notícias, 22.07.2009, p. 45). Um consultor do Ciberdúvidas, Luís Filipe Cunha, diz que «de acordo com o Dicionário da Academia das Ciências, ed. Verbo, o único de entre os dicionários consultados onde a expressão aparece, a grafia correcta é chico esperto, sem hífen». Lancemos mão da analogia. Maria-rapaz, por exemplo, em que, em vez de um nome e um adjectivo, temos dois nomes. Leva hífen. Não descortino nenhuma razão (e espero que o consultor não entenda a referência ao dicionário da Academia das Ciências como um argumento de autoridade) para não se escrever chico-esperto. Já quanto à forma do plural, concordo com o referido consultor: «Tratando-se de uma estrutura formada por um nome e por um adjectivo, ambas as formas pluralizam, já que devem concordar em género e número», dando origem a chicos-espertos.

Grandes empresas


Para a próxima

O grupo Sonae, que tem um grupo de trabalho sobre a gripe A em cada empresa, também se preocupa com os clientes dos seus supermercados e hipermercados, e por isso distribui em cada caixa o folheto da imagem. Louvável, sem dúvida. Os responsáveis esqueceram-se foi, lamentavelmente, de entregar a redacção do texto a quem dominasse a língua portuguesa. E desconhecem certamente que existem revisores. Esperávamos mais, Sr. engenheiro.

«Descrição» e «discrição»

Erro ou gralha que seja

«O mundo inteiro via o momento pela televisão, através de uma câmara instalada no exterior do veículo, transformando em imagens as primeiras discrições de paisagens feitas, horas antes, por Buzz Aldrin logo após o momento em que o ML [Módulo Lunar] tocara no solo» («“Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade”», Nuno Galopim, Diário de Notícias, 20.07.2009, p. 28). O erro pode ter acontecido por falsa assimilação do significado dos parónimos descrição e discrição. O que acontece é que, como muitas vezes, ao pretender escrever-se a primeira, se escreve a segunda, há como que uma defesa. Para evitar o erro, o falante deve ter em conta que o vocábulo discrições, no plural, é de rara ocorrência (e aqui pode encontrar a razão). Por outro lado, deve saber-se que se escreve à discrição (ver aqui).

Ortografia: «Cidade Judiciária»


Pensem nisso

«O ministro da Justiça inaugura hoje a nova cidade judiciária de Lisboa, no Parque das Nações, um complexo que concentra cerca de 2400 magistrados e funcionários, distribuídos por 11 edifícios que alojam 21 tribunais e serviços, custando mensalmente ao Estado um milhão de euros em rendas» («Juízes recusam participar hoje na inauguração da cidade judiciária», Diário de Notícias, 22.07.2009, p. 23). Bem, os senhores jornalistas têm de começar a pensar em grafar a locução com maiúsculas: Cidade Judiciária. Não escrevem sempre Cidade Universitária? Qual é a diferença? Tanto mais que já escrevem Campus de Justiça de Lisboa.

Actualização em 23.09.2009

Na legislação, a opção parece estar tomada: a locução campus de justiça ainda hoje surgiu no texto de duas resoluções (95 e 96) do Conselho de Ministros: «O novo conceito de campus de justiça, que o programa propugna, visa concentrar num local os diversos serviços até agora dispersos, permitindo espaços de justiça com funcionalidade e qualidade urbanística, melhores índices de produtividade em consequência de uma maior rapidez de comunicação, maior eficiência dos serviços, melhores condições de trabalho e melhores condições para o utente.»

Tradução: «clearing»

Parabéns

«“Os primeiros trabalhos já tiveram início e consistem no clearing [limpeza] dos terrenos onde se virá a implementar o campo de golfe de Roncão”, diz fonte da SAIP [Sociedade Alentejana de Investimentos e Participações], acrescentando que a empreitada foi adjudicada a uma empresa local, estando em curso as obras de terraplenagem e o transplante de oliveiras que “irão ser reutilizadas noutras áreas” do projecto» («Roquette inicia investimento de mil milhões em Alqueva», Luís Maneta, Diário de Notícias, 22.07.2009, p. 32). O que tenho a dizer neste 2500.º post (obrigado, obrigado) é que o jornalista procedeu bem (ou mais ou menos): traduziu o termo estrangeiro que a «fonte» usou ridiculamente. É verdade que se diz limpeza de terreno, mas o jornalista devia ter optado por «desbravamento», por exemplo, pois é mais imediatamente perceptível. E reparem no título: «Roquette inicia investimento de mil milhões em Alqueva». Em Alqueva.

Matizes, tons e sombras

Nem por sombras

      «Considerar as cores uma a uma (ou matiz a matiz) é um prazer que só se abre a quem se fecha à luz da inteligência» («Castanho como tudo», Miguel Esteves Cardoso, Público, 22.07.2009, p. 31). Se quisesse ser tecnicamente chato, Miguel Esteves Cardoso teria escrito: «Considerar as cores uma a uma (ou matiz a matiz, sombra a sombra, tom a tom) é um prazer que só se abre a quem se fecha à luz da inteligência.» À cor aclarada pela adição de branco dá-se o nome de matiz (o que se diz gradação de cor). À cor escurecida pela adição de preto chama-se sombra e à cor adicionada de cinzento dá-se a designação de tom (daí que se afirme que o tom é o grau de intensidade de uma cor). Na linguagem comum, já se deram conta, tom e matiz são sinónimos, e quanto à sombra, sabe bem agora no Verão.

22.7.09

Capitular e render-se (I)


Vencido, mas como?


      «[…] shortly after Japan surrendered […]». «[…] pouco tempo depois da capitulação japonesa […]». A questão é: o Japão rendeu-se ou capitulou? É que capitular é render-se mediante certas condições. O Japão fê-lo? Render-se é entregar-se, submeter-se, dar-se por vencido. O Japão fê-lo? Por outro lado, sem ser um argumento decisivo, recorde-se que em inglês existe o verbo to capitulate. Capitular, em todo o caso, subsume-se no significado (é hipónimo) de render-se, pelo que, na dúvida, seria mais correcto optar pelo último, por mais genérico.


Sobre «subeditor»

Basta ver

«Descoberto no ano passado por François Gallix, estudioso das obras de Greene, no Centro de Humanidades na Universidade do Texas, o texto marca um ano importante na vida do escritor, pois, segundo o seu biógrafo, foi quando se converteu ao catolicismo, começou a trabalhar como subeditor no jornal londrino Times e decidiu tornar-se um escritor de sucesso» («Obra inacabada de Graham Greene vai ser completada por leitores», Filipa Moreno, Público, 21.07.2009, p. 40). Alguém, ignorante mas arrogante, me dizia recentemente que o termo «subeditor» não é muito usado entre nós. Bem, basta abrir os olhos e ver a ficha técnica de várias publicações. O que se pode, aproveitando a oportunidade, é dizer duas coisas: que nem todos os dicionários, espantosamente, registam o termo e que surge muitas vezes mal grafado (talvez por influência do inglês sub-editor), com hífen: «sub-editor».

Ortografia: «alto-responsável»

Vamos uniformizar

«E contou como os atentados foram planeados por Zaki-ur-Rehman, um alto-responsável do grupo paquistanês Lashlar-e-Toiba (LeT), como foi recrutado e passou meses em campos de treino para aprender a disparar, e como, tal como outros terroristas, aprendeu hindi com um homem chamado Abu Jindal» («Suspeito de Bombaim declara-se culpado», Francisca Gorjão Henriques, Público, 21.07.2009, p. 17). Alto-responsável, à semelhança de alto-comissário e alto-representante. Nem todos os jornais estão a grafar assim: «O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, rejeitou o programa de governo do Hamas, afirmou ontem um alto responsável palestiniano» (Correio da Manhã, 12.3.2006, p. 40).

Sobre «lapidação»

Mas quais diamantes?!

«Um eventual regresso ao país teria como resultado ser acusada de adultério, logo, ser condenada à flagelação e à morte por lapidação, de acordo com a Charia (lei islâmica)» («Londres dá asilo a princesa saudita», L. R., Diário de Notícias, 21.07.2009, p. 25). Sim, as pessoas vão aprendendo, mas como o termo «lapidação» é comummente usado noutra área completamente diferente, prefiro a redacção de Jorge Heitor, no Público: «Uma vez aqui, solicitou asilo, para não vir a ser chicoteada nem lapidada (apedrejada até à morte)» («Princesa saudita recebeu asilo no Reino Unido para não ser morta à pedrada», Jorge Heitor, Público, 21.07.2009, p. 19).

Léxico: «tubo-ladrão»

O bom ladrão

«Desidério Silva [presidente da Câmara Municipal de Albufeira] salientou que, apesar de a ruptura se ter verificado ao domingo, “foi possível mobilizar cinco limpa-fossas, a trabalhar em permanência, impedindo que o efluente chegasse à praia”. Por outro lado, acrescentou, na zona existe um [sic] “um tubo-ladrão, que desagua a cerca de 50 metros da costa — uma válvula de escape para o mar”» («Praias de Olhos de Água e Maria Luísa, no concelho de Albufeira, interditas a banhos», Idálio Revês, Público, 21.07.2009, p. 27). As banheiras, os lavatórios, os aquários, os frigoríficos, por exemplo, costumam ter um tubo-ladrão. É como que uma válvula de escape, a que se deu este nome bem sugestivo, que os dicionários ignoram. A designação também é usada correntemente no Brasil.

21.7.09

Verbo «haver»

Acontece

      A emissão de anteontem do programa A História Devida, na Antena 1, teve como convidado o escritor e guionista João Tordo, de que já aqui falei duas vezes. E devia ter falado uma terceira, para elogiar a humildade com que uma vez o ouvi falar do trabalho do editor (embora se tenha esquecido dos revisores). E fez bem em dizer bem, pois se escrever como fala, editores e revisores têm muito que fazer. Anteontem, lá escapou um «haverão»: «[…] porque acho que haverão poucos portugueses que tenham tentado fazer este curso em Nova Iorque de Escrita Criativa […]». Se tivesse sido a empregada aqui do condomínio (a tal que dizia ter uma dor «asiática»), com a 4.ª classe mal tirada, não era de surpreender — mas um escritor? Curiosamente, a história, ambientada em Nova Iorque, de João Tordo que foi lida no início do programa tem como personagem um «afro-americano grande e desajeitado».

20.7.09

Léxico: «andragogia»

Não havia necessidade

«As sessões constituíram um acto raro e positivo de andragogia política. Este termo apela para a educação do ser humano adulto, uma vez que pedagogia etimologicamente se refira apenas a crianças» («Andragogia das jotas», D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, Correio da Manhã, 17.07.2009, p. 2). Embora tenha sido um professor alemão, Alexander Kapp, a forjar em 1833 o termo, foi o pedagogo (ou andragogo?) norte-americano Malcom Knowles (1913−1997) quem divulgou o termo andragogia (a partir de andros, «homem», e agogus, «conduzir, guiar; educar»).

Plural de «sabe-tudo»

Essa é que é essa

Um leitor, afirmando que nem nos dicionários (para sermos precisos, o Dicionário Houaiss — mas é dos poucos — regista-a, dizendo-a invariável) nem na Internet encontra solução, quer saber qual o plural de sabe-tudo. Ainda acrescenta: «E porque será que neste caso os dicionários se calam?» Não há-de ser, suponho, pela complexidade da questão. Sendo composto por duas palavras invariáveis (verbo + pronome indefinido), nenhum elemento pluraliza. Logo, o sabe-tudo/os sabe-tudo. Em inglês diz-se know-it-all ou know-all; em espanhol, sabelotodo (que, pese embora pluralizar em sabelotodos, é comummente usado como sendo invariável).

Sobre «afro-americano»

Imagem: http://www.boston.com/

Comparemos



      «Nascido a 19 de Outubro de 1936, numa família de 17 filhos, na América de Franklin D. Roosevelt, o afro-americano serviu duas vezes na Marinha antes de terminar o curso no Seminário Teológico Baptista de Nashville» («O conselheiro rebelde de Martin Luther King», Diário de Notícias, 26.12.2008, p. 37). «Num segundo, este afro-americano casado, com dois filhos, viu-se pai de 14 crianças» («Ele acredita que é o pai, ela nega», Diário de Notícias, 26.02.2009, p. 25). «Afro-americana vai liderar saúde pública nos EUA» (Diário de Notícias, 14.07.2009, p. 52). Na tradução de livros não me surpreende o uso do termo «afro-americano», mas já é diferente na imprensa. Foi o termo que a vaga do politicamente correcto impôs nos Estados Unidos. É uma convenção a tentar substituir outra convenção. Tenho é sérias dúvidas de que todos os leitores, em Portugal, entendam exactamente do que se trata. De resto, como definem o termo os dicionários de língua portuguesa? O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora afirma que «afro-americano» é o «que diz respeito a americano de ascendência africana». Deve ser por isso que Maria Teresa Thierstein Simões-Ferreira Heinz, mulher do ex-candidato democrata à Casa Branca John Kerry, por ter nascido em Moçambique, se definiu como afro-americana. Veja-se este texto meu sobre o uso equívoco da palavra «africano».

19.7.09

Cores (II)

Por ordem

Amorado adj. Da cor da amora.
Anil m. A cor azul.│adj. De cor azul; da cor do anil.
Calibado adj. Diz-se do animal ou de qualquer das suas partes que seja da cor do aço.
Cárdeo adj. De cor de cardo, lívida, arroxeada.
Cróceo adj. Poét. Que tem cor de açafrão; amarelo, dourado.
Garço adj. De cor verde-azulada; esverdeado.
Glauco adj. Verde-mar; esverdeado.
Gris m. A cor cinzenta.
Groselha adj. Que tem a cor da groselha, vermelho-acerejado.
Gualdo m. Amarelo, amarelado. O m. q. gualde.
Havana adj. Castanho-claro.
Isabel adj. De cor amarelo-esbranquiçada.
Miniano adj. De cor vermelha muito viva.
Múrice adj. Poét. Púrpura.
Níveo adj. Que tem o aspecto, a brancura da neve.
Ostrino adj. Que tem a cor ou a natureza da púrpura.
Pagiço adj. Diz-se de uma cor parecida com a da palha seca.
Rom m. Espécie de tinta amarela.
Rosura f. Cor-de-rosa, cor rosada.
Ruivo adj. Amarelo-avermelhado; vermelho-escuro; louro-avermelhado.
Rútilo adj. Poét. Afogueado; da cor do ouro muito viva.
Zabelo adj. Tirante a amarelo-claro.
Zinzolino adj. e m. Designativo e designação de uma cor roxa, tirante a vermelho.

Cores (I)

Quase catálogo

«Não senti raspas de contrariedade quando se aproximou um rapaz, todo de amarelo-torrado, que deduzi ser o namoradinho em exercício» (Primeiro as Senhoras, Mário Zambujal, p. 30).
«Os seus quadros, cuja boina original era castanha, usam agora uma de cor verde-seco» («Forças Armadas portuguesas têm quatro forças especiais», Diário de Notícias, 18.4.2008, p. 7).
«Caminhamos seis horas por trilhos intocados. Atravessamos pontes suspensas, a mais alta a setenta metros do rio, um rio azul-cobalto, o maior e mais caudaloso do Nepal, que serpenteia o vale e agarra a cordilheira num longo abraço» («Nos Himalaias com João Garcia», Tiago Salazar, Notícias Sábado, 9.05.2009, p. 19).
«A noite estava macia e o céu era de um escuro azul-safira sobre os reflexos opalinos do mar de Cascais que marulhava preguiçosamente» (Morte no Retrovisor, Vasco Graça Moura, pp. 46-47).
«Aproximando o cigarro da chama, ela pôs em concha as mãos de dedos longos e unhas pintadas de um vermelho-vivo» (Morte no Retrovisor, Vasco Graça Moura, p. 56).
«Marcou a gola alta com uma larga pincelada vermelho-escura» (Morte no Retrovisor, Vasco Graça Moura, p. 238).
«São grenás, já o dissemos, e têm bordadas a coroa e uma pomba branca» («Espírito Santo. O Divino sai à rua — e as melhores roupas também», Sandra Silva Costa, Público/P2, 7.06.2009, p. 5).
«Uma colcha azul-damasco com franjas, a primeira fronha e a roupa que usou em bebé, bordados pela mãe, testemunham a infância» («Espólio antecipa regresso de Jorge de Sena», João Céu e Silva, Diário de Notícias, 18.06.2009, p. 29).
«Não daqueles em que o mamilo é como uma teta, mas sim grande, rosa-acastanhado-claro, que é tão excitante» (O Animal Moribundo, Philip Roth. 3.ª edição. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues e revisão de Manuela V. C. Gomes da Silva. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2008, p. 32).
«Parava à frente de uma pessoa, pequena como era, com as pernas ligeiramente afastadas, especada, cheia de sardas, o cabelo louro curto, sem qualquer maquilhagem a não ser bâton vermelho-vivo, e o seu grande sorriso confessional: é isto que eu sou, é isto que eu faço, se não gostas, paciência» (O Animal Moribundo, Philip Roth. 3.ª edição. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues e revisão de Manuela V. C. Gomes da Silva. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2008, p. 48).
«Carolyn ainda era bonita, com feições radiantemente grandes, embora, por baixo dos olhos cinzento-claros, as órbitas a puxar para o grande parecessem diáfanas e fatigadas, não tanto, achei, por causa da sua insónia crónica, mas sim devido àquela mistura de decepções que não é rara nas biografias de mulheres profissionais bem-sucedidas na casa dos quarenta, cujas refeições nocturnas lhes são com frequência entregues à porta dos seus apartamentos em Manhattan, numa embalagem de plástico, por um imigrante» (O Animal Moribundo, Philip Roth. 3.ª edição. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues e revisão de Manuela V. C. Gomes da Silva. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2008, p. 47).
«Dissimulado entre a erva alta, bem camuflado na sua pelagem castanho-acinzentada, um coelho-bravo pasta calmamente, mas sempre atento aos predadores» («A fuga aos ziguezagues da extinção», Mariana Correia de Barros, Diário de Notícias, 26.07.2009, p. 60).

18.7.09

Género de «Festschrift»


Sem ofensa

Caro M. C.: tanto quanto tenho visto, o mais habitual é atribuir-se o género masculino à palavra alemã «Festschrift»: o Festschrift. À letra significa, como saberá, «publicação de celebração». É uma obra, geralmente editada por instituições do ensino superior, em que se homenageia um académico reputado. Logo, deveria ser «a Festschrift». Ou, mais rebuscadamente, terá em mente, quem assim escreve, a tradução «documento escrito comemorativo»? Ou nada disto — saindo o que calha?

«O suficiente»

Pormenores

      «Também são sólidos o suficiente para afastarem a maioria dos visitantes, amigos e aliados» (Quente, Plano e Cheio, Thomas L. Friedman. Tradução de Carla Pedro e revisão de Marta Pereira da Silva e Almerinda Romeira. Lisboa: Actual Editora, 2008, p. 12). Embora, sem se distinguir pela vernaculidade, actualmente seja forma admitida (e o que não o é?), não é a mim que me apanham a escrever assim. Prefiro sempre: «Também são suficientemente sólidos para afastarem a maioria dos visitantes, amigos e aliados.»

17.7.09

Iliteracia

Imagem: http://www.diariodetrasosmontes.com/

E esse ensino primário?

No noticiário das 9 da manhã na Antena 1, Eduarda Maio falou da inauguração da ponte internacional de Quintanilha, sobre o rio Maçãs, em Bragança, prevista para hoje. No local estava o repórter Virgílio Cavaco, que, depois de ter dito que o atraso na abertura da ponte se deveu ao facto de os acessos do lado espanhol só agora terem sido concluídos, disse «como tu referistes». Ainda que uma tratadora de cães fale assim, vá que não vá — mas um jornalista? Como disse a propósito dos professores, é uma absoluta, completa e irremissível vergonha. Na televisão, na escola, na rádio… estamos bem entregues.

Relativas cortadoras (III)

Indesculpável

«Tinawi disse que, apesar de discordar de algumas das colunas de opinião que escrevi, em especial sobre o Médio Oriente, tinha lido um texto que gostava particularmente e que ainda guardava consigo» (Quente, Plano e Cheio, Thomas L. Friedman. Tradução de Carla Pedro e revisão de Marta Pereira da Silva e Almerinda Romeira. Lisboa: Actual Editora, 2008, p. 11). Já aqui abordei duas vezes a questão das relativas cortadoras. Se é, de alguma maneira, compreensível na oralidade, é indesculpável na escrita, e ainda mais numa obra em que trabalharam duas revisoras.

16.7.09

Como se fala na televisão

Não é assim?

Já aqui dei conta, várias vezes, dos erros em séries infantis e programas de animação. Ultimamente, tornou-se-me evidente um facto: já ninguém pergunta, como qualquer português medianamente alfabetizado fazia outrora, se «está bem» ou «não é assim», mas se está «certo», tradução atamancada do «right» inglês. Nas dobragens de desenhos animados, ouve-se todos os dias. De maneira que, se não estamos todos, como o provedor do Público, risivelmente, queria, a dizer OK, não andamos longe disso. Ainda ontem estive toda a manhã com 30 crianças e ouvi várias vezes o «certo?». Daqui a pouco mais de uma dúzia de anos, alguns deles poderão ser professores, e o que vão ensinar?

Tradução: «boutique»

E agora?

«O Maréchal de Cour de Frederico disse que a boutique inteira se considerava sob a protecção de Grumbkow» (Frederico, o Grande, Nancy Mitford. Lisboa: Edições Cotovia/Os Livros da Raposa, 2008. Tradução de Cecília Rego Pinheiro, p. 47). Perante o contexto, até o leitor mais inexperiente e falho de cultura sabe que não se trata de uma loja ou armazém. Contudo, uma consulta ao Dicionário Francês-Português da Porto Editora não o deixa com maiores certezas, pois todas as acepções deste vocábulo andam à volta deste núcleo. Uma consulta a um dicionário unilingue diz-nos que boutique significa, em particular, o «groupe restreint pratiquant l’esprit de corps dans les affaires qui le concernent» (in TLFI).

«A cargo de»

Parecido, sem dúvida

«Apesar do ódio e do desprezo que Frederico Guilherme nutria pelos súbditos de sua Majestade Cristã, deixou o filho pequeno ao encargo de dois protestantes franceses» (Frederico, o Grande, Nancy Mitford. Lisboa: Edições Cotovia/Os Livros da Raposa, 2008. Tradução de Cecília Rego Pinheiro, p. 22). Vejo este erro com alguma frequência. Na realidade, a locução preposicional é a cargo de, que significa «à responsabilidade de, por conta de». Em espanhol também se diz «a cargo de», e em francês, «être à la charge de». «Los tribunales han dado la puntilla definitiva a la denuncia del Grupo Popular de Elche por el supuesto pago de facturas de actos electorales del PSPV a cargo de las arcas municipales» («La juez no ve delito en las facturas que pagó Avilés», Cristina Medina, El País, 16.07.2009). «La première phase correspond aux rites de guérison de la possession (cf. supra). L’initiée est à la charge de sa marraine et sous la férule d’un ngan» (Le peuple du fleuve : sociologie de la conversion chez les Douala, René Bureau. Paris: Édtions Karthala, 1996, p. 66).

Sobre «espoletar»


Deixem lá a espoleta

Com os seus espoletares e despoletares, muitos tradutores parecem militares frustrados. Porque é que não usam simplesmente um bom, e mais adequado, sinónimo? Na maioria das circunstâncias, prefiro àqueles os verbos desencadear ou provocar. «Era o terror daqueles que tinham de lidar com ele; fúrias incontroláveis eram espoletadas por comentários aparentemente inofensivos ou até por olhares» (Frederico, o Grande, Nancy Mitford. Lisboa: Edições Cotovia/Os Livros da Raposa, 2008. Tradução de Cecília Rego Pinheiro, p. 20). Como é que, ao fim de tantos anos de debate sobre a questão, falantes com tais credenciais ainda andam a patinar?

15.7.09

Tradução: «tabagie»

Fumo de palha

«O seu horário [de Frederico I da Prússia] era o de Luís XIV até à hora do sarau em Versalhes, altura em que ele retornava aos modos germânicos e mantinha uma tabagie, fechando-se numa pequena sala fumarenta para beber cerveja, com alguns amigos fumadores de cachimbo» (Frederico, o Grande, Nancy Mitford. Lisboa: Edições Cotovia/Os Livros da Raposa, 2008. Tradução de Cecília Rego Pinheiro, p. 17). Vejam como o Dicionário Francês-Português da Porto Editora traduz «tabagie»: «sala cheia de fumo». Parece-me que foram buscar o sentido pejorativo do vocábulo («Endroit, pièce où l’on fume beaucoup, où la fumée et l’odeur du tabac stagnent», in TLFI). Em português dir-se-ia mais adequadamente sala de fumo. Como se sabe, «fumo» também significa «tabaco».

Léxico: «porfiria»

Uma doença de reis

Ignoro se a probabilidade de o leitor conhecer alguma mulher de nome Porfíria é maior do que a de conhecer a doença porfiria, mas Leonard Mlodinow saberia. Fiquei recentemente a saber da sua existência numa biografia: «Infelizmente, o Rei Frederico Guilherme [1620−1688], em quem havia qualidades excelentes e que tanto fez pelo seu país, estava doente. Tal como Jorge III, tinha uma doença hereditária, predominante entre os descendentes de Maria, Rainha dos Escoceses, que leva a vítima à loucura com sofrimentos prolongados e terríveis. É actualmente conhecida como porfiria e consiste numa desordem do metabolismo; os sintomas são algumas das mais horríveis desgraças com as quais a humanidade é atormentada — gota, hemorróidas, enxaquecas, abcessos e furúnculos, e também dores de estômago aterradoras e inexplicáveis» (Frederico, o Grande, Nancy Mitford. Lisboa: Edições Cotovia/Os Livros da Raposa, 2008. Tradução de Cecília Rego Pinheiro, p. 20). Em francês diz-se porphyrie e em inglês, porphyria.

«Uigures» e «uígures»

Uigures e iogurtes

O Diário de Notícias grafa sempre, e creio que é a única publicação a fazê-lo, com acento agudo a palavra uígures. «A polícia chinesa matou ontem dois uígures em Urumqui, capital do Xinjiang, onde na semana passada pelo menos 180 pessoas morreram devido à violência étnica nesta província, a maior da China» («Polícia mata dois uígures na capital do Xinjiang», Diário de Notícias, 14.07.2009, p. 22). Todas as outras, a começar pelo Público, grafam sem acento: «Quatro uigures de Guantánamo transferidos para as Bermudas» (D. F., Público, 12.06.2009, p. 17). Também os dicionários grafam sem acento. O Diário de Notícias grafa uigur para o singular, e não uigure, como regista o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. É um termo que entrou recentemente no dia-a-dia noticioso, pelo que é natural que haja algumas confusões, como a do ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, que numa entrevista à France Info, na semana passada, confundiu os uígures (ouïgours, em francês) com iogurtes (yoghourts, em francês).

14.7.09

«Às próprias custas»

João Marcelino, é consigo


      Pela primeira página do Diário de Notícias de hoje, ficámos a saber que os agentes da PSP e os militares da GNR estão a comprar coletes e algemas a prestações. Eis um excerto: «Os agentes da PSP e os militares da GNR estão a comprar, às próprias custas, equipamento básico de protecção pessoal que não é garantido pelos comandos.» Se erros deste calibre já vêm para a primeira página, o descalabro atingiu este outrora jornal de referência.



Verbo «convir»

Isto diz-lhe respeito, Raul

No programa de informação Este Sábado, na Antena 1, com Rosário Lira, o jornalista Raul Vaz, a propósito dos novos eurodeputados portugueses, disse: «Alguns prometem voltar cedo se o resultado das eleições for aquele que mais convir.» O verbo convir (e os verbos avir, convir, desavir, entrevir, intervir, provir, sobrevir…) conjuga-se como o verbo vir. Logo, o futuro imperfeito do conjuntivo é convier (convier, convieres, convier, conviermos, convierdes, convierem). Se todos temos de ter cuidado com a forma como escrevemos e falamos, muito mais cuidado terá de ter um jornalista. Espero que a dúvida não tenha que ver com o modo. O modo conjuntivo indica a eventualidade e a possibilidade, o que se adequa ao desconhecimento que se tem do futuro. Neste caso, o resultado das eleições. O erro talvez advenha do facto de o futuro imperfeito do conjuntivo e o infinitivo impessoal dos verbos irregulares, e este é-o, terem formas diferentes, ao contrário do que sucede com os verbos regulares, que têm formas idênticas naqueles tempos.

13.7.09

Sobre o Ocidente

Evidentemente

O filósofo Desidério Murcho perguntou anteontem se era só ele «ou o leitor também considera uma tolice que se fale sistematicamente do ocidente (às vezes até com maiúscula!), quando na verdade se quer falar apenas (de partes) da Europa e dos Estados Unidos da América, esquecendo-se 1) a África, que tem países mais ocidentais do que muitos países europeus, e 2) o Japão, que lá por estar no oriente é mais parecido com a Europa e os Estados Unidos do que muitos países africanos? Não seria melhor deixar de usar um termo geográfico quando temos em mente uma classificação política e económica e social e cultural?» («Tento na língua», 11.07.2009, aqui).
Decerto que a pergunta também é para mim, porque sou leitor do filósofo, e por isso vou responder. Não, não acho. E muito me apraz que não tenha depreciado desta vez a insuficiência da língua portuguesa. É que esta questão do Ocidente (ah, sim, com maiúscula, evidentemente) diz respeito a muitas línguas. Ocidente, no primeiro desvio que sofreu em relação à acepção puramente geográfica, começou por significar, por metonímia, a civilização e os povos que habitavam os países da Europa situados no Oeste do continente. Passou depois, em política internacional, a designar-se por Ocidente o conjunto que abrange os países capitalistas da Europa Ocidental e os Estados Unidos, por oposição aos países do Leste europeu, de economia socialista e à China Popular. Por vezes, surpreendemos o significado de Estado-membro da NATO (ou OTAN, se quiserem). A propósito de regime político, o Cambridge Advanced Learner’s Dictionary já apresenta a seguinte definição: «the West (COUNTRIES) noun [S] North America, those countries in Europe which did not have communist governments before the 1990s, and some other parts of the world». Ponha Desidério Murcho nestas some other parts of the world o Japão e demais países que se lhe afigurem ficar bem ali. E também deixo uma pergunta: e íamos substituir Ocidente por que termo menos controverso e adequado?

«Xixi» e «chichi»

Eu faço chichi


      «É como poder fazer xixi ou falar português depois de muito tempo. […] Falta fazer o elogio do sedentarismo. É o indesporto radical do nosso tempo. Define-nos. Delicia-nos. Sentamo-nos e sentimo-nos bem. Sentemo-nos pois» («O elogio do sentar», Miguel Esteves Cardoso, Público, 16.06.2009, p. 31). Alguns etimologistas de meia-tigela dir-nos-ão (lembrem-se dos Urales) que em espanhol é que é chichi — e é, mas em espanhol chichi é «vulva». Carlos Marinheiro, no Ciberdúvidas, assegura que «em Portugal escreve-se chichi, quando se trata de urina. No Brasil prefere-se, na mesma situação, xixi». Joseph M. Piel, nos Novos Ensaios de Etimologia Portuguesa, também escreve «chichi» e diz que é termo infantil. Em francês também se diz faire du (des) chichi(s), só que é outra coisa: é fazer cerimónia, ter modos afectados. E às pessoas afectadas, que em Portugal não temos, os Franceses (que alguns jornalistas, num assomo de parvoíce, dizem «gauleses») chamam gens à chichi. Curiosamente, os etimologistas franceses dão como étimo provável o redobro do radical onomatopaico tchitch, que exprime a ideia de pequenez.

Urais ou Urales?


Ah, isso!...

      «Os líderes das quatro maiores economias emergentes vão dar sinal ao mundo da vontade crescente de se fazerem ouvir em uníssono, numa reunião ao mais alto nível hoje na cidade de Iekaterinburg, nos Urales russos» («Brasil, Rússia, Índia e China vão afinar a uma só voz nos Urales», Dulce Furtado, Público, 16.06.2009, p. 16). Este título do Público foi vilipendiado, de uma forma geral com frases cheias de erros, em toda a Internet. Contudo, esta variante, Urales, vai-se encontrando por aqui e por ali: «Já ninguém tem ou cultiva um sentimento de pertença, ao mesmo tempo afectiva e intelectual, a essa realidade matricial que se estende do Atlântico aos Urales» («Euroanalfabetos», Vasco Graça Moura, Diário de Notícias, 13.05.2009). Em relação a esta matéria, concordo com F. V. Peixoto da Fonseca, que escreveu: «A forma correcta é Urales, embora, pelo menos antigamente (quando eu era muito novo) correntemente se usasse Urais, como ainda prefere o Prof. José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa. Assentando a palavra no singular Ural (através do francês Oural, de origem russa), sou de opinião que o plural não deve ser Urais, por não se tratar de termo vernáculo, como tal e tais, qual e quais, animal e animais, etc., com plural etimológico, em que o -l- latino intervocálico caiu por evolução fonética, visto estar entre vogais.»
      Já não me lembro como se escrevia na Vida Soviética (que eu lia com tanta avidez como lia a revista da John Deere, fiquei especialista teórico em forragens, ou as obras e adaptações de Adolfo Simões Müller), mas ia jurar que era Urales, o que seria natural, e foi a forma que sempre preferi. Argumentar-se que em espanhol é que é Urales é um completo disparate. Diria antes que também é a forma usada em espanhol, o que é diferente.

Actualização em 15.05.2010


      «Eram conhecidos pela palavra siberiana chaman e, no século XVIII, foram encontrados pelos exploradores por toda a parte desde os Urales a Tchuktchi, no Extremo Oriente» (A Filha de Rasputine, Robert Alexander. Tradução de Óscar Mascarenhas. Lisboa: Círculo de Leitores, 2007, p. 232).

«Incrementar de» e outras coisas

A queda dum anjo

      Um leitor pede a minha opinião sobre duas frases na mais recente crónica do Nuno Crato no jornal Expresso. Ei-las: «Dissemos ainda que a expressão ‘passeio aleatório’ designa um conceito científico importante, cujo seu estudo tem ocupado matemáticos, físicos e outros cientistas.» «Em cada momento, a variável X — a posição do cavalheiro — é incrementada ou subtraída de uma unidade, conforme dê um passo em frente ou a trás.»
      A construção «cujo seu» não tem quase nada que se lhe aponte — só que o pronome relativo cujo seguido do pronome possessivo adjunto seu é assaz anómalo. E de notório sabor arcaizante. Nuno Crato parece Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda a falar no Parlamento. «Um dia, porém, quando elle saia da festividade de S. Sebastião, cujo mordomo era, deteve-se no adro, onde o rodearam os mais graudos lavradores da sua freguezia e das visinhas.» E mais: a vírgula antes de «cujo» está incorrecta, já que a oração introduzida por este pronome, sendo inequivocamente uma relativa explicativa, não precisa de pontuação, dado o valor adjectival de «cujo».
      «Incrementada ou subtraída de» é também construção incorrecta, como já vimos aqui a propósito da construção paralela «aumentar em/de»: «Rodrigo de Sá Nogueira, na obra Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem (Lisboa: Clássica Editora, 4.ª ed., 1995, p. 65), escreve: “Outra construção condenável é: ‘aumentar em 50%’. — Leite de Vasconcelos, Lições de Filologia Portuguesa, p. 374 (2.ª ed.), diz: “b) Várias preposições: Preposição de. Erros: aumentar de um metro, e mais velho de um decénio, por aumentar um metro, e mais velho um decénio, ou um decénio mais velho; peço-lhe de vir por peço-lhe que venha…”»
      Quanto, finalmente, ao advérbio, só posso crer que foi lapso, pois que se escreve «um passo em frente ou atrás».

12.7.09

Interjeição «aha»

Aha, apanhei-vos!

      O agá não se aspira, aprendemos na escola primária. Conheci uma velhota, ex-professora de Inglês, entretanto já falecida, que pronunciava o agá do meu nome, o que desencadeava sempre em mim um sorriso prestes a rebentar em riso, que ela atribuía à minha simpatia. Ultimamente, porém, graças aos filmes, começou a usar-se a interjeição inglesa habitualmente grafada aha. «Aha, interjection, Middle English: Depending on manner of utterance, used to express surprise, pleasure, irony, derision, mockery, contempt, or triumph» (Intel Threading Building Blocks, James Reinders. Cambridge, MA: O’Reilly Media, 2007, p. 177). Sobre a pronúncia não há dúvidas: ouço sempre os falantes portugueses, que também terão aprendido, como eu, que o agá não se aspira, aspirarem o agá. Experimentem agora não ler o agá, e dir-me-ão se ainda estamos perante a mesma interjeição. Mas como se escreve em português? Vejamos: «“Como é que se chama aquela mulher que vem na minha direcção? Ora bem, vamos lá a ver… Ah, ha! SUSIE!”» (Onde Deixei os Meus Óculos?, Martha Weinman Lear. Tradução de Jorge Beleza. Porto: Porto Editora/Ideias de Ler, 2008, p. 232). «Ah, ha»? Como é que uma interjeição, aha (às vezes também grafada a-ha), se transforma, numa mitose fónico-gráfica, em duas interjeições, têm a bondade de me explicar? Só vislumbro uma solução: grafar à inglesa, pois que também pronunciamos à inglesa.

Actualização em 16.07.2009
      Eis uma tradução em que surge a interjeição: «Aha! — os livros não voam por sua livre vontade — quem os arranjou?» (Frederico, o Grande, Nancy Mitford. Tradução de Cecília Rego Pinheiro. Lisboa: Edições Cotovia/Os Livros da Raposa, 2008, p. 47).

Actualização em 16.11.2009

      E numa crónica jornalística: «A primeira resposta é: aha! O primeiro-ministro não pode querer ser uma pessoa normal (para processar jornalistas) e uma pessoa especial (para ter regras privilegiadas em escutas) ao mesmo tempo. Isso não está na lei, mas está na moral da República; ao contrário das antigas monarquias, a República não dá privilégios gratuitos; com esses privilégios tem de vir uma reserva especial de comportamento, quer ela esteja descrita na lei ou não»(«De Sócrates a Maquiavel», Rui Tavares, Público, 16.11.2009, p. 40).

Se há «tai», para quê «thai»?

Somos portugueses

      «De ascendência portuguesa [Pathorn Srikaranonda de Sequeira], é hoje director da banda pessoal do rei da Tailândia. Entre as suas obras conta-se uma oratória baseada em palavras de Camões. Nos seus planos está uma ópera em português e em ‘thai’» («Evocar ecos da História através da música», Nuno Galopim, Diário de Notícias/DN Gente, 11.07.2009, p. 9). Nuno Galopim anda há semanas a arreliar-nos (a foder-nos o juízo, talvez dissesse — diria? — Miguel Esteves Cardoso) com o «thai». Claro que, sem nunca primar pela defesa acurada do idioma pátrio, também não escreve Thailândia, como, em coerência, devia fazer. Veja o Houaiss: «tai adj.s.m. LING 1 diz-se de ou família de línguas do grupo tibeto-birmanas faladas no Sudeste Asiático (Sul da China, Laos, Tailândia e Myanmar) 1.1 diz-se de ou língua oficial da Tailândia, a mais importante desse grupo; tailandês.»